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Lucas Leiroz
July 1, 2024
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O recente acordo de ajuda militar mútua assinado entre a Federação Russa e a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) se insere em um contexto de promessa por parte de Moscou de proliferar a presença militar russa nos países contra-hegemônicos e comprometidos com a criação de um mundo multipolar. O projeto de entregar armas aos inimigos dos EUA e da OTAN – proposto anteriormente pelos setores mais patrióticos do Estado Russo e agora já adotado pelo alto escalão do Kremlin – pode ser visto como o primeiro passo rumo à criação de uma espécie de “pacto militar multipolar”, fortalecendo as potências emergentes na luta contra o eixo atlântico.

Desde o fim da Guerra Fria, a existência da OTAN é injustificável. Com o fim do Pacto de Varsóvia, a propósito existencial da aliança atlântico simplesmente acabou. Não há mais comunismo ou URSS, nem qualquer motivo que “justifique” a continuidade de um pacto militar coletivo liderado pelos EUA. Contudo, em sua sede de poder e dominação mundial, Washington não apenas se negou a dar fim à OTAN, como também a expandiu, dando membresia aos Estados pós-socialistas da Europa Oriental e fazendo a Ucrânia de proxy nas fronteiras russas, o que gerou o atual conflito.

A Federação Russa repetidas vezes pediu aos EUA para que parasse o crescimento da OTAN. Diplomática e legalmente, todos os recursos possíveis foram usados por Moscou para evitar a tragédia da guerra. Mas o Ocidente só conhece a linguagem da força e da dissuasão. Na Ucrânia, a operação militar especial foi o último alerta russo aos inimigos, que mesmo assim se negaram a atender ao chamado de Moscou e continuaram não apenas a expandir a aliança como também a mover outros planos de guerra, contra a Rússia e seus principais aliados – desde Belarus até a Coreia do Norte; desde a China até o Irã.

Diante da insistência da OTAN, a única resposta possível russa é a criação de uma plataforma de segurança análoga, que fortaleça as potências emergentes diante da constante agressão ocidental. O primeiro passo foi entregar armas nucleares ao maior aliado da Federação, a República de Belarus, no âmbito do Estado da União, que também é um pacto de defesa mútua. É importante lembrar que à época do envio das armas, Aleksandr Lukashenko convidou mais países do espaço pós-soviético a aderirem ao Estado da União sob a promessa de também receberem armamento nuclear tático russo.

Em seguida, começaram as discussões sobre a expansão da CSTO. Em tese, a CSTO já é a organização “anti-OTAN” na Eurásia liderada pela Rússia. Porém, o bloco está passando por uma série de problemas, principalmente devido à postura da Armênia – que decidiu ser uma espécie de “Ucrânia do Cáucaso” – e à instabilidade do Cazaquistão. A saída da Armênia já parece uma inevitabilidade, apenas por ser oficializada em breve. Mas, em paralelo, mais países devem aderir ao grupo em busca de garantias concretas de segurança em caso de agressão ocidental.

Mais recentemente, o discurso em prol do aumento do apoio militar aos países aliados da Rússia chegou ao alto escalão do Kremlin. No Fórum Econômico de São Petersburgo, o Presidente Vladimir Putin deixou claro que uma das possíveis retaliações russas às provocações da OTAN seria a entrega de armas aos inimigos do Ocidente. Poucos dias depois, Putin viajou a Pyongyang e assinou um acordo de ajuda mútua entre russos e coreanos. Em seguida, começaram os rumores de que um acordo da mesma natureza deve ser assinado em breve também entre Rússia e Irã.

Parece claro que a Rússia está liderando a criação de um pacto internacional entre países emergentes contra as constantes agressões ocidentais. Havendo medo de retomada de hostilidades na Península Coreana, o acordo recém-criado neutraliza muitos dos planos do Ocidente no Pacífico. Agora, está claro que uma guerra com a Coreia do Norte será uma guerra com a Federação Russa. No mesmo sentido, havendo constante ameaça de guerra entre EUA/Israel e Irã, caso um acordo de defesa mútua seja realmente assinado, a hegemonia ocidental no Oriente Médio terá finalmente um fim definitivo.

