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Bruna Frascolla
August 5, 2025
© Photo: Public domain

Os EUA precisam proteger suas Big Techs do nosso judiciário maluco, então a Lei Magnitsky não é uma fantasia bolsonarista.

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No teste de Rorschach, o examinador coloca uma imagem de borrões de tinta simétricos sem nenhum significado objetivo, pede ao examinado que diga o que vê ali e, a partir disso, tira conclusões sobre a subjetividade. O episódio das sanções ao Brasil têm sido, em geral, um grande teste de Rorschach na sociedade brasileira. As análises dizem mais respeito à subjetividade dos agentes (isto é, às suas preferências políticas) do que à realidade política das tarifas.

Primeiro, dia 9 de julho, veio a carta com o anúncio das sanções ao Brasil a partir do dia 1º de agosto. Como motivos, Trump citou a perseguição judicial a Bolsonaro, mas também as arbitrariedades da nossa Suprema Corte, as quais atingiram as empresas de redes sociais dos EUA.

Nessa fase, a leitura do acontecimento se polarizou entre os pró-Bolsonaro (a minoria dos atores políticos à direita) e os anti-Bolsonaro (a maioria dos atores políticos, inclusive na direita). Segundo a versão de Eduardo Bolsonaro, repetida pelos bolsonaristas, as tarifas se deviam a um imperativo moral dos EUA contra a falta de liberdade no Brasil, coisa que seus adversários não enxergam porque só pensam em dinheiro e não têm valores. Não adiantaria o governo mandar nenhuma pessoa diferente de Eduardo Bolsonaro para conversar com Trump. Segundo a versão dos demais atores políticos, as sanções viriam de qualquer jeito, porque Trump está tarifando todo o mundo, de modo que a alusão a Bolsonaro é uma espécie de bravata que não pode ou não deve ser levada a sério. O tiro, porém, sairia pela culatra, pois o povo ficaria contra o bolsonarismo (que quer prejudicar a economia do país só para obter vingança) e Lula ficaria incumbido de defender o interesse nacional.

Se o lado bolsonarista estava completamente errado ao crer que Trump seja um bom-moço em defesa da liberdade de expressão e da democracia (os universitários pró-Palestina e os sírios que o digam), acertou, porém, quanto à má vontade dos EUA com o governo brasileiro: a Casa Branca se recusou a receber a embaixadora do Brasil. Do lado anti-bolsonarista, a falha evidente é deixar de lado o fato de que estrepolias da imprevisível Suprema Corte brasileira incluíram o bloqueio das contas bancárias da Starlink após a inclusão de Elon Musk no kafkiano Inquérito das Fake News. Além disso, a nossa Suprema Corte tomou uma decisão (contrária à lei brasileira, diga-se) que responsabiliza as plataformas pelo conteúdo publicado. Ou seja, por mais que haja um tarifaço global e o Brasil não tenha por que passar incólume, não dá para ignorar o fato de que o presidente dos EUA (qualquer que seja ele) tem motivos de sobra para estar bravo com nossa Suprema Corte.

Mas se Trump no fundo está agindo normalmente com o Brasil, seria de esperar que o Brasil reagisse como os demais países do mundo, que foram negociar, certo? Aí entra em cena a primeira dama Janja, cuja foto deveria ilustrar o verbete “inoportuno” do dicionário. Dias depois da carta de Trump, ela publicou no seu Instagram um vídeo alegre no qual Lula apanha jabuticabas no pé, oferece-os a Trump e atribui o seu mau-humor à falta de jabuticabas, frutas exclusivas do Brasil. A mesma Janja aliás, já havia dado sua contribuição para a crise entre Elon Musk e o judiciário brasileiro: no G20, disse em alto e bom som, e em inglês, “f*** you, Elon Musk!”.

