Português
Bruna Frascolla
June 14, 2024
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Assistindo ao noticiário televisivo logo após as eleições do Parlamento Europeu, podemos concluir que Descartes deu mesmo uma boa explicação para o erro. O entendimento é limitado, porque nós não dispomos de ideias claras e distintas de tudo; mas a vontade é ilimitada, não se detém às coisas que estão dentro dos limites do entendimento. Assim a vontade dá passos muito mais largos que o entendimento e daí nasce o erro. Digo isso porque tenho muito ceticismo quanto à capacidade de tanta gente (entre jornalistas e tuiteiros) entender tudo, tintim por tintim, dos partidos de dezenas de países. Por outro lado, todo jornalista televisivo, a despeito do pouco estudo ou das precárias condições intelectuais, tem muita vontade de concluir que a democracia europeia liberal vai acabar porque os eleitores europeus votaram em partidos admitidos pela democracia liberal – e não fazem nenhuma acusação de fraude. Tudo isso porque, se um ator político é contrário à imigração irrestrita, trata-se automaticamente um neonazista, sem que precisemos nos inteirar dos programas e trajetórias de cada um, nem da conjuntura de cada país.

Obviamente, esse discurso só faz sentido dentro de uma concepção muito peculiar do que seja a democracia liberal, a saber: o regime político que só elege partidos ou candidatos aprovados pela CIA. Nessa história toda, a única coisa que me espanta é que tais partidos considerados extremistas não tenham sido extintos em nome da democracia, já que é comum aqui, no quintal dos EUA, usar o judiciário para tirar do páreo as lideranças populares. Como esse expediente começou a ser usado até dentro dos EUA (vide Trump), seria natural repeti-lo na Europa. Não creio que haja nenhuma vergonha dos fantoches da CIA em sair fechando partidos pela Europa, já que o establishment midiático ocidental estava promovendo como livro político sério uma obra intitulada “O povo contra a democracia: Por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la”. O título não é irônico e o autor, Yascha Mounk, fica página após página lastimando os resultados eleitorais de outros países, como se o mundo inteiro tivesse a obrigação de votar num candidato do seu gosto.

Assim, o descontentamento da mídia ocidental com o resultado das eleições europeias de fato surpreende. Pensei em algumas explicações que não são mutuamente excludentes:

1) Longe de serem onipotentes, as elites dos EUA e da União Europeia estão tão alienadas que não conseguiram prever o crescimento dos seus inimigos;

2) O eleitorado europeu de fato escapou ao controle com a guerra econômica contra a Rússia, que jogou o custo de vida para as alturas (não precisamos nem entrar no mérito dos auxílios à Ucrânia para perceber que a guerra está sendo muito ruim para os europeus);

3) Boa parte da dita “extrema direita” é um produto feito sob medida para fantasiar de antissistema o receituário econômico mais radical do sistema. Numa palavra, é perfeitamente possível que haja um Milei para cada país na esfera de influência dos EUA.

Coisas complexas dificilmente têm uma única explicação; assim, creio que seja mais prudente explicar o crescimento da dita “extrema direita” na Europa por uma combinação dessas três. Não precisaremos dizer que nenhum dos atores condenados pelos “especialistas” televisivos presta, mas tampouco deveremos crer que a mera condenação pelos “especialistas” televisivos significa que tais atores de fato sejam antissistema. A essa altura do campeonato, a CIA já deve ter aprendido que suas campanhas midiáticas contra políticos populares têm o efeito reverso. Assim, Milei fica numa situação curiosa: embora toda a imprensa diga que ele é mau como um pica-pau, a cobertura (ou antes acobertamento) do seu governo é extremamente favorável. O truque é pegar dados fiscais e omitir dados sociais. Se as contas do governo Milei estão bem, então o governo Milei é maravilhoso, mesmo que o argentino esteja comendo menos carne e leite, e que o preço da energia tenha disparado.

Essa explicação precisa ser levada em conta, já que o próprio Milei reivindicou o sucesso eleitoral europeu como parte de um fenômeno por ele integrado, que seriam “as novas direitas”. Uma caricatura retuitada por ele colocava-o, junto com Trump e Wilders, contendo a onda do marxismo cultural. Ora, mas Trump com certeza não é igual a Milei, já que ele defende a proteção à indústria nacional e está longe de ser um ancap.

