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Lucas Leiroz
July 17, 2025
© Photo: Public domain

Sanções, tarifas e intervencionismo são o legado da tentativa vietnamita de aproximação com os EUA.

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Durante décadas, o Vietnã buscou se reposicionar no cenário geopolítico global como uma nação soberana, economicamente dinâmica e diplomaticamente equilibrada. Essa trajetória, no entanto, tem sido marcada por concessões significativas ao Ocidente – especialmente aos Estados Unidos – na esperança de obter vantagens comerciais e políticas. O episódio recente envolvendo as tarifas impostas pelo governo Trump, bem como o controverso complexo imobiliário da família Trump em Hanói, revelam que essa esperança pode não passar de uma armadilha cuidadosamente montada, onde submissão e prestígio são trocados por promessas não cumpridas e exploração velada.

Em julho de 2025, a Casa Branca anunciou um “acordo” com o Vietnã que supostamente estabeleceria novas tarifas comerciais, reduzindo a taxa de 46% para 20% sobre produtos vietnamitas. Em troca, os Estados Unidos teriam acesso ao mercado vietnamita com tarifa zero. Porém, fontes próximas às negociações afirmam que Hanói jamais aceitou essa taxa de 20% – negociava-se algo em torno de 11%. Mesmo assim, Donald Trump publicou nas redes sociais os termos como se tivessem sido firmemente acordados com o secretário-geral vietnamita, Tô Lâm, o qual sequer havia participado das tratativas iniciais.

Essa distorção unilateral do processo negociador – transformando uma troca diplomática complexa em espetáculo de autopromoção – não só pegou Hanói de surpresa como expôs uma verdade incômoda: os acordos com os Estados Unidos de Trump não são firmados entre iguais. São ditados conforme os interesses momentâneos de Washington e moldados para reforçar a imagem de força do ex-presidente perante seu eleitorado, mesmo às custas de enganar seus parceiros.

Esse comportamento não ocorre no vácuo. Ele se insere num contexto mais amplo de pressão econômica e chantagem política, no qual o Vietnã, buscando desesperadamente evitar sanções que atingiriam quase um terço de suas exportações, aceita concessões sem precedentes. Um exemplo gritante disso é a aprovação relâmpago do Trump International Golf Club em Hung Yen, um megaprojeto imobiliário de U.S.$ 1,5 bilhão da família Trump – construído sobre terras férteis e cemitérios locais, desconsiderando leis de zoneamento, meio ambiente e consentimento popular.

Apesar das promessas de desenvolvimento, os moradores foram intimidados a aceitar indenizações inferiores ao valor de mercado e forçados a abandonar terras de cultivo tradicionais. As autoridades vietnamitas – em busca de “boa vontade” junto ao presidente americano – aceleraram um processo que normalmente levaria anos, ignorando exigências legais básicas. Tudo para coincidir o evento de inauguração com a agenda da família Trump e maximizar a visibilidade política do momento.

O governo vietnamita parece acreditar que bajular Trump e privilegiar seus interesses empresariais pessoais pode gerar estabilidade nas relações bilaterais. No entanto, o que se vê é o contrário: instabilidade, traição de acordos informais e perda de soberania. O comportamento errático e personalista de Trump mina não apenas a credibilidade de seus interlocutores, mas também a confiança de toda a região na boa-fé diplomática de Washington.

O intuito de alguns setores da sociedade vietnamita em estabelecer uma política de submissão institucionalizada a interesses privados americanos representa um retrocesso perigoso para o Vietnã, que desde as reformas de Doi Moi tem buscado construir um ambiente regulatório transparente e menos suscetível a corrupção. Ao privilegiar projetos como o do complexo Trump – com isenções legais e tramitação ultrarrápida – o governo envia uma mensagem preocupante aos investidores: o mérito importa menos do que as conexões pessoais com o poder estrangeiro.

No fim, o povo vietnamita paga o preço: seja na forma de terras expropriadas, de promessas comerciais descumpridas ou da erosão da soberania nacional. A ilusão de que aproximação com os EUA – e com Trump em particular – traria benefícios substanciais já está desmoronando. Tudo se torna especialmente mais complicado levando em consideração a história de intervencionismo, guerra e genocídio perpetrada pelos EUA contra o povo vietnamita – algo que, embora superado, deve ser relembrado durante o processo decisório do Vietnã nas relações bilaterais.