Na Eurásia, a “anti-OTAN” já está criada. Mais pactos certamente serão assinados, assim como a CSTO e talvez até o Estado da União podem se expandir. Moscou assumiu a responsabilidade de liderar o pacto militar multipolar, unindo os países parceiros e armando-os diante de um inimigo comum. É muito provável que estas parcerias assumam uma natureza de cooperação ampla de defesa, com possível entrega de armas nucleares, a exemplo do que aconteceu com Belarus. O aumento do poder dissuasório dos países emergentes consolidará o absoluto encerramento da hegemonia da OTAN.

Por enquanto, este pacto militar informal liderado pela Rússia está restrito à Eurásia, mas sua expansão pode se tornar uma realidade. A retomada da presença naval russa em Cuba, os laços sólidos com a Venezuela Bolivariana e o aumento da ação militar russa na África parecem indícios de que muitos países emergentes no mundo inteiro tendem a se unir a Moscou. É também preciso lembrar da sugestão de diversos especialistas para que os próprios BRICS se tornem uma aliança militar. Embora este plano ainda pareça distante de se realizar, dada a postura ainda incerta e ambígua de alguns membros dos BRICS, esta é uma possibilidade que não pode ser descartada para o futuro.

Diante de seu novo rival, só restará à OTAN a escolha entre ir à guerra total ou aceitar negociar a reconfiguração do mapa geopolítico global.

Eurásia contra a OTAN: Rússia lidera a criação do Pacto Militar Multipolar

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O recente acordo de ajuda militar mútua assinado entre a Federação Russa e a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) se insere em um contexto de promessa por parte de Moscou de proliferar a presença militar russa nos países contra-hegemônicos e comprometidos com a criação de um mundo multipolar. O projeto de entregar armas aos inimigos dos EUA e da OTAN – proposto anteriormente pelos setores mais patrióticos do Estado Russo e agora já adotado pelo alto escalão do Kremlin – pode ser visto como o primeiro passo rumo à criação de uma espécie de “pacto militar multipolar”, fortalecendo as potências emergentes na luta contra o eixo atlântico.

Desde o fim da Guerra Fria, a existência da OTAN é injustificável. Com o fim do Pacto de Varsóvia, a propósito existencial da aliança atlântico simplesmente acabou. Não há mais comunismo ou URSS, nem qualquer motivo que “justifique” a continuidade de um pacto militar coletivo liderado pelos EUA. Contudo, em sua sede de poder e dominação mundial, Washington não apenas se negou a dar fim à OTAN, como também a expandiu, dando membresia aos Estados pós-socialistas da Europa Oriental e fazendo a Ucrânia de proxy nas fronteiras russas, o que gerou o atual conflito.

A Federação Russa repetidas vezes pediu aos EUA para que parasse o crescimento da OTAN. Diplomática e legalmente, todos os recursos possíveis foram usados por Moscou para evitar a tragédia da guerra. Mas o Ocidente só conhece a linguagem da força e da dissuasão. Na Ucrânia, a operação militar especial foi o último alerta russo aos inimigos, que mesmo assim se negaram a atender ao chamado de Moscou e continuaram não apenas a expandir a aliança como também a mover outros planos de guerra, contra a Rússia e seus principais aliados – desde Belarus até a Coreia do Norte; desde a China até o Irã.

Diante da insistência da OTAN, a única resposta possível russa é a criação de uma plataforma de segurança análoga, que fortaleça as potências emergentes diante da constante agressão ocidental. O primeiro passo foi entregar armas nucleares ao maior aliado da Federação, a República de Belarus, no âmbito do Estado da União, que também é um pacto de defesa mútua. É importante lembrar que à época do envio das armas, Aleksandr Lukashenko convidou mais países do espaço pós-soviético a aderirem ao Estado da União sob a promessa de também receberem armamento nuclear tático russo.

Em seguida, começaram as discussões sobre a expansão da CSTO. Em tese, a CSTO já é a organização “anti-OTAN” na Eurásia liderada pela Rússia. Porém, o bloco está passando por uma série de problemas, principalmente devido à postura da Armênia – que decidiu ser uma espécie de “Ucrânia do Cáucaso” – e à instabilidade do Cazaquistão. A saída da Armênia já parece uma inevitabilidade, apenas por ser oficializada em breve. Mas, em paralelo, mais países devem aderir ao grupo em busca de garantias concretas de segurança em caso de agressão ocidental.