Além de atrapalhar, o que Lula fez? Que tenha sido publicado, nada. Após o rechaço da embaixadora, senadores governistas foram em comitiva aos EUA, fizeram uma reunião sozinhos no hotel e acabaram conseguindo se reunir com parlamentares dos EUA. O detalhe é que os parlamentares eram Democratas (à exceção de Thom Tillis).

O trabalho, no frigir dos ovos, parece ter ficado com o discreto ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin – que durante toda a Nova República foi adversário de Lula e era chamado de nazista pela esquerda, até aparecer o bolsonarismo. Em 28 de julho, a Folha de S. Paulo noticiava que Alckmin era quem negociava com o secretário de comércio Howard Lutnik, e que sua prioridade era excluir os alimentos e a Embraer das sanções.

Dia 30, vieram novos anúncios de sanções. Primeiro, a notícia muito comemorada pelos bolsonaristas de que Alexandre de Moraes finalmente foi sancionado com a Lei Magnistsky. Afinal, Eduardo Bolsonaro havia prometido a tal sanção contra o ministro e entregado uma sanção contra os produtores rurais, entre os quais se contam muitos apoiadores do seu pai. Logo depois, foram anunciadas as sanções econômicas ao país. A taxa de 50% foi mantida, a data passou de 1 de agosto para 6 de agosto e, o mais importante, a lista de produtos brasileiros que escaparam das tarifas foi tão grande que é mais fácil apontar os grandes prejudicados: café, carne vermelha, pescado e madeira.

O inesperado alívio foi visto outra vez como um teste de Rorschach. Os lulistas, em coro com a imprensa Democrata dos EUA, atribuíram à altivez de Lula, que não negociou com Trump e obteve resultados melhores do que a servil União Europeia. Os demais anti-bolsonaristas atribuíram o alívio às negociações da base aliada do governo, em especial a Geraldo Alckmin. Já Eduardo Bolsonaro publicou uma nota no Twitter alegando ter trabalhado para que as sanções focassem o máximo possível na pessoa de Alexandre de Moraes e poupassem o setor produtivo brasileiro.

A fantasiosa interpretação dos lulistas dispensa comentários. A de Eduardo Bolsonaro poderia ter verossimilhança, se ele próprio não houvesse agradecido publicamente a Trump pelas sanções no Twitter, e se ele não tivesse ido, junto com seu parceiro político Paulo Figueiredo, ao podcast mais popular do Brasil, dizer que não se arrependiam de nada e que estavam dispostos a destruir a economia do país (“incendiar a floresta”, na expressão que usaram) para resgatar a liberdade de expressão no Brasil, que deve ser tão importante para o motorista de Uber quanto a capacidade de comprar comida. O programa foi visto por 1,5 milhão de brasileiros.

A única explicação das três que tem verossimilhança é a que entrega os louros a Geraldo Alckmin, em especial por causa da sua preocupação com a Embraer noticiada pela Folha de S. Paulo. No entanto, como a própria Folha noticiou, essa não era uma tarefa muito complicada, pois a Embraer importa peças dos EUA. Punir a Embraer implicaria punir os escassos empregos industriais dos EUA. Além disso, as outras coisas que Alckmin queria poupar (os alimentos) não foram poupadas, e muita coisa que não era alimento foi poupada.

O mais razoável é atribuir o alívio à própria pressão interna dos Estados Unidos. Por um lado, os produtores de suco de laranja foram um grupo que reclamou bastante e a laranja brasileira foi poupada. Por outro, basta ver os programas populares entre os adeptos do MAGA para encontrar publicidade da carne produzida dentro dos EUA, superior à importada. A carne brasileira não foi poupada. A despeito de suas elites incompetentes, o Brasil é uma potência econômica que não pode ser sancionada com facilidade. O fato de que Trump não conseguiu nos sancionar evidencia as debilidades da maior economia do mundo. Por esse motivo, os EUA precisam proteger suas Big Techs do nosso judiciário maluco, então a Lei Magnitsky não é uma fantasia bolsonarista.

