Português
Hugo Dionísio
January 8, 2024
© Photo: SCF

A partir de 2008, data em que Putin avisa para as intenções da NATO na Ucrânia, na reunião da NATO de Bucareste, inicia-se toda uma fase final de afundamento da economia europeia que tantos, tão inconsciente, como demencialmente celebram.

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Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A Casa Branca e os órgãos de comunicação social corporativa esforçaram-se por propagar a notícia, segundo a qual a República Popular da Coreia (aka Coreia do Norte) teria fornecido à Rússia, mísseis e lançadores de um sistema similar ao Iskander, de curto alcance, que o Kremlin teria usado para bombardear a Ucrânia.

Como sempre, nestas coisas, o discurso de Washington enferma sempre de uma falácia originária: nós podemos, os outros não; nós fazemos, mas nós podemos; nós apontamos, mas não nos apontem a nós; porque nós somos a nação indispensável, os líderes do “mundo livre”. Contudo, bem espremidas as declarações de John Kirby (assistente do Secretário de Estado da Defesa dos EUA) e constatamos que é deixado de fora, o que realmente importa e, o que não é importante – o suposto fornecimento de armas de um país a outro –, é transmitido comos e de um pecado mortal se tratasse.

Como em tudo o que Washington diz, cabe ao intérprete tentar perceber, não o que é literalmente exprimido, mas o que não o é. E o que é omitido nas palavras de Kirby é o que realmente importa.

Todos sabemos que os EUA não se pouparam a esforços para isolar, bloquear, embargar e agredir a República Popular da Coreia e o seu povo. A integração da RPDC no âmbito do Trade With The Enemy Act de 1917 remonta a 1950, ano em que se iniciou a guerra da Coreia. De lá para cá, a RPDC cometeu o pecado de sobreviver à guerra e de proteger a sua soberania. Tendo passado por dificuldades absolutamente indescritíveis, provocadas, aproveitadas e agravadas por Washington, mesmo assim, e contra tudo e contra todos (quase), a RPDC pode, não apenas, orgulhar-se de ter protegido a sua soberania perante o ataque hegemónico, como sobreviver o tempo suficiente para assistir ao nascimento do mundo multipolar e, consequentemente, ao aproveitamento das contradições que a estratégia americana de manutenção da sua hegemonia, propiciam.

Se a euforia sancionatória promovida contra a Rússia, pelo ocidente colectivo, teve o condão fazer abrir os olhos e muitos russos para as reais intenções em causa, promoveu ainda uma realidade segundo a qual este país tem tudo para sair mais forte. Para já, em 2023 vai crescer mais do que a zona Euro.

Se, para a RPDC, a tentativa de isolamento da Federação Russa acabou em oportunidade de fuga a uma certa marginalidade, imposta pelo poder hegemónico, outros países não deixaram, também, de ver esta ruptura como uma oportunidade valiosa: o Irão, aproveitou para reforçar as suas forças armadas, capacidades aeroespaciais, logísticas e até energéticas; Cuba que encontra na Rússia um paceiro económico hoje mais disponível em relação às imposições que antes tinha de cumprir em matéria de embargo económico dos EUA à ilha caribenha; África, antes dependente das “parcerias” neocoloniais europeias, pôde encontrar na Rússia um apoio complementar ao que a China já vinha fornecendo, nomeadamente na área militar, combate ao terrorismo (com patrocínio ocidental, por sinal) e energética (a Rosatom é hoje líder mundial de construção de centrais nucleares).

Até para a India, esta tentativa de “isolamento” da Rússia tem sido um maná, com este país a adquirir 18% de todo o Crude exportado pela Rússia, curiosamente, para revender muito dele à Europa e com lucro substancial, mas não só. Se o projecto Brahmos já tinha produzido, inclusive, mísseis hipersónicos, como o Brahmos-II; o que deixou mesmo o Tio Sam muito chateado, foi o recente acordo de cooperação militar entre os dois países, assinado em Maio de 2023 e já em execução, designado de “Roteiro para o crescimento militar sustentável”. Tal como os EUA – cujos esforços de afastamento destes dois países resultaram em vão -, todos conseguimos cheirar o que está na base de uma coisas destas, nos dias que correm, dias marcados pelo confronto directo entre NATO e federação Russa, em solo Ucraniano. Uma cooperação militar estratégica com a Rússia, significa, hoje, soberania militar, política e, no caso de um país com a dimensão da India, económica. Significa que, tal como Rússia e China, também a India é e será livre de torcer o nariz às ordens directas emanadas de Washington.

A própria elevação da Coreia do Sul a potência militar-industrial (2% do share entre 2018 e 2022, representando uma subida de +74% relativamente a 2017-21) não terá deixado de constituir um aviso sério à Rússia e China. Porque não o Japão? Pelas mesmas razões que não a Inglaterra (que caiu 35% no mesmo espaço de tempo). Com efeito, o facto de serem ilhas e de tal levantar problemas logísticos diversos, terá aconselhado uma deslocação dos recursos para locais com fronteira terreste e mais próximos do “inimigo”, mas não tão próximos que a curta distância faça perigar toda a estratégia de produção militar-industrial.