Aqui vamos à explicação número 1: as elites dos EUA e da OTAN não são onipotentes, e é normal querer demonstrar mais poder do que se tem. Assim, entre os ancaps reivindicarem as vitórias da dita “extrema direita” e as vitórias de toda a dita “extrema direita” serem dos ancaps, há uma boa distância. Quisera a CIA que Trump fosse igual a Milei!

E justamente pelo fato de as elites dos EUA e da União Europeia não serem infalíveis, é impossível que elas consigam controlar todo o eleitorado europeu e fazê-lo aceitar, de bom grado, a Agenda Verde, as sanções à Rússia e os auxílios à Ucrânia, além da imigração desenfreada. Que fazer diante dessa situação? Penso eu que, das duas, uma: ou bem empurrar o fusionismo como nova ideologia oficial e torcer para que o aceitem de bom grado, ou bem assumir o caráter autoritário e tecnocrático da democracia liberal da CIA.

O fusionismo é uma ideologia inventada nos EUA na década de 1950 por Frank Meyer e propagandeada, com o enganoso nome de “conservadorismo”, por William F. Buckley Jr. O fusionismo separa a economia da moral e funde a moral conservadora à economia liberal. Ninguém sabe como é possível um motorista de Uber ter um lar tradicional, com dona de casa e filhos, mas é muito bonito defender da boca para fora a família tradicional e, ao mesmo tempo, a desregulamentação do mercado. Pouca gente sabe hoje, mas o garoto propaganda do conservadorismo estadunidense, o ex-agente da CIA William F. Buckley Jr., era favorável à legalização das drogas, ao mesmo tempo que defendia que os conservadores não as usassem. Como o motorista de Uber e a diarista vão impedir que seus filhos usem drogas sem apoio do Estado, ninguém sabe.

O fusionismo é o wokismo de direita: considera que o Estado é um assunto para tecnocratas e que a política deve se limitar a discutir costumes. A sociedade deve discutir a moralidade do sexo anal enquanto aquilo que é propriamente legislativo deve ser tocado por “especialistas”.

É possível, porém, que o fusionismo não cole, já que nenhum político consegue viver por muito tempo à base de discussão de costumes. Ruindo a alternativa fusionista, restará ao liberalismo assumir a sua face autoritária e alegar que os europeus precisam ser tratados de um jeito ainda mais duro que os alemães em 1945. Afinal, só nazistas se recusariam a apoiar o regime de Kiev com seu batalhão Azov!

ERRATA:

No meu último artigo, baseei-me numa matéria elogiosa do jornal petista Brasil 247 para elencar Ricardo Lewandowski entre os judeus étnicos indicados ao STF pelo PT. Parece tratar-se de um erro do artigo, já que Lewandowsky, ao contrário do dito na matéria, é um sobrenome comum entre poloneses eslavos, e a mãe do ministro, uma suíça, era uma católica de sobrenome italiano.

A Europa vai abraçar o wokismo de direita?

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Assistindo ao noticiário televisivo logo após as eleições do Parlamento Europeu, podemos concluir que Descartes deu mesmo uma boa explicação para o erro. O entendimento é limitado, porque nós não dispomos de ideias claras e distintas de tudo; mas a vontade é ilimitada, não se detém às coisas que estão dentro dos limites do entendimento. Assim a vontade dá passos muito mais largos que o entendimento e daí nasce o erro. Digo isso porque tenho muito ceticismo quanto à capacidade de tanta gente (entre jornalistas e tuiteiros) entender tudo, tintim por tintim, dos partidos de dezenas de países. Por outro lado, todo jornalista televisivo, a despeito do pouco estudo ou das precárias condições intelectuais, tem muita vontade de concluir que a democracia europeia liberal vai acabar porque os eleitores europeus votaram em partidos admitidos pela democracia liberal – e não fazem nenhuma acusação de fraude. Tudo isso porque, se um ator político é contrário à imigração irrestrita, trata-se automaticamente um neonazista, sem que precisemos nos inteirar dos programas e trajetórias de cada um, nem da conjuntura de cada país.