O Brasil esperou com fatalismo o tarifaço que não veio

Os EUA precisam proteger suas Big Techs do nosso judiciário maluco, então a Lei Magnitsky não é uma fantasia bolsonarista.

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No teste de Rorschach, o examinador coloca uma imagem de borrões de tinta simétricos sem nenhum significado objetivo, pede ao examinado que diga o que vê ali e, a partir disso, tira conclusões sobre a subjetividade. O episódio das sanções ao Brasil têm sido, em geral, um grande teste de Rorschach na sociedade brasileira. As análises dizem mais respeito à subjetividade dos agentes (isto é, às suas preferências políticas) do que à realidade política das tarifas.

Primeiro, dia 9 de julho, veio a carta com o anúncio das sanções ao Brasil a partir do dia 1º de agosto. Como motivos, Trump citou a perseguição judicial a Bolsonaro, mas também as arbitrariedades da nossa Suprema Corte, as quais atingiram as empresas de redes sociais dos EUA.

Nessa fase, a leitura do acontecimento se polarizou entre os pró-Bolsonaro (a minoria dos atores políticos à direita) e os anti-Bolsonaro (a maioria dos atores políticos, inclusive na direita). Segundo a versão de Eduardo Bolsonaro, repetida pelos bolsonaristas, as tarifas se deviam a um imperativo moral dos EUA contra a falta de liberdade no Brasil, coisa que seus adversários não enxergam porque só pensam em dinheiro e não têm valores. Não adiantaria o governo mandar nenhuma pessoa diferente de Eduardo Bolsonaro para conversar com Trump. Segundo a versão dos demais atores políticos, as sanções viriam de qualquer jeito, porque Trump está tarifando todo o mundo, de modo que a alusão a Bolsonaro é uma espécie de bravata que não pode ou não deve ser levada a sério. O tiro, porém, sairia pela culatra, pois o povo ficaria contra o bolsonarismo (que quer prejudicar a economia do país só para obter vingança) e Lula ficaria incumbido de defender o interesse nacional.

Se o lado bolsonarista estava completamente errado ao crer que Trump seja um bom-moço em defesa da liberdade de expressão e da democracia (os universitários pró-Palestina e os sírios que o digam), acertou, porém, quanto à má vontade dos EUA com o governo brasileiro: a Casa Branca se recusou a receber a embaixadora do Brasil. Do lado anti-bolsonarista, a falha evidente é deixar de lado o fato de que estrepolias da imprevisível Suprema Corte brasileira incluíram o bloqueio das contas bancárias da Starlink após a inclusão de Elon Musk no kafkiano Inquérito das Fake News. Além disso, a nossa Suprema Corte tomou uma decisão (contrária à lei brasileira, diga-se) que responsabiliza as plataformas pelo conteúdo publicado. Ou seja, por mais que haja um tarifaço global e o Brasil não tenha por que passar incólume, não dá para ignorar o fato de que o presidente dos EUA (qualquer que seja ele) tem motivos de sobra para estar bravo com nossa Suprema Corte.

Mas se Trump no fundo está agindo normalmente com o Brasil, seria de esperar que o Brasil reagisse como os demais países do mundo, que foram negociar, certo? Aí entra em cena a primeira dama Janja, cuja foto deveria ilustrar o verbete “inoportuno” do dicionário. Dias depois da carta de Trump, ela publicou no seu Instagram um vídeo alegre no qual Lula apanha jabuticabas no pé, oferece-os a Trump e atribui o seu mau-humor à falta de jabuticabas, frutas exclusivas do Brasil. A mesma Janja aliás, já havia dado sua contribuição para a crise entre Elon Musk e o judiciário brasileiro: no G20, disse em alto e bom som, e em inglês, “f*** you, Elon Musk!”.

