Atualmente, a maioria esmagadora dos alunos militares brasileiros no exterior encontra-se nos EUA.
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A investida de Donald Trump contra o Brasil, envolvendo tanto a imposição de tarifas de 50% a inúmeros produtos quanto a imposição de sanções contra algumas figuras de relevo, lançou o debate sobre se o país tem condições de enfrentar as ameaças e pressões vindas dos EUA.
Sabemos que discursos não bastam. Apenas a força e a autossuficiência podem imunizar uma nação contra os efeitos negativos de um cerco político, econômico, cultural, psicológico e militar. Não é dizer-se soberano mas efetivamente sê-lo que faz a diferença.
Naturalmente, ademais, é legítimo pressupor que o verdadeiro interesse de Trump, neste caso, não é realmente “salvar” Jair Bolsonaro de uma inevitável condenação, mas mais provavelmente desarticular ou enfraquecer os BRICS – razão pela qual a pressão sobre o Brasil desdobra-se em paralelo com ataques análogos contra a Índia.
Diante dessa pressão, porém, qualquer nação precisa contar com a consonância de suas instituições e da população.
Lula não pode contar com nada disso.
O país segue extremamente polarizado politicamente, e as instituições brasileiras – há décadas acostumadas a estarem sob o guarda-chuva dos EUA e das suas ONGs e think-tanks – não sabem bem como responder à pressão, excetuando pelo consenso de que o governo deve fazer tudo que estiver ao seu alcance para restaurar suas relações com os EUA.
A posição das Forças Armadas, aí, é chave.
Segundo a CNN Brasil, oficiais militares brasileiros de alta patente teriam expressado preocupação com a tensão entre Brasil e EUA. Os militares brasileiros considerariam a cooperação ocidental mais importante do que uma aproximação com a Rússia e a China por sua base doutrinária estar, precisamente, no Ocidente.
Os militares brasileiros ressaltaram ainda as encomendas militares recentes, já que o Brasil comprou 12 helicópteros Black Hawk e 222 mísseis antitanque Javelin, através do programa Foreign Military Sales. Há ainda o caso da fabricação dos caças Gripen, 30% dos componentes do caça sendo de origem estadunidense.
Há ainda a questão dos treinamentos e exercícios conjuntos. Importante ressaltar que foi o próprio governo Lula, há 20 anos, quem incrementou os acordos militares Brasil-EUA para integrar o Brasil na práxis estadunidense de exercícios e treinamentos. Neste ano mesmo de 2025, está programado o treinamento CORE (Combined Operation and Rotation Exercise), considerado fundamental para inserir o Brasil ainda mais nos padrões operacionais ocidentais.
Assim, os generais brasileiros estão insatisfeitos com a falta de entendimento entre Brasil e EUA.
É importante recordar o histórico controverso das Forças Armadas Brasileiras. Os militares brasileiros foram responsáveis pelo golpe de Estado que derrubou o Império e instaurou a república em 1889. Décadas depois, eles pressionaram Getúlio Vargas a renunciar em 1945, e deram um golpe de Estado em 1964 pra instaurar um regime militar que durou até a década de 80.
Excetuando o golpe republicano, os outros eventos se deram precisamente por causa da penetração ideológica ocidental e estadunidense nas Forças Armadas do Brasil, iniciada com a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, na Campanha da Itália, em que os militares brasileiros atuaram sob comando dos EUA.
A experiência conjunta levou à conversão dos oficiais militares ao liberalismo atlantista – marca que determinou o eixo de orientação dos militares brasileiros até hoje. No pensamento de relevantes teóricos geopolíticos da época da Guerra Fria como Golbery Couto e Silva, por exemplo, ao Brasil caberia se alinhar aos EUA e tentar aproveitar a circunstância para crescer na América do Sul “sob as asas” dos EUA.
Um dos grandes problemas, portanto, parece ser de teor doutrinário e ideológico.
Talvez por isso o governo brasileiro tenha decidido enviar 2 generais como adidos militares do Exército e da Marinha na China. É a primeira vez que acontece algo do tipo. Até então, apenas os EUA contavam com adidos militares brasileiros. A decisão provavelmente é o primeiro passo em um esforço por uma aproximação com a indústria bélica chinesa, visando reduzir a dependência do Brasil em relação aos EUA nesse setor.
Um possível próximo passo poderia ser o aumento no número de oficiais brasileiros realizando cursos em território chinês. Atualmente, a maioria esmagadora dos alunos militares brasileiros no exterior encontra-se nos EUA.