Obviamente, esse discurso só faz sentido dentro de uma concepção muito peculiar do que seja a democracia liberal, a saber: o regime político que só elege partidos ou candidatos aprovados pela CIA. Nessa história toda, a única coisa que me espanta é que tais partidos considerados extremistas não tenham sido extintos em nome da democracia, já que é comum aqui, no quintal dos EUA, usar o judiciário para tirar do páreo as lideranças populares. Como esse expediente começou a ser usado até dentro dos EUA (vide Trump), seria natural repeti-lo na Europa. Não creio que haja nenhuma vergonha dos fantoches da CIA em sair fechando partidos pela Europa, já que o establishment midiático ocidental estava promovendo como livro político sério uma obra intitulada “O povo contra a democracia: Por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la”. O título não é irônico e o autor, Yascha Mounk, fica página após página lastimando os resultados eleitorais de outros países, como se o mundo inteiro tivesse a obrigação de votar num candidato do seu gosto.

Assim, o descontentamento da mídia ocidental com o resultado das eleições europeias de fato surpreende. Pensei em algumas explicações que não são mutuamente excludentes:

1) Longe de serem onipotentes, as elites dos EUA e da União Europeia estão tão alienadas que não conseguiram prever o crescimento dos seus inimigos;

2) O eleitorado europeu de fato escapou ao controle com a guerra econômica contra a Rússia, que jogou o custo de vida para as alturas (não precisamos nem entrar no mérito dos auxílios à Ucrânia para perceber que a guerra está sendo muito ruim para os europeus);

3) Boa parte da dita “extrema direita” é um produto feito sob medida para fantasiar de antissistema o receituário econômico mais radical do sistema. Numa palavra, é perfeitamente possível que haja um Milei para cada país na esfera de influência dos EUA.

Coisas complexas dificilmente têm uma única explicação; assim, creio que seja mais prudente explicar o crescimento da dita “extrema direita” na Europa por uma combinação dessas três. Não precisaremos dizer que nenhum dos atores condenados pelos “especialistas” televisivos presta, mas tampouco deveremos crer que a mera condenação pelos “especialistas” televisivos significa que tais atores de fato sejam antissistema. A essa altura do campeonato, a CIA já deve ter aprendido que suas campanhas midiáticas contra políticos populares têm o efeito reverso. Assim, Milei fica numa situação curiosa: embora toda a imprensa diga que ele é mau como um pica-pau, a cobertura (ou antes acobertamento) do seu governo é extremamente favorável. O truque é pegar dados fiscais e omitir dados sociais. Se as contas do governo Milei estão bem, então o governo Milei é maravilhoso, mesmo que o argentino esteja comendo menos carne e leite, e que o preço da energia tenha disparado.

Essa explicação precisa ser levada em conta, já que o próprio Milei reivindicou o sucesso eleitoral europeu como parte de um fenômeno por ele integrado, que seriam “as novas direitas”. Uma caricatura retuitada por ele colocava-o, junto com Trump e Wilders, contendo a onda do marxismo cultural. Ora, mas Trump com certeza não é igual a Milei, já que ele defende a proteção à indústria nacional e está longe de ser um ancap.

Aqui vamos à explicação número 1: as elites dos EUA e da OTAN não são onipotentes, e é normal querer demonstrar mais poder do que se tem. Assim, entre os ancaps reivindicarem as vitórias da dita “extrema direita” e as vitórias de toda a dita “extrema direita” serem dos ancaps, há uma boa distância. Quisera a CIA que Trump fosse igual a Milei!

E justamente pelo fato de as elites dos EUA e da União Europeia não serem infalíveis, é impossível que elas consigam controlar todo o eleitorado europeu e fazê-lo aceitar, de bom grado, a Agenda Verde, as sanções à Rússia e os auxílios à Ucrânia, além da imigração desenfreada. Que fazer diante dessa situação? Penso eu que, das duas, uma: ou bem empurrar o fusionismo como nova ideologia oficial e torcer para que o aceitem de bom grado, ou bem assumir o caráter autoritário e tecnocrático da democracia liberal da CIA.

O fusionismo é uma ideologia inventada nos EUA na década de 1950 por Frank Meyer e propagandeada, com o enganoso nome de “conservadorismo”, por William F. Buckley Jr. O fusionismo separa a economia da moral e funde a moral conservadora à economia liberal. Ninguém sabe como é possível um motorista de Uber ter um lar tradicional, com dona de casa e filhos, mas é muito bonito defender da boca para fora a família tradicional e, ao mesmo tempo, a desregulamentação do mercado. Pouca gente sabe hoje, mas o garoto propaganda do conservadorismo estadunidense, o ex-agente da CIA William F. Buckley Jr., era favorável à legalização das drogas, ao mesmo tempo que defendia que os conservadores não as usassem. Como o motorista de Uber e a diarista vão impedir que seus filhos usem drogas sem apoio do Estado, ninguém sabe.