O mesmo raciocínio terá sido utilizado na Europa, ao promover-se o crescimento da França e Itália (+44 e 45% no mesmo período) e o desinvestimento na Alemanha (-35%). O facto de a Alemanha estar mais próxima do “inimigo” e de ser possível uma rota logística segura mais afastada, poderá ter presidido a esta tendência. A ver vamos se se mantém (Scholz parece querer invertê-la). O que não podemos é desprezar as decorrências possíveis desta realidade: 1.º o maior ou menor investimento nos complexos militar-industriais, nos países que estão na orla de segurança dos EUA, tem em conta, sobretudo, a relação com os inimigos do poder hegemónico; 2.º Rússia e China sabem retirar destas movimentações as devidas lições, neste caso, denunciando uma intenção clara de estabelecer uma capacidade de produção, que se conecte com as rotas logísticas militares possíveis, em caso de conflito quente. Para já, estas movimentações não parecem deixar grandes dúvidas sobre os projetos de estruturação militar-industrial e logística e contra que se dirigem.

Não obstante, estas escolhas têm constituído uma autêntica lotaria global, uns ganhando capacidades energéticas, outros de produção de armas, outros tecnológicas e, para o principal autor de toda esta estratégia, significa essas vantagens todas juntas e as financeiras também.

Mas existe um canto no mundo que persiste em retirar deste enquadramento o pior dos resultados, o que não deixa antever coisas nada boas para os respectivos povos. Não, não estou a falar da Coreia do Sul que, entre as vantagens todas que possui, aprendeu à sua custa que não se pode brincar com um país como a Rússia. Afinal, Moscovo bem tinha avisado: “não querem armas modernas na República Popular da Coreia? Então não enviem armas para a Ucrânia”. Agora estão a braços com um acordo de cooperação militar Rússia-RDPC.

Falamos, como é claro, da Europa. No fundo, quem está a pagar a factura de toda esta sorte grande de escala global é a Europa, especificamente a Zona Euro e, ainda mais, o bloco imperialista que deu lugar aos EUA: Inglaterra, Itália, Alemanha e França.

A Europa encontra-se, com efeito, diante de um enorme imbróglio. As escolhas que os povos e elites políticas farão, nos próximos meses, serão fundamentais para reverter, ou acelerar, a tendência presente, marcada pela inflação, primeiro, e depois pela estagnação e decréscimo económico, já patente no aumento de insolvências na Zona Euro, com o número de empresas em dificuldades e em liquidação a bater em máximos que não víamos desde 2015.

Como muitos já afirmaram, o descalabro industrial na Alemanha é notório, na França as perspectivas não são nada animadoras, com a perda de “colónias” como o Níger, Mali ou Burkina-Faso, ou na Itália de Meloni, que tão bem representa o que é hoje a direita neofascista e populista que vai atraindo para o abismo os despolitizados povos europeus. Trata-se de uma direita subserviente ao imperialismo estado-unidense, comprometida com o desmembramento das soberanias nacionais em prol da ditadura de uma burocracia não eleita de Bruxelas, incapaz, sequer, das tiradas nacionalistas do fascismo dos anos 30. Para nossa desgraça, não podemos sequer dizer que, “pelo menos não são belicistas”. São-no, tanto quanto os outros. Contudo, ao invés de o serem em prol de projectos nacionalistas mais ou menos esotéricos e triunfalistas, são-no, como bons lugares-tenentes, como soldados ao serviço dos seus mestres. Por muito que apregoe a “mudança”, na europa destacam-se, sobretudo, dois grandes grupos políticos: o partido da submissão (ao império, a Bruxelas, à NATO, À UE); e o partido da libertação, a favor da soberania, da amizade entre os povos e do combate ao imperialismo.

O partido da submissão, maioritário, hegemónico, representa tão bem o seu papel que conseguiu fazer embarcar a europa numa guerra em que hoje é o principal contribuinte. Ao contrário do que tanto se afirma, não são os EUA os principais contribuintes para o esforço Ucraniano. Não são certamente os que mais contribuem em percentagem do PIB, nem sequer em absoluto. O peso deste encargo recai de forma desastrosa sobre a Europa, principalmente sobre a Europa de Leste e Báltica e de muitas e de diversas formas.

Se, dos 73 mil milhões entregues pelos EUA, destes, 44 biliões são de “ajuda” militar, ao abrigo do programa “lend lease” e, portanto, hão-de ser pagos pelo povo Ucraniano no futuro, apenas 25 biliões são em “ajuda” financeira. Já quando se trata da União Europeia, dos 90 biliões que já entregou, 81 biliões são dinheiro. Ou seja, a EU endivida-se (quiçá em agiotas americanos), deixa de financiar o desenvolvimento dos estados membros, para financiar um país que não é membro e que decidiu, por sua conta e responsabilidade (sabemos que não é assim, de todo, não é?) armar-se e assumir o que diz ser a “defesa do mundo livre”.

Mas este valor, entregue pelas instituições europeias, não incorpora os 22 biliões da Alemanha, que também aproveitou para vender 18 biliões em armas, nem tão pouco o contributo de países como a Dinamarca, a Polónia (maior fornecedor de blindados), Países Baixos, Eslováquia, Estónia, Lituânia, Finlândia ou República Checa. O esforço é tanto maior, quanto maior a sua proximidade à Federação Russa. Essa é a regra de ouro.

E, enquanto prescindiu de vantagens estratégicas, as quais, qualquer governante minimamente sério, por mais míope que fosse, nunca deixaria de ver, a Europa optou, à margem, ou à custa, das democracias, por transformar-se numa espécie de américa latina 2.0, apta a receber os excedentes comerciais dos EUA, a sua energia cara e os seus fundos abutres. No fundo, a glamorosa elite política da chamada “democracia liberal”, obedecendo a ditames provindos de uma distante e fechada burocracia, decidiu: prescindir da ligação natural, geográfica e cultural, ao continente asiático e africano, que permitiria a criação de uma grande zona internacional de desenvolvimento; ver-se livre de um fornecimento regular, em quantidade e qualidade, de energia barata, produtos intermédios e sucedâneos feitos à medida e a módico preço; dizer não a um imenso mercado, composto por mais de 160 milhões de pessoas (Rússia + Bielorússia), com um poder de compra mediano e ávido de produtos europeus de alto valor acrescentado, que logo foram trocados por chineses, coreanos e japoneses.