Além de atrapalhar, o que Lula fez? Que tenha sido publicado, nada. Após o rechaço da embaixadora, senadores governistas foram em comitiva aos EUA, fizeram uma reunião sozinhos no hotel e acabaram conseguindo se reunir com parlamentares dos EUA. O detalhe é que os parlamentares eram Democratas (à exceção de Thom Tillis).

O trabalho, no frigir dos ovos, parece ter ficado com o discreto ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin – que durante toda a Nova República foi adversário de Lula e era chamado de nazista pela esquerda, até aparecer o bolsonarismo. Em 28 de julho, a Folha de S. Paulo noticiava que Alckmin era quem negociava com o secretário de comércio Howard Lutnik, e que sua prioridade era excluir os alimentos e a Embraer das sanções.

Dia 30, vieram novos anúncios de sanções. Primeiro, a notícia muito comemorada pelos bolsonaristas de que Alexandre de Moraes finalmente foi sancionado com a Lei Magnistsky. Afinal, Eduardo Bolsonaro havia prometido a tal sanção contra o ministro e entregado uma sanção contra os produtores rurais, entre os quais se contam muitos apoiadores do seu pai. Logo depois, foram anunciadas as sanções econômicas ao país. A taxa de 50% foi mantida, a data passou de 1 de agosto para 6 de agosto e, o mais importante, a lista de produtos brasileiros que escaparam das tarifas foi tão grande que é mais fácil apontar os grandes prejudicados: café, carne vermelha, pescado e madeira.

O inesperado alívio foi visto outra vez como um teste de Rorschach. Os lulistas, em coro com a imprensa Democrata dos EUA, atribuíram à altivez de Lula, que não negociou com Trump e obteve resultados melhores do que a servil União Europeia. Os demais anti-bolsonaristas atribuíram o alívio às negociações da base aliada do governo, em especial a Geraldo Alckmin. Já Eduardo Bolsonaro publicou uma nota no Twitter alegando ter trabalhado para que as sanções focassem o máximo possível na pessoa de Alexandre de Moraes e poupassem o setor produtivo brasileiro.

A fantasiosa interpretação dos lulistas dispensa comentários. A de Eduardo Bolsonaro poderia ter verossimilhança, se ele próprio não houvesse agradecido publicamente a Trump pelas sanções no Twitter, e se ele não tivesse ido, junto com seu parceiro político Paulo Figueiredo, ao podcast mais popular do Brasil, dizer que não se arrependiam de nada e que estavam dispostos a destruir a economia do país (“incendiar a floresta”, na expressão que usaram) para resgatar a liberdade de expressão no Brasil, que deve ser tão importante para o motorista de Uber quanto a capacidade de comprar comida. O programa foi visto por 1,5 milhão de brasileiros.

A única explicação das três que tem verossimilhança é a que entrega os louros a Geraldo Alckmin, em especial por causa da sua preocupação com a Embraer noticiada pela Folha de S. Paulo. No entanto, como a própria Folha noticiou, essa não era uma tarefa muito complicada, pois a Embraer importa peças dos EUA. Punir a Embraer implicaria punir os escassos empregos industriais dos EUA. Além disso, as outras coisas que Alckmin queria poupar (os alimentos) não foram poupadas, e muita coisa que não era alimento foi poupada.

O mais razoável é atribuir o alívio à própria pressão interna dos Estados Unidos. Por um lado, os produtores de suco de laranja foram um grupo que reclamou bastante e a laranja brasileira foi poupada. Por outro, basta ver os programas populares entre os adeptos do MAGA para encontrar publicidade da carne produzida dentro dos EUA, superior à importada. A carne brasileira não foi poupada. A despeito de suas elites incompetentes, o Brasil é uma potência econômica que não pode ser sancionada com facilidade. O fato de que Trump não conseguiu nos sancionar evidencia as debilidades da maior economia do mundo. Por esse motivo, os EUA precisam proteger suas Big Techs do nosso judiciário maluco, então a Lei Magnitsky não é uma fantasia bolsonarista.