Mais recentemente, o discurso em prol do aumento do apoio militar aos países aliados da Rússia chegou ao alto escalão do Kremlin. No Fórum Econômico de São Petersburgo, o Presidente Vladimir Putin deixou claro que uma das possíveis retaliações russas às provocações da OTAN seria a entrega de armas aos inimigos do Ocidente. Poucos dias depois, Putin viajou a Pyongyang e assinou um acordo de ajuda mútua entre russos e coreanos. Em seguida, começaram os rumores de que um acordo da mesma natureza deve ser assinado em breve também entre Rússia e Irã.

Parece claro que a Rússia está liderando a criação de um pacto internacional entre países emergentes contra as constantes agressões ocidentais. Havendo medo de retomada de hostilidades na Península Coreana, o acordo recém-criado neutraliza muitos dos planos do Ocidente no Pacífico. Agora, está claro que uma guerra com a Coreia do Norte será uma guerra com a Federação Russa. No mesmo sentido, havendo constante ameaça de guerra entre EUA/Israel e Irã, caso um acordo de defesa mútua seja realmente assinado, a hegemonia ocidental no Oriente Médio terá finalmente um fim definitivo.

Na Eurásia, a “anti-OTAN” já está criada. Mais pactos certamente serão assinados, assim como a CSTO e talvez até o Estado da União podem se expandir. Moscou assumiu a responsabilidade de liderar o pacto militar multipolar, unindo os países parceiros e armando-os diante de um inimigo comum. É muito provável que estas parcerias assumam uma natureza de cooperação ampla de defesa, com possível entrega de armas nucleares, a exemplo do que aconteceu com Belarus. O aumento do poder dissuasório dos países emergentes consolidará o absoluto encerramento da hegemonia da OTAN.

Por enquanto, este pacto militar informal liderado pela Rússia está restrito à Eurásia, mas sua expansão pode se tornar uma realidade. A retomada da presença naval russa em Cuba, os laços sólidos com a Venezuela Bolivariana e o aumento da ação militar russa na África parecem indícios de que muitos países emergentes no mundo inteiro tendem a se unir a Moscou. É também preciso lembrar da sugestão de diversos especialistas para que os próprios BRICS se tornem uma aliança militar. Embora este plano ainda pareça distante de se realizar, dada a postura ainda incerta e ambígua de alguns membros dos BRICS, esta é uma possibilidade que não pode ser descartada para o futuro.

Diante de seu novo rival, só restará à OTAN a escolha entre ir à guerra total ou aceitar negociar a reconfiguração do mapa geopolítico global.

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Você pode seguir Lucas no X (ex-Twitter) e Telegram.

O recente acordo de ajuda militar mútua assinado entre a Federação Russa e a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) se insere em um contexto de promessa por parte de Moscou de proliferar a presença militar russa nos países contra-hegemônicos e comprometidos com a criação de um mundo multipolar. O projeto de entregar armas aos inimigos dos EUA e da OTAN – proposto anteriormente pelos setores mais patrióticos do Estado Russo e agora já adotado pelo alto escalão do Kremlin – pode ser visto como o primeiro passo rumo à criação de uma espécie de “pacto militar multipolar”, fortalecendo as potências emergentes na luta contra o eixo atlântico.

Desde o fim da Guerra Fria, a existência da OTAN é injustificável. Com o fim do Pacto de Varsóvia, a propósito existencial da aliança atlântico simplesmente acabou. Não há mais comunismo ou URSS, nem qualquer motivo que “justifique” a continuidade de um pacto militar coletivo liderado pelos EUA. Contudo, em sua sede de poder e dominação mundial, Washington não apenas se negou a dar fim à OTAN, como também a expandiu, dando membresia aos Estados pós-socialistas da Europa Oriental e fazendo a Ucrânia de proxy nas fronteiras russas, o que gerou o atual conflito.