É preciso ser absolutamente burro, cobarde ou carente de liderança, para prescindir de tais vantagens. A Europa, de uma assentada, prescindiu de todas elas. Ouvir um incapaz como Scholz culpar a Rússia porque o gás está mais caro e, com isso, a economia germânica estar nas lonas… Para quem conhece a história, é desesperante. Esta gente celebrou a “liberdade do gás russo”! Esta elite fechada, inculta, politicamente nula, festejou e festeja a “libertação” de vantagens competitivas energéticas, de mercado e de acesso a importantes factores de produção…. Quase que apeteceria dizer que se trata de uma espécie de atrasados eco-capitalistas, que nos querem mandar para as cavernas, mas em modo neoliberal.

Mas não! Enquanto os países bálticos assumem esforços brutais para financiar a guerra da NATO, assumindo despesas vão de 1,5 a 2% do PIB em “apoio” a uma guerra que os coloca como alvos da maior potência nuclear do mundo (e como o celebraram, estes doentes!), é do outro lado do atlântico que também voltamos a encontrar os lucros resultantes desta desgraça.

Dos 20 países que, em 2022, mais aumentaram os seus orçamentos militares, 10 são europeus, 11, se contarmos com a Ucrânia, o qual, nesse ano, despendeu 44 mil milhões de dólares em armas. Do lado de lá, desta face, encontramos os EUA, com uma fatia de 40% e líder mundial de fornecimento de armas, subindo 14% desde 2018. Um simples gráfico demonstra bem para onde está a ir uma parte importante de toda esta factura global que a EU está a pagar: para os EUA! Os EUA têm 42% de toda a população mundial que aufere um rendimento anual superior a 1 milhão de dólares, enquanto a EU apenas tem 27%.

Considerando que o PIB americano em 1991 era inferior ao Europeu (data do fim da URSS), e que em 2000 a EU já havia sido ultrapassada (lá vem o desastre da criação da Zona Euro)… A última vez que a EU esteve à frente foi por volta de 2008. A partir de então, o PIB americano passou de 14,77 trilhões para 25,44 trilhões de dólares, enquanto o da EU, passou de 16,8 para 16,75 trilhões. De lá para cá o que tivemos?

Crise do Sub-prime de 2008, com as crises soberanas europeias (quem não se lembra da redução dos países em dificuldades a desgraçados PIGS?) a pagarem a factura americana, através da dolarização imposta pelo FMI e pelos pagamentos apressados aos fundos abutres de Wallstreet; o Covid-19, com a EU de Ursula Von der Liar a comprar 5 doses de Phizer, Moderna e Johnson por cada cabeça europeia (centenas de milhões de doses vão para o lixo), cão ou gato; a guerra com a Rússia, em solo Ucraniano, que constituiu um xeque-mate à ligação euro-asiática e à construção e um supercontinente.

Com efeito, a partir de 2008, data em que Putin avisa para as intenções da NATO na Ucrânia, na reunião da NATO de Bucareste, inicia-se toda uma fase final de afundamento da economia europeia que tantos, tão inconsciente, como demencialmente celebram.

Eis quem paga esta imensa lotaria internacional. E a nunca eleita Comissão Europeia, bem como o partido da submissão, ainda regozijam com tal resultado!

É a primeira vez que vi alguém ficar contente por pagar os prémios ganhos por outros!

UE regozija com o pagamento da lotaria internacional

A partir de 2008, data em que Putin avisa para as intenções da NATO na Ucrânia, na reunião da NATO de Bucareste, inicia-se toda uma fase final de afundamento da economia europeia que tantos, tão inconsciente, como demencialmente celebram.

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A Casa Branca e os órgãos de comunicação social corporativa esforçaram-se por propagar a notícia, segundo a qual a República Popular da Coreia (aka Coreia do Norte) teria fornecido à Rússia, mísseis e lançadores de um sistema similar ao Iskander, de curto alcance, que o Kremlin teria usado para bombardear a Ucrânia.

Como sempre, nestas coisas, o discurso de Washington enferma sempre de uma falácia originária: nós podemos, os outros não; nós fazemos, mas nós podemos; nós apontamos, mas não nos apontem a nós; porque nós somos a nação indispensável, os líderes do “mundo livre”. Contudo, bem espremidas as declarações de John Kirby (assistente do Secretário de Estado da Defesa dos EUA) e constatamos que é deixado de fora, o que realmente importa e, o que não é importante – o suposto fornecimento de armas de um país a outro –, é transmitido comos e de um pecado mortal se tratasse.

Como em tudo o que Washington diz, cabe ao intérprete tentar perceber, não o que é literalmente exprimido, mas o que não o é. E o que é omitido nas palavras de Kirby é o que realmente importa.

Todos sabemos que os EUA não se pouparam a esforços para isolar, bloquear, embargar e agredir a República Popular da Coreia e o seu povo. A integração da RPDC no âmbito do Trade With The Enemy Act de 1917 remonta a 1950, ano em que se iniciou a guerra da Coreia. De lá para cá, a RPDC cometeu o pecado de sobreviver à guerra e de proteger a sua soberania. Tendo passado por dificuldades absolutamente indescritíveis, provocadas, aproveitadas e agravadas por Washington, mesmo assim, e contra tudo e contra todos (quase), a RPDC pode, não apenas, orgulhar-se de ter protegido a sua soberania perante o ataque hegemónico, como sobreviver o tempo suficiente para assistir ao nascimento do mundo multipolar e, consequentemente, ao aproveitamento das contradições que a estratégia americana de manutenção da sua hegemonia, propiciam.