Os EUA precisam proteger suas Big Techs do nosso judiciário maluco, então a Lei Magnitsky não é uma fantasia bolsonarista.

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No teste de Rorschach, o examinador coloca uma imagem de borrões de tinta simétricos sem nenhum significado objetivo, pede ao examinado que diga o que vê ali e, a partir disso, tira conclusões sobre a subjetividade. O episódio das sanções ao Brasil têm sido, em geral, um grande teste de Rorschach na sociedade brasileira. As análises dizem mais respeito à subjetividade dos agentes (isto é, às suas preferências políticas) do que à realidade política das tarifas.

Primeiro, dia 9 de julho, veio a carta com o anúncio das sanções ao Brasil a partir do dia 1º de agosto. Como motivos, Trump citou a perseguição judicial a Bolsonaro, mas também as arbitrariedades da nossa Suprema Corte, as quais atingiram as empresas de redes sociais dos EUA.

Nessa fase, a leitura do acontecimento se polarizou entre os pró-Bolsonaro (a minoria dos atores políticos à direita) e os anti-Bolsonaro (a maioria dos atores políticos, inclusive na direita). Segundo a versão de Eduardo Bolsonaro, repetida pelos bolsonaristas, as tarifas se deviam a um imperativo moral dos EUA contra a falta de liberdade no Brasil, coisa que seus adversários não enxergam porque só pensam em dinheiro e não têm valores. Não adiantaria o governo mandar nenhuma pessoa diferente de Eduardo Bolsonaro para conversar com Trump. Segundo a versão dos demais atores políticos, as sanções viriam de qualquer jeito, porque Trump está tarifando todo o mundo, de modo que a alusão a Bolsonaro é uma espécie de bravata que não pode ou não deve ser levada a sério. O tiro, porém, sairia pela culatra, pois o povo ficaria contra o bolsonarismo (que quer prejudicar a economia do país só para obter vingança) e Lula ficaria incumbido de defender o interesse nacional.

Se o lado bolsonarista estava completamente errado ao crer que Trump seja um bom-moço em defesa da liberdade de expressão e da democracia (os universitários pró-Palestina e os sírios que o digam), acertou, porém, quanto à má vontade dos EUA com o governo brasileiro: a Casa Branca se recusou a receber a embaixadora do Brasil. Do lado anti-bolsonarista, a falha evidente é deixar de lado o fato de que estrepolias da imprevisível Suprema Corte brasileira incluíram o bloqueio das contas bancárias da Starlink após a inclusão de Elon Musk no kafkiano Inquérito das Fake News. Além disso, a nossa Suprema Corte tomou uma decisão (contrária à lei brasileira, diga-se) que responsabiliza as plataformas pelo conteúdo publicado. Ou seja, por mais que haja um tarifaço global e o Brasil não tenha por que passar incólume, não dá para ignorar o fato de que o presidente dos EUA (qualquer que seja ele) tem motivos de sobra para estar bravo com nossa Suprema Corte.

Mas se Trump no fundo está agindo normalmente com o Brasil, seria de esperar que o Brasil reagisse como os demais países do mundo, que foram negociar, certo? Aí entra em cena a primeira dama Janja, cuja foto deveria ilustrar o verbete “inoportuno” do dicionário. Dias depois da carta de Trump, ela publicou no seu Instagram um vídeo alegre no qual Lula apanha jabuticabas no pé, oferece-os a Trump e atribui o seu mau-humor à falta de jabuticabas, frutas exclusivas do Brasil. A mesma Janja aliás, já havia dado sua contribuição para a crise entre Elon Musk e o judiciário brasileiro: no G20, disse em alto e bom som, e em inglês, “f*** you, Elon Musk!”.