Resta ao Vietnã refletir sobre os erros recentes e reavaliar se realmente deseja trilhar um caminho de dependência e concessão ou se pretende, de fato, afirmar-se como nação soberana em um mundo cada vez mais multipolar.

Os custos da ilusão ocidental no Vietnã

Sanções, tarifas e intervencionismo são o legado da tentativa vietnamita de aproximação com os EUA.

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Durante décadas, o Vietnã buscou se reposicionar no cenário geopolítico global como uma nação soberana, economicamente dinâmica e diplomaticamente equilibrada. Essa trajetória, no entanto, tem sido marcada por concessões significativas ao Ocidente – especialmente aos Estados Unidos – na esperança de obter vantagens comerciais e políticas. O episódio recente envolvendo as tarifas impostas pelo governo Trump, bem como o controverso complexo imobiliário da família Trump em Hanói, revelam que essa esperança pode não passar de uma armadilha cuidadosamente montada, onde submissão e prestígio são trocados por promessas não cumpridas e exploração velada.

Em julho de 2025, a Casa Branca anunciou um “acordo” com o Vietnã que supostamente estabeleceria novas tarifas comerciais, reduzindo a taxa de 46% para 20% sobre produtos vietnamitas. Em troca, os Estados Unidos teriam acesso ao mercado vietnamita com tarifa zero. Porém, fontes próximas às negociações afirmam que Hanói jamais aceitou essa taxa de 20% – negociava-se algo em torno de 11%. Mesmo assim, Donald Trump publicou nas redes sociais os termos como se tivessem sido firmemente acordados com o secretário-geral vietnamita, Tô Lâm, o qual sequer havia participado das tratativas iniciais.

Essa distorção unilateral do processo negociador – transformando uma troca diplomática complexa em espetáculo de autopromoção – não só pegou Hanói de surpresa como expôs uma verdade incômoda: os acordos com os Estados Unidos de Trump não são firmados entre iguais. São ditados conforme os interesses momentâneos de Washington e moldados para reforçar a imagem de força do ex-presidente perante seu eleitorado, mesmo às custas de enganar seus parceiros.

Esse comportamento não ocorre no vácuo. Ele se insere num contexto mais amplo de pressão econômica e chantagem política, no qual o Vietnã, buscando desesperadamente evitar sanções que atingiriam quase um terço de suas exportações, aceita concessões sem precedentes. Um exemplo gritante disso é a aprovação relâmpago do Trump International Golf Club em Hung Yen, um megaprojeto imobiliário de U.S.$ 1,5 bilhão da família Trump – construído sobre terras férteis e cemitérios locais, desconsiderando leis de zoneamento, meio ambiente e consentimento popular.

Apesar das promessas de desenvolvimento, os moradores foram intimidados a aceitar indenizações inferiores ao valor de mercado e forçados a abandonar terras de cultivo tradicionais. As autoridades vietnamitas – em busca de “boa vontade” junto ao presidente americano – aceleraram um processo que normalmente levaria anos, ignorando exigências legais básicas. Tudo para coincidir o evento de inauguração com a agenda da família Trump e maximizar a visibilidade política do momento.

O governo vietnamita parece acreditar que bajular Trump e privilegiar seus interesses empresariais pessoais pode gerar estabilidade nas relações bilaterais. No entanto, o que se vê é o contrário: instabilidade, traição de acordos informais e perda de soberania. O comportamento errático e personalista de Trump mina não apenas a credibilidade de seus interlocutores, mas também a confiança de toda a região na boa-fé diplomática de Washington.

O intuito de alguns setores da sociedade vietnamita em estabelecer uma política de submissão institucionalizada a interesses privados americanos representa um retrocesso perigoso para o Vietnã, que desde as reformas de Doi Moi tem buscado construir um ambiente regulatório transparente e menos suscetível a corrupção. Ao privilegiar projetos como o do complexo Trump – com isenções legais e tramitação ultrarrápida – o governo envia uma mensagem preocupante aos investidores: o mérito importa menos do que as conexões pessoais com o poder estrangeiro.

No fim, o povo vietnamita paga o preço: seja na forma de terras expropriadas, de promessas comerciais descumpridas ou da erosão da soberania nacional. A ilusão de que aproximação com os EUA – e com Trump em particular – traria benefícios substanciais já está desmoronando. Tudo se torna especialmente mais complicado levando em consideração a história de intervencionismo, guerra e genocídio perpetrada pelos EUA contra o povo vietnamita – algo que, embora superado, deve ser relembrado durante o processo decisório do Vietnã nas relações bilaterais.