Se a euforia sancionatória promovida contra a Rússia, pelo ocidente colectivo, teve o condão fazer abrir os olhos e muitos russos para as reais intenções em causa, promoveu ainda uma realidade segundo a qual este país tem tudo para sair mais forte. Para já, em 2023 vai crescer mais do que a zona Euro.

Se, para a RPDC, a tentativa de isolamento da Federação Russa acabou em oportunidade de fuga a uma certa marginalidade, imposta pelo poder hegemónico, outros países não deixaram, também, de ver esta ruptura como uma oportunidade valiosa: o Irão, aproveitou para reforçar as suas forças armadas, capacidades aeroespaciais, logísticas e até energéticas; Cuba que encontra na Rússia um paceiro económico hoje mais disponível em relação às imposições que antes tinha de cumprir em matéria de embargo económico dos EUA à ilha caribenha; África, antes dependente das “parcerias” neocoloniais europeias, pôde encontrar na Rússia um apoio complementar ao que a China já vinha fornecendo, nomeadamente na área militar, combate ao terrorismo (com patrocínio ocidental, por sinal) e energética (a Rosatom é hoje líder mundial de construção de centrais nucleares).

Até para a India, esta tentativa de “isolamento” da Rússia tem sido um maná, com este país a adquirir 18% de todo o Crude exportado pela Rússia, curiosamente, para revender muito dele à Europa e com lucro substancial, mas não só. Se o projecto Brahmos já tinha produzido, inclusive, mísseis hipersónicos, como o Brahmos-II; o que deixou mesmo o Tio Sam muito chateado, foi o recente acordo de cooperação militar entre os dois países, assinado em Maio de 2023 e já em execução, designado de “Roteiro para o crescimento militar sustentável”. Tal como os EUA – cujos esforços de afastamento destes dois países resultaram em vão -, todos conseguimos cheirar o que está na base de uma coisas destas, nos dias que correm, dias marcados pelo confronto directo entre NATO e federação Russa, em solo Ucraniano. Uma cooperação militar estratégica com a Rússia, significa, hoje, soberania militar, política e, no caso de um país com a dimensão da India, económica. Significa que, tal como Rússia e China, também a India é e será livre de torcer o nariz às ordens directas emanadas de Washington.

A própria elevação da Coreia do Sul a potência militar-industrial (2% do share entre 2018 e 2022, representando uma subida de +74% relativamente a 2017-21) não terá deixado de constituir um aviso sério à Rússia e China. Porque não o Japão? Pelas mesmas razões que não a Inglaterra (que caiu 35% no mesmo espaço de tempo). Com efeito, o facto de serem ilhas e de tal levantar problemas logísticos diversos, terá aconselhado uma deslocação dos recursos para locais com fronteira terreste e mais próximos do “inimigo”, mas não tão próximos que a curta distância faça perigar toda a estratégia de produção militar-industrial.

O mesmo raciocínio terá sido utilizado na Europa, ao promover-se o crescimento da França e Itália (+44 e 45% no mesmo período) e o desinvestimento na Alemanha (-35%). O facto de a Alemanha estar mais próxima do “inimigo” e de ser possível uma rota logística segura mais afastada, poderá ter presidido a esta tendência. A ver vamos se se mantém (Scholz parece querer invertê-la). O que não podemos é desprezar as decorrências possíveis desta realidade: 1.º o maior ou menor investimento nos complexos militar-industriais, nos países que estão na orla de segurança dos EUA, tem em conta, sobretudo, a relação com os inimigos do poder hegemónico; 2.º Rússia e China sabem retirar destas movimentações as devidas lições, neste caso, denunciando uma intenção clara de estabelecer uma capacidade de produção, que se conecte com as rotas logísticas militares possíveis, em caso de conflito quente. Para já, estas movimentações não parecem deixar grandes dúvidas sobre os projetos de estruturação militar-industrial e logística e contra que se dirigem.

Não obstante, estas escolhas têm constituído uma autêntica lotaria global, uns ganhando capacidades energéticas, outros de produção de armas, outros tecnológicas e, para o principal autor de toda esta estratégia, significa essas vantagens todas juntas e as financeiras também.

Mas existe um canto no mundo que persiste em retirar deste enquadramento o pior dos resultados, o que não deixa antever coisas nada boas para os respectivos povos. Não, não estou a falar da Coreia do Sul que, entre as vantagens todas que possui, aprendeu à sua custa que não se pode brincar com um país como a Rússia. Afinal, Moscovo bem tinha avisado: “não querem armas modernas na República Popular da Coreia? Então não enviem armas para a Ucrânia”. Agora estão a braços com um acordo de cooperação militar Rússia-RDPC.

Falamos, como é claro, da Europa. No fundo, quem está a pagar a factura de toda esta sorte grande de escala global é a Europa, especificamente a Zona Euro e, ainda mais, o bloco imperialista que deu lugar aos EUA: Inglaterra, Itália, Alemanha e França.

A Europa encontra-se, com efeito, diante de um enorme imbróglio. As escolhas que os povos e elites políticas farão, nos próximos meses, serão fundamentais para reverter, ou acelerar, a tendência presente, marcada pela inflação, primeiro, e depois pela estagnação e decréscimo económico, já patente no aumento de insolvências na Zona Euro, com o número de empresas em dificuldades e em liquidação a bater em máximos que não víamos desde 2015.