O fusionismo é o wokismo de direita: considera que o Estado é um assunto para tecnocratas e que a política deve se limitar a discutir costumes. A sociedade deve discutir a moralidade do sexo anal enquanto aquilo que é propriamente legislativo deve ser tocado por “especialistas”.

É possível, porém, que o fusionismo não cole, já que nenhum político consegue viver por muito tempo à base de discussão de costumes. Ruindo a alternativa fusionista, restará ao liberalismo assumir a sua face autoritária e alegar que os europeus precisam ser tratados de um jeito ainda mais duro que os alemães em 1945. Afinal, só nazistas se recusariam a apoiar o regime de Kiev com seu batalhão Azov!

ERRATA:

No meu último artigo, baseei-me numa matéria elogiosa do jornal petista Brasil 247 para elencar Ricardo Lewandowski entre os judeus étnicos indicados ao STF pelo PT. Parece tratar-se de um erro do artigo, já que Lewandowsky, ao contrário do dito na matéria, é um sobrenome comum entre poloneses eslavos, e a mãe do ministro, uma suíça, era uma católica de sobrenome italiano.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Assistindo ao noticiário televisivo logo após as eleições do Parlamento Europeu, podemos concluir que Descartes deu mesmo uma boa explicação para o erro. O entendimento é limitado, porque nós não dispomos de ideias claras e distintas de tudo; mas a vontade é ilimitada, não se detém às coisas que estão dentro dos limites do entendimento. Assim a vontade dá passos muito mais largos que o entendimento e daí nasce o erro. Digo isso porque tenho muito ceticismo quanto à capacidade de tanta gente (entre jornalistas e tuiteiros) entender tudo, tintim por tintim, dos partidos de dezenas de países. Por outro lado, todo jornalista televisivo, a despeito do pouco estudo ou das precárias condições intelectuais, tem muita vontade de concluir que a democracia europeia liberal vai acabar porque os eleitores europeus votaram em partidos admitidos pela democracia liberal – e não fazem nenhuma acusação de fraude. Tudo isso porque, se um ator político é contrário à imigração irrestrita, trata-se automaticamente um neonazista, sem que precisemos nos inteirar dos programas e trajetórias de cada um, nem da conjuntura de cada país.

Obviamente, esse discurso só faz sentido dentro de uma concepção muito peculiar do que seja a democracia liberal, a saber: o regime político que só elege partidos ou candidatos aprovados pela CIA. Nessa história toda, a única coisa que me espanta é que tais partidos considerados extremistas não tenham sido extintos em nome da democracia, já que é comum aqui, no quintal dos EUA, usar o judiciário para tirar do páreo as lideranças populares. Como esse expediente começou a ser usado até dentro dos EUA (vide Trump), seria natural repeti-lo na Europa. Não creio que haja nenhuma vergonha dos fantoches da CIA em sair fechando partidos pela Europa, já que o establishment midiático ocidental estava promovendo como livro político sério uma obra intitulada “O povo contra a democracia: Por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la”. O título não é irônico e o autor, Yascha Mounk, fica página após página lastimando os resultados eleitorais de outros países, como se o mundo inteiro tivesse a obrigação de votar num candidato do seu gosto.

Assim, o descontentamento da mídia ocidental com o resultado das eleições europeias de fato surpreende. Pensei em algumas explicações que não são mutuamente excludentes:

1) Longe de serem onipotentes, as elites dos EUA e da União Europeia estão tão alienadas que não conseguiram prever o crescimento dos seus inimigos;

2) O eleitorado europeu de fato escapou ao controle com a guerra econômica contra a Rússia, que jogou o custo de vida para as alturas (não precisamos nem entrar no mérito dos auxílios à Ucrânia para perceber que a guerra está sendo muito ruim para os europeus);

3) Boa parte da dita “extrema direita” é um produto feito sob medida para fantasiar de antissistema o receituário econômico mais radical do sistema. Numa palavra, é perfeitamente possível que haja um Milei para cada país na esfera de influência dos EUA.