A Federação Russa repetidas vezes pediu aos EUA para que parasse o crescimento da OTAN. Diplomática e legalmente, todos os recursos possíveis foram usados por Moscou para evitar a tragédia da guerra. Mas o Ocidente só conhece a linguagem da força e da dissuasão. Na Ucrânia, a operação militar especial foi o último alerta russo aos inimigos, que mesmo assim se negaram a atender ao chamado de Moscou e continuaram não apenas a expandir a aliança como também a mover outros planos de guerra, contra a Rússia e seus principais aliados – desde Belarus até a Coreia do Norte; desde a China até o Irã.

Diante da insistência da OTAN, a única resposta possível russa é a criação de uma plataforma de segurança análoga, que fortaleça as potências emergentes diante da constante agressão ocidental. O primeiro passo foi entregar armas nucleares ao maior aliado da Federação, a República de Belarus, no âmbito do Estado da União, que também é um pacto de defesa mútua. É importante lembrar que à época do envio das armas, Aleksandr Lukashenko convidou mais países do espaço pós-soviético a aderirem ao Estado da União sob a promessa de também receberem armamento nuclear tático russo.

Em seguida, começaram as discussões sobre a expansão da CSTO. Em tese, a CSTO já é a organização “anti-OTAN” na Eurásia liderada pela Rússia. Porém, o bloco está passando por uma série de problemas, principalmente devido à postura da Armênia – que decidiu ser uma espécie de “Ucrânia do Cáucaso” – e à instabilidade do Cazaquistão. A saída da Armênia já parece uma inevitabilidade, apenas por ser oficializada em breve. Mas, em paralelo, mais países devem aderir ao grupo em busca de garantias concretas de segurança em caso de agressão ocidental.

Mais recentemente, o discurso em prol do aumento do apoio militar aos países aliados da Rússia chegou ao alto escalão do Kremlin. No Fórum Econômico de São Petersburgo, o Presidente Vladimir Putin deixou claro que uma das possíveis retaliações russas às provocações da OTAN seria a entrega de armas aos inimigos do Ocidente. Poucos dias depois, Putin viajou a Pyongyang e assinou um acordo de ajuda mútua entre russos e coreanos. Em seguida, começaram os rumores de que um acordo da mesma natureza deve ser assinado em breve também entre Rússia e Irã.

Parece claro que a Rússia está liderando a criação de um pacto internacional entre países emergentes contra as constantes agressões ocidentais. Havendo medo de retomada de hostilidades na Península Coreana, o acordo recém-criado neutraliza muitos dos planos do Ocidente no Pacífico. Agora, está claro que uma guerra com a Coreia do Norte será uma guerra com a Federação Russa. No mesmo sentido, havendo constante ameaça de guerra entre EUA/Israel e Irã, caso um acordo de defesa mútua seja realmente assinado, a hegemonia ocidental no Oriente Médio terá finalmente um fim definitivo.

Na Eurásia, a “anti-OTAN” já está criada. Mais pactos certamente serão assinados, assim como a CSTO e talvez até o Estado da União podem se expandir. Moscou assumiu a responsabilidade de liderar o pacto militar multipolar, unindo os países parceiros e armando-os diante de um inimigo comum. É muito provável que estas parcerias assumam uma natureza de cooperação ampla de defesa, com possível entrega de armas nucleares, a exemplo do que aconteceu com Belarus. O aumento do poder dissuasório dos países emergentes consolidará o absoluto encerramento da hegemonia da OTAN.

Por enquanto, este pacto militar informal liderado pela Rússia está restrito à Eurásia, mas sua expansão pode se tornar uma realidade. A retomada da presença naval russa em Cuba, os laços sólidos com a Venezuela Bolivariana e o aumento da ação militar russa na África parecem indícios de que muitos países emergentes no mundo inteiro tendem a se unir a Moscou. É também preciso lembrar da sugestão de diversos especialistas para que os próprios BRICS se tornem uma aliança militar. Embora este plano ainda pareça distante de se realizar, dada a postura ainda incerta e ambígua de alguns membros dos BRICS, esta é uma possibilidade que não pode ser descartada para o futuro.

Diante de seu novo rival, só restará à OTAN a escolha entre ir à guerra total ou aceitar negociar a reconfiguração do mapa geopolítico global.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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