Como muitos já afirmaram, o descalabro industrial na Alemanha é notório, na França as perspectivas não são nada animadoras, com a perda de “colónias” como o Níger, Mali ou Burkina-Faso, ou na Itália de Meloni, que tão bem representa o que é hoje a direita neofascista e populista que vai atraindo para o abismo os despolitizados povos europeus. Trata-se de uma direita subserviente ao imperialismo estado-unidense, comprometida com o desmembramento das soberanias nacionais em prol da ditadura de uma burocracia não eleita de Bruxelas, incapaz, sequer, das tiradas nacionalistas do fascismo dos anos 30. Para nossa desgraça, não podemos sequer dizer que, “pelo menos não são belicistas”. São-no, tanto quanto os outros. Contudo, ao invés de o serem em prol de projectos nacionalistas mais ou menos esotéricos e triunfalistas, são-no, como bons lugares-tenentes, como soldados ao serviço dos seus mestres. Por muito que apregoe a “mudança”, na europa destacam-se, sobretudo, dois grandes grupos políticos: o partido da submissão (ao império, a Bruxelas, à NATO, À UE); e o partido da libertação, a favor da soberania, da amizade entre os povos e do combate ao imperialismo.

O partido da submissão, maioritário, hegemónico, representa tão bem o seu papel que conseguiu fazer embarcar a europa numa guerra em que hoje é o principal contribuinte. Ao contrário do que tanto se afirma, não são os EUA os principais contribuintes para o esforço Ucraniano. Não são certamente os que mais contribuem em percentagem do PIB, nem sequer em absoluto. O peso deste encargo recai de forma desastrosa sobre a Europa, principalmente sobre a Europa de Leste e Báltica e de muitas e de diversas formas.

Se, dos 73 mil milhões entregues pelos EUA, destes, 44 biliões são de “ajuda” militar, ao abrigo do programa “lend lease” e, portanto, hão-de ser pagos pelo povo Ucraniano no futuro, apenas 25 biliões são em “ajuda” financeira. Já quando se trata da União Europeia, dos 90 biliões que já entregou, 81 biliões são dinheiro. Ou seja, a EU endivida-se (quiçá em agiotas americanos), deixa de financiar o desenvolvimento dos estados membros, para financiar um país que não é membro e que decidiu, por sua conta e responsabilidade (sabemos que não é assim, de todo, não é?) armar-se e assumir o que diz ser a “defesa do mundo livre”.

Mas este valor, entregue pelas instituições europeias, não incorpora os 22 biliões da Alemanha, que também aproveitou para vender 18 biliões em armas, nem tão pouco o contributo de países como a Dinamarca, a Polónia (maior fornecedor de blindados), Países Baixos, Eslováquia, Estónia, Lituânia, Finlândia ou República Checa. O esforço é tanto maior, quanto maior a sua proximidade à Federação Russa. Essa é a regra de ouro.

E, enquanto prescindiu de vantagens estratégicas, as quais, qualquer governante minimamente sério, por mais míope que fosse, nunca deixaria de ver, a Europa optou, à margem, ou à custa, das democracias, por transformar-se numa espécie de américa latina 2.0, apta a receber os excedentes comerciais dos EUA, a sua energia cara e os seus fundos abutres. No fundo, a glamorosa elite política da chamada “democracia liberal”, obedecendo a ditames provindos de uma distante e fechada burocracia, decidiu: prescindir da ligação natural, geográfica e cultural, ao continente asiático e africano, que permitiria a criação de uma grande zona internacional de desenvolvimento; ver-se livre de um fornecimento regular, em quantidade e qualidade, de energia barata, produtos intermédios e sucedâneos feitos à medida e a módico preço; dizer não a um imenso mercado, composto por mais de 160 milhões de pessoas (Rússia + Bielorússia), com um poder de compra mediano e ávido de produtos europeus de alto valor acrescentado, que logo foram trocados por chineses, coreanos e japoneses.

É preciso ser absolutamente burro, cobarde ou carente de liderança, para prescindir de tais vantagens. A Europa, de uma assentada, prescindiu de todas elas. Ouvir um incapaz como Scholz culpar a Rússia porque o gás está mais caro e, com isso, a economia germânica estar nas lonas… Para quem conhece a história, é desesperante. Esta gente celebrou a “liberdade do gás russo”! Esta elite fechada, inculta, politicamente nula, festejou e festeja a “libertação” de vantagens competitivas energéticas, de mercado e de acesso a importantes factores de produção…. Quase que apeteceria dizer que se trata de uma espécie de atrasados eco-capitalistas, que nos querem mandar para as cavernas, mas em modo neoliberal.

Mas não! Enquanto os países bálticos assumem esforços brutais para financiar a guerra da NATO, assumindo despesas vão de 1,5 a 2% do PIB em “apoio” a uma guerra que os coloca como alvos da maior potência nuclear do mundo (e como o celebraram, estes doentes!), é do outro lado do atlântico que também voltamos a encontrar os lucros resultantes desta desgraça.

Dos 20 países que, em 2022, mais aumentaram os seus orçamentos militares, 10 são europeus, 11, se contarmos com a Ucrânia, o qual, nesse ano, despendeu 44 mil milhões de dólares em armas. Do lado de lá, desta face, encontramos os EUA, com uma fatia de 40% e líder mundial de fornecimento de armas, subindo 14% desde 2018. Um simples gráfico demonstra bem para onde está a ir uma parte importante de toda esta factura global que a EU está a pagar: para os EUA! Os EUA têm 42% de toda a população mundial que aufere um rendimento anual superior a 1 milhão de dólares, enquanto a EU apenas tem 27%.