Além de atrapalhar, o que Lula fez? Que tenha sido publicado, nada. Após o rechaço da embaixadora, senadores governistas foram em comitiva aos EUA, fizeram uma reunião sozinhos no hotel e acabaram conseguindo se reunir com parlamentares dos EUA. O detalhe é que os parlamentares eram Democratas (à exceção de Thom Tillis).

O trabalho, no frigir dos ovos, parece ter ficado com o discreto ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin – que durante toda a Nova República foi adversário de Lula e era chamado de nazista pela esquerda, até aparecer o bolsonarismo. Em 28 de julho, a Folha de S. Paulo noticiava que Alckmin era quem negociava com o secretário de comércio Howard Lutnik, e que sua prioridade era excluir os alimentos e a Embraer das sanções.

Dia 30, vieram novos anúncios de sanções. Primeiro, a notícia muito comemorada pelos bolsonaristas de que Alexandre de Moraes finalmente foi sancionado com a Lei Magnistsky. Afinal, Eduardo Bolsonaro havia prometido a tal sanção contra o ministro e entregado uma sanção contra os produtores rurais, entre os quais se contam muitos apoiadores do seu pai. Logo depois, foram anunciadas as sanções econômicas ao país. A taxa de 50% foi mantida, a data passou de 1 de agosto para 6 de agosto e, o mais importante, a lista de produtos brasileiros que escaparam das tarifas foi tão grande que é mais fácil apontar os grandes prejudicados: café, carne vermelha, pescado e madeira.

O inesperado alívio foi visto outra vez como um teste de Rorschach. Os lulistas, em coro com a imprensa Democrata dos EUA, atribuíram à altivez de Lula, que não negociou com Trump e obteve resultados melhores do que a servil União Europeia. Os demais anti-bolsonaristas atribuíram o alívio às negociações da base aliada do governo, em especial a Geraldo Alckmin. Já Eduardo Bolsonaro publicou uma nota no Twitter alegando ter trabalhado para que as sanções focassem o máximo possível na pessoa de Alexandre de Moraes e poupassem o setor produtivo brasileiro.

A fantasiosa interpretação dos lulistas dispensa comentários. A de Eduardo Bolsonaro poderia ter verossimilhança, se ele próprio não houvesse agradecido publicamente a Trump pelas sanções no Twitter, e se ele não tivesse ido, junto com seu parceiro político Paulo Figueiredo, ao podcast mais popular do Brasil, dizer que não se arrependiam de nada e que estavam dispostos a destruir a economia do país (“incendiar a floresta”, na expressão que usaram) para resgatar a liberdade de expressão no Brasil, que deve ser tão importante para o motorista de Uber quanto a capacidade de comprar comida. O programa foi visto por 1,5 milhão de brasileiros.

A única explicação das três que tem verossimilhança é a que entrega os louros a Geraldo Alckmin, em especial por causa da sua preocupação com a Embraer noticiada pela Folha de S. Paulo. No entanto, como a própria Folha noticiou, essa não era uma tarefa muito complicada, pois a Embraer importa peças dos EUA. Punir a Embraer implicaria punir os escassos empregos industriais dos EUA. Além disso, as outras coisas que Alckmin queria poupar (os alimentos) não foram poupadas, e muita coisa que não era alimento foi poupada.

O mais razoável é atribuir o alívio à própria pressão interna dos Estados Unidos. Por um lado, os produtores de suco de laranja foram um grupo que reclamou bastante e a laranja brasileira foi poupada. Por outro, basta ver os programas populares entre os adeptos do MAGA para encontrar publicidade da carne produzida dentro dos EUA, superior à importada. A carne brasileira não foi poupada. A despeito de suas elites incompetentes, o Brasil é uma potência econômica que não pode ser sancionada com facilidade. O fato de que Trump não conseguiu nos sancionar evidencia as debilidades da maior economia do mundo. Por esse motivo, os EUA precisam proteger suas Big Techs do nosso judiciário maluco, então a Lei Magnitsky não é uma fantasia bolsonarista.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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