Coisas complexas dificilmente têm uma única explicação; assim, creio que seja mais prudente explicar o crescimento da dita “extrema direita” na Europa por uma combinação dessas três. Não precisaremos dizer que nenhum dos atores condenados pelos “especialistas” televisivos presta, mas tampouco deveremos crer que a mera condenação pelos “especialistas” televisivos significa que tais atores de fato sejam antissistema. A essa altura do campeonato, a CIA já deve ter aprendido que suas campanhas midiáticas contra políticos populares têm o efeito reverso. Assim, Milei fica numa situação curiosa: embora toda a imprensa diga que ele é mau como um pica-pau, a cobertura (ou antes acobertamento) do seu governo é extremamente favorável. O truque é pegar dados fiscais e omitir dados sociais. Se as contas do governo Milei estão bem, então o governo Milei é maravilhoso, mesmo que o argentino esteja comendo menos carne e leite, e que o preço da energia tenha disparado.

Essa explicação precisa ser levada em conta, já que o próprio Milei reivindicou o sucesso eleitoral europeu como parte de um fenômeno por ele integrado, que seriam “as novas direitas”. Uma caricatura retuitada por ele colocava-o, junto com Trump e Wilders, contendo a onda do marxismo cultural. Ora, mas Trump com certeza não é igual a Milei, já que ele defende a proteção à indústria nacional e está longe de ser um ancap.

Aqui vamos à explicação número 1: as elites dos EUA e da OTAN não são onipotentes, e é normal querer demonstrar mais poder do que se tem. Assim, entre os ancaps reivindicarem as vitórias da dita “extrema direita” e as vitórias de toda a dita “extrema direita” serem dos ancaps, há uma boa distância. Quisera a CIA que Trump fosse igual a Milei!

E justamente pelo fato de as elites dos EUA e da União Europeia não serem infalíveis, é impossível que elas consigam controlar todo o eleitorado europeu e fazê-lo aceitar, de bom grado, a Agenda Verde, as sanções à Rússia e os auxílios à Ucrânia, além da imigração desenfreada. Que fazer diante dessa situação? Penso eu que, das duas, uma: ou bem empurrar o fusionismo como nova ideologia oficial e torcer para que o aceitem de bom grado, ou bem assumir o caráter autoritário e tecnocrático da democracia liberal da CIA.

O fusionismo é uma ideologia inventada nos EUA na década de 1950 por Frank Meyer e propagandeada, com o enganoso nome de “conservadorismo”, por William F. Buckley Jr. O fusionismo separa a economia da moral e funde a moral conservadora à economia liberal. Ninguém sabe como é possível um motorista de Uber ter um lar tradicional, com dona de casa e filhos, mas é muito bonito defender da boca para fora a família tradicional e, ao mesmo tempo, a desregulamentação do mercado. Pouca gente sabe hoje, mas o garoto propaganda do conservadorismo estadunidense, o ex-agente da CIA William F. Buckley Jr., era favorável à legalização das drogas, ao mesmo tempo que defendia que os conservadores não as usassem. Como o motorista de Uber e a diarista vão impedir que seus filhos usem drogas sem apoio do Estado, ninguém sabe.

O fusionismo é o wokismo de direita: considera que o Estado é um assunto para tecnocratas e que a política deve se limitar a discutir costumes. A sociedade deve discutir a moralidade do sexo anal enquanto aquilo que é propriamente legislativo deve ser tocado por “especialistas”.

É possível, porém, que o fusionismo não cole, já que nenhum político consegue viver por muito tempo à base de discussão de costumes. Ruindo a alternativa fusionista, restará ao liberalismo assumir a sua face autoritária e alegar que os europeus precisam ser tratados de um jeito ainda mais duro que os alemães em 1945. Afinal, só nazistas se recusariam a apoiar o regime de Kiev com seu batalhão Azov!

ERRATA:

No meu último artigo, baseei-me numa matéria elogiosa do jornal petista Brasil 247 para elencar Ricardo Lewandowski entre os judeus étnicos indicados ao STF pelo PT. Parece tratar-se de um erro do artigo, já que Lewandowsky, ao contrário do dito na matéria, é um sobrenome comum entre poloneses eslavos, e a mãe do ministro, uma suíça, era uma católica de sobrenome italiano.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

See also

December 18, 2024

See also

December 18, 2024
The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.