Considerando que o PIB americano em 1991 era inferior ao Europeu (data do fim da URSS), e que em 2000 a EU já havia sido ultrapassada (lá vem o desastre da criação da Zona Euro)… A última vez que a EU esteve à frente foi por volta de 2008. A partir de então, o PIB americano passou de 14,77 trilhões para 25,44 trilhões de dólares, enquanto o da EU, passou de 16,8 para 16,75 trilhões. De lá para cá o que tivemos?

Crise do Sub-prime de 2008, com as crises soberanas europeias (quem não se lembra da redução dos países em dificuldades a desgraçados PIGS?) a pagarem a factura americana, através da dolarização imposta pelo FMI e pelos pagamentos apressados aos fundos abutres de Wallstreet; o Covid-19, com a EU de Ursula Von der Liar a comprar 5 doses de Phizer, Moderna e Johnson por cada cabeça europeia (centenas de milhões de doses vão para o lixo), cão ou gato; a guerra com a Rússia, em solo Ucraniano, que constituiu um xeque-mate à ligação euro-asiática e à construção e um supercontinente.

Com efeito, a partir de 2008, data em que Putin avisa para as intenções da NATO na Ucrânia, na reunião da NATO de Bucareste, inicia-se toda uma fase final de afundamento da economia europeia que tantos, tão inconsciente, como demencialmente celebram.

Eis quem paga esta imensa lotaria internacional. E a nunca eleita Comissão Europeia, bem como o partido da submissão, ainda regozijam com tal resultado!

É a primeira vez que vi alguém ficar contente por pagar os prémios ganhos por outros!

A partir de 2008, data em que Putin avisa para as intenções da NATO na Ucrânia, na reunião da NATO de Bucareste, inicia-se toda uma fase final de afundamento da economia europeia que tantos, tão inconsciente, como demencialmente celebram.

Junte-se a nós no Telegram Twitter  e VK .

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A Casa Branca e os órgãos de comunicação social corporativa esforçaram-se por propagar a notícia, segundo a qual a República Popular da Coreia (aka Coreia do Norte) teria fornecido à Rússia, mísseis e lançadores de um sistema similar ao Iskander, de curto alcance, que o Kremlin teria usado para bombardear a Ucrânia.

Como sempre, nestas coisas, o discurso de Washington enferma sempre de uma falácia originária: nós podemos, os outros não; nós fazemos, mas nós podemos; nós apontamos, mas não nos apontem a nós; porque nós somos a nação indispensável, os líderes do “mundo livre”. Contudo, bem espremidas as declarações de John Kirby (assistente do Secretário de Estado da Defesa dos EUA) e constatamos que é deixado de fora, o que realmente importa e, o que não é importante – o suposto fornecimento de armas de um país a outro –, é transmitido comos e de um pecado mortal se tratasse.

Como em tudo o que Washington diz, cabe ao intérprete tentar perceber, não o que é literalmente exprimido, mas o que não o é. E o que é omitido nas palavras de Kirby é o que realmente importa.

Todos sabemos que os EUA não se pouparam a esforços para isolar, bloquear, embargar e agredir a República Popular da Coreia e o seu povo. A integração da RPDC no âmbito do Trade With The Enemy Act de 1917 remonta a 1950, ano em que se iniciou a guerra da Coreia. De lá para cá, a RPDC cometeu o pecado de sobreviver à guerra e de proteger a sua soberania. Tendo passado por dificuldades absolutamente indescritíveis, provocadas, aproveitadas e agravadas por Washington, mesmo assim, e contra tudo e contra todos (quase), a RPDC pode, não apenas, orgulhar-se de ter protegido a sua soberania perante o ataque hegemónico, como sobreviver o tempo suficiente para assistir ao nascimento do mundo multipolar e, consequentemente, ao aproveitamento das contradições que a estratégia americana de manutenção da sua hegemonia, propiciam.

Se a euforia sancionatória promovida contra a Rússia, pelo ocidente colectivo, teve o condão fazer abrir os olhos e muitos russos para as reais intenções em causa, promoveu ainda uma realidade segundo a qual este país tem tudo para sair mais forte. Para já, em 2023 vai crescer mais do que a zona Euro.

Se, para a RPDC, a tentativa de isolamento da Federação Russa acabou em oportunidade de fuga a uma certa marginalidade, imposta pelo poder hegemónico, outros países não deixaram, também, de ver esta ruptura como uma oportunidade valiosa: o Irão, aproveitou para reforçar as suas forças armadas, capacidades aeroespaciais, logísticas e até energéticas; Cuba que encontra na Rússia um paceiro económico hoje mais disponível em relação às imposições que antes tinha de cumprir em matéria de embargo económico dos EUA à ilha caribenha; África, antes dependente das “parcerias” neocoloniais europeias, pôde encontrar na Rússia um apoio complementar ao que a China já vinha fornecendo, nomeadamente na área militar, combate ao terrorismo (com patrocínio ocidental, por sinal) e energética (a Rosatom é hoje líder mundial de construção de centrais nucleares).

Até para a India, esta tentativa de “isolamento” da Rússia tem sido um maná, com este país a adquirir 18% de todo o Crude exportado pela Rússia, curiosamente, para revender muito dele à Europa e com lucro substancial, mas não só. Se o projecto Brahmos já tinha produzido, inclusive, mísseis hipersónicos, como o Brahmos-II; o que deixou mesmo o Tio Sam muito chateado, foi o recente acordo de cooperação militar entre os dois países, assinado em Maio de 2023 e já em execução, designado de “Roteiro para o crescimento militar sustentável”. Tal como os EUA – cujos esforços de afastamento destes dois países resultaram em vão -, todos conseguimos cheirar o que está na base de uma coisas destas, nos dias que correm, dias marcados pelo confronto directo entre NATO e federação Russa, em solo Ucraniano. Uma cooperação militar estratégica com a Rússia, significa, hoje, soberania militar, política e, no caso de um país com a dimensão da India, económica. Significa que, tal como Rússia e China, também a India é e será livre de torcer o nariz às ordens directas emanadas de Washington.

A própria elevação da Coreia do Sul a potência militar-industrial (2% do share entre 2018 e 2022, representando uma subida de +74% relativamente a 2017-21) não terá deixado de constituir um aviso sério à Rússia e China. Porque não o Japão? Pelas mesmas razões que não a Inglaterra (que caiu 35% no mesmo espaço de tempo). Com efeito, o facto de serem ilhas e de tal levantar problemas logísticos diversos, terá aconselhado uma deslocação dos recursos para locais com fronteira terreste e mais próximos do “inimigo”, mas não tão próximos que a curta distância faça perigar toda a estratégia de produção militar-industrial.

O mesmo raciocínio terá sido utilizado na Europa, ao promover-se o crescimento da França e Itália (+44 e 45% no mesmo período) e o desinvestimento na Alemanha (-35%). O facto de a Alemanha estar mais próxima do “inimigo” e de ser possível uma rota logística segura mais afastada, poderá ter presidido a esta tendência. A ver vamos se se mantém (Scholz parece querer invertê-la). O que não podemos é desprezar as decorrências possíveis desta realidade: 1.º o maior ou menor investimento nos complexos militar-industriais, nos países que estão na orla de segurança dos EUA, tem em conta, sobretudo, a relação com os inimigos do poder hegemónico; 2.º Rússia e China sabem retirar destas movimentações as devidas lições, neste caso, denunciando uma intenção clara de estabelecer uma capacidade de produção, que se conecte com as rotas logísticas militares possíveis, em caso de conflito quente. Para já, estas movimentações não parecem deixar grandes dúvidas sobre os projetos de estruturação militar-industrial e logística e contra que se dirigem.

Não obstante, estas escolhas têm constituído uma autêntica lotaria global, uns ganhando capacidades energéticas, outros de produção de armas, outros tecnológicas e, para o principal autor de toda esta estratégia, significa essas vantagens todas juntas e as financeiras também.

Mas existe um canto no mundo que persiste em retirar deste enquadramento o pior dos resultados, o que não deixa antever coisas nada boas para os respectivos povos. Não, não estou a falar da Coreia do Sul que, entre as vantagens todas que possui, aprendeu à sua custa que não se pode brincar com um país como a Rússia. Afinal, Moscovo bem tinha avisado: “não querem armas modernas na República Popular da Coreia? Então não enviem armas para a Ucrânia”. Agora estão a braços com um acordo de cooperação militar Rússia-RDPC.

Falamos, como é claro, da Europa. No fundo, quem está a pagar a factura de toda esta sorte grande de escala global é a Europa, especificamente a Zona Euro e, ainda mais, o bloco imperialista que deu lugar aos EUA: Inglaterra, Itália, Alemanha e França.

A Europa encontra-se, com efeito, diante de um enorme imbróglio. As escolhas que os povos e elites políticas farão, nos próximos meses, serão fundamentais para reverter, ou acelerar, a tendência presente, marcada pela inflação, primeiro, e depois pela estagnação e decréscimo económico, já patente no aumento de insolvências na Zona Euro, com o número de empresas em dificuldades e em liquidação a bater em máximos que não víamos desde 2015.

Como muitos já afirmaram, o descalabro industrial na Alemanha é notório, na França as perspectivas não são nada animadoras, com a perda de “colónias” como o Níger, Mali ou Burkina-Faso, ou na Itália de Meloni, que tão bem representa o que é hoje a direita neofascista e populista que vai atraindo para o abismo os despolitizados povos europeus. Trata-se de uma direita subserviente ao imperialismo estado-unidense, comprometida com o desmembramento das soberanias nacionais em prol da ditadura de uma burocracia não eleita de Bruxelas, incapaz, sequer, das tiradas nacionalistas do fascismo dos anos 30. Para nossa desgraça, não podemos sequer dizer que, “pelo menos não são belicistas”. São-no, tanto quanto os outros. Contudo, ao invés de o serem em prol de projectos nacionalistas mais ou menos esotéricos e triunfalistas, são-no, como bons lugares-tenentes, como soldados ao serviço dos seus mestres. Por muito que apregoe a “mudança”, na europa destacam-se, sobretudo, dois grandes grupos políticos: o partido da submissão (ao império, a Bruxelas, à NATO, À UE); e o partido da libertação, a favor da soberania, da amizade entre os povos e do combate ao imperialismo.

O partido da submissão, maioritário, hegemónico, representa tão bem o seu papel que conseguiu fazer embarcar a europa numa guerra em que hoje é o principal contribuinte. Ao contrário do que tanto se afirma, não são os EUA os principais contribuintes para o esforço Ucraniano. Não são certamente os que mais contribuem em percentagem do PIB, nem sequer em absoluto. O peso deste encargo recai de forma desastrosa sobre a Europa, principalmente sobre a Europa de Leste e Báltica e de muitas e de diversas formas.

Se, dos 73 mil milhões entregues pelos EUA, destes, 44 biliões são de “ajuda” militar, ao abrigo do programa “lend lease” e, portanto, hão-de ser pagos pelo povo Ucraniano no futuro, apenas 25 biliões são em “ajuda” financeira. Já quando se trata da União Europeia, dos 90 biliões que já entregou, 81 biliões são dinheiro. Ou seja, a EU endivida-se (quiçá em agiotas americanos), deixa de financiar o desenvolvimento dos estados membros, para financiar um país que não é membro e que decidiu, por sua conta e responsabilidade (sabemos que não é assim, de todo, não é?) armar-se e assumir o que diz ser a “defesa do mundo livre”.

Mas este valor, entregue pelas instituições europeias, não incorpora os 22 biliões da Alemanha, que também aproveitou para vender 18 biliões em armas, nem tão pouco o contributo de países como a Dinamarca, a Polónia (maior fornecedor de blindados), Países Baixos, Eslováquia, Estónia, Lituânia, Finlândia ou República Checa. O esforço é tanto maior, quanto maior a sua proximidade à Federação Russa. Essa é a regra de ouro.

E, enquanto prescindiu de vantagens estratégicas, as quais, qualquer governante minimamente sério, por mais míope que fosse, nunca deixaria de ver, a Europa optou, à margem, ou à custa, das democracias, por transformar-se numa espécie de américa latina 2.0, apta a receber os excedentes comerciais dos EUA, a sua energia cara e os seus fundos abutres. No fundo, a glamorosa elite política da chamada “democracia liberal”, obedecendo a ditames provindos de uma distante e fechada burocracia, decidiu: prescindir da ligação natural, geográfica e cultural, ao continente asiático e africano, que permitiria a criação de uma grande zona internacional de desenvolvimento; ver-se livre de um fornecimento regular, em quantidade e qualidade, de energia barata, produtos intermédios e sucedâneos feitos à medida e a módico preço; dizer não a um imenso mercado, composto por mais de 160 milhões de pessoas (Rússia + Bielorússia), com um poder de compra mediano e ávido de produtos europeus de alto valor acrescentado, que logo foram trocados por chineses, coreanos e japoneses.

É preciso ser absolutamente burro, cobarde ou carente de liderança, para prescindir de tais vantagens. A Europa, de uma assentada, prescindiu de todas elas. Ouvir um incapaz como Scholz culpar a Rússia porque o gás está mais caro e, com isso, a economia germânica estar nas lonas… Para quem conhece a história, é desesperante. Esta gente celebrou a “liberdade do gás russo”! Esta elite fechada, inculta, politicamente nula, festejou e festeja a “libertação” de vantagens competitivas energéticas, de mercado e de acesso a importantes factores de produção…. Quase que apeteceria dizer que se trata de uma espécie de atrasados eco-capitalistas, que nos querem mandar para as cavernas, mas em modo neoliberal.

Mas não! Enquanto os países bálticos assumem esforços brutais para financiar a guerra da NATO, assumindo despesas vão de 1,5 a 2% do PIB em “apoio” a uma guerra que os coloca como alvos da maior potência nuclear do mundo (e como o celebraram, estes doentes!), é do outro lado do atlântico que também voltamos a encontrar os lucros resultantes desta desgraça.

Dos 20 países que, em 2022, mais aumentaram os seus orçamentos militares, 10 são europeus, 11, se contarmos com a Ucrânia, o qual, nesse ano, despendeu 44 mil milhões de dólares em armas. Do lado de lá, desta face, encontramos os EUA, com uma fatia de 40% e líder mundial de fornecimento de armas, subindo 14% desde 2018. Um simples gráfico demonstra bem para onde está a ir uma parte importante de toda esta factura global que a EU está a pagar: para os EUA! Os EUA têm 42% de toda a população mundial que aufere um rendimento anual superior a 1 milhão de dólares, enquanto a EU apenas tem 27%.

Considerando que o PIB americano em 1991 era inferior ao Europeu (data do fim da URSS), e que em 2000 a EU já havia sido ultrapassada (lá vem o desastre da criação da Zona Euro)… A última vez que a EU esteve à frente foi por volta de 2008. A partir de então, o PIB americano passou de 14,77 trilhões para 25,44 trilhões de dólares, enquanto o da EU, passou de 16,8 para 16,75 trilhões. De lá para cá o que tivemos?

Crise do Sub-prime de 2008, com as crises soberanas europeias (quem não se lembra da redução dos países em dificuldades a desgraçados PIGS?) a pagarem a factura americana, através da dolarização imposta pelo FMI e pelos pagamentos apressados aos fundos abutres de Wallstreet; o Covid-19, com a EU de Ursula Von der Liar a comprar 5 doses de Phizer, Moderna e Johnson por cada cabeça europeia (centenas de milhões de doses vão para o lixo), cão ou gato; a guerra com a Rússia, em solo Ucraniano, que constituiu um xeque-mate à ligação euro-asiática e à construção e um supercontinente.

Com efeito, a partir de 2008, data em que Putin avisa para as intenções da NATO na Ucrânia, na reunião da NATO de Bucareste, inicia-se toda uma fase final de afundamento da economia europeia que tantos, tão inconsciente, como demencialmente celebram.

Eis quem paga esta imensa lotaria internacional. E a nunca eleita Comissão Europeia, bem como o partido da submissão, ainda regozijam com tal resultado!

É a primeira vez que vi alguém ficar contente por pagar os prémios ganhos por outros!

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