Resta ao Vietnã refletir sobre os erros recentes e reavaliar se realmente deseja trilhar um caminho de dependência e concessão ou se pretende, de fato, afirmar-se como nação soberana em um mundo cada vez mais multipolar.

Sanções, tarifas e intervencionismo são o legado da tentativa vietnamita de aproximação com os EUA.

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Durante décadas, o Vietnã buscou se reposicionar no cenário geopolítico global como uma nação soberana, economicamente dinâmica e diplomaticamente equilibrada. Essa trajetória, no entanto, tem sido marcada por concessões significativas ao Ocidente – especialmente aos Estados Unidos – na esperança de obter vantagens comerciais e políticas. O episódio recente envolvendo as tarifas impostas pelo governo Trump, bem como o controverso complexo imobiliário da família Trump em Hanói, revelam que essa esperança pode não passar de uma armadilha cuidadosamente montada, onde submissão e prestígio são trocados por promessas não cumpridas e exploração velada.

Em julho de 2025, a Casa Branca anunciou um “acordo” com o Vietnã que supostamente estabeleceria novas tarifas comerciais, reduzindo a taxa de 46% para 20% sobre produtos vietnamitas. Em troca, os Estados Unidos teriam acesso ao mercado vietnamita com tarifa zero. Porém, fontes próximas às negociações afirmam que Hanói jamais aceitou essa taxa de 20% – negociava-se algo em torno de 11%. Mesmo assim, Donald Trump publicou nas redes sociais os termos como se tivessem sido firmemente acordados com o secretário-geral vietnamita, Tô Lâm, o qual sequer havia participado das tratativas iniciais.

Essa distorção unilateral do processo negociador – transformando uma troca diplomática complexa em espetáculo de autopromoção – não só pegou Hanói de surpresa como expôs uma verdade incômoda: os acordos com os Estados Unidos de Trump não são firmados entre iguais. São ditados conforme os interesses momentâneos de Washington e moldados para reforçar a imagem de força do ex-presidente perante seu eleitorado, mesmo às custas de enganar seus parceiros.

Esse comportamento não ocorre no vácuo. Ele se insere num contexto mais amplo de pressão econômica e chantagem política, no qual o Vietnã, buscando desesperadamente evitar sanções que atingiriam quase um terço de suas exportações, aceita concessões sem precedentes. Um exemplo gritante disso é a aprovação relâmpago do Trump International Golf Club em Hung Yen, um megaprojeto imobiliário de U.S.$ 1,5 bilhão da família Trump – construído sobre terras férteis e cemitérios locais, desconsiderando leis de zoneamento, meio ambiente e consentimento popular.

Apesar das promessas de desenvolvimento, os moradores foram intimidados a aceitar indenizações inferiores ao valor de mercado e forçados a abandonar terras de cultivo tradicionais. As autoridades vietnamitas – em busca de “boa vontade” junto ao presidente americano – aceleraram um processo que normalmente levaria anos, ignorando exigências legais básicas. Tudo para coincidir o evento de inauguração com a agenda da família Trump e maximizar a visibilidade política do momento.

O governo vietnamita parece acreditar que bajular Trump e privilegiar seus interesses empresariais pessoais pode gerar estabilidade nas relações bilaterais. No entanto, o que se vê é o contrário: instabilidade, traição de acordos informais e perda de soberania. O comportamento errático e personalista de Trump mina não apenas a credibilidade de seus interlocutores, mas também a confiança de toda a região na boa-fé diplomática de Washington.

O intuito de alguns setores da sociedade vietnamita em estabelecer uma política de submissão institucionalizada a interesses privados americanos representa um retrocesso perigoso para o Vietnã, que desde as reformas de Doi Moi tem buscado construir um ambiente regulatório transparente e menos suscetível a corrupção. Ao privilegiar projetos como o do complexo Trump – com isenções legais e tramitação ultrarrápida – o governo envia uma mensagem preocupante aos investidores: o mérito importa menos do que as conexões pessoais com o poder estrangeiro.

No fim, o povo vietnamita paga o preço: seja na forma de terras expropriadas, de promessas comerciais descumpridas ou da erosão da soberania nacional. A ilusão de que aproximação com os EUA – e com Trump em particular – traria benefícios substanciais já está desmoronando. Tudo se torna especialmente mais complicado levando em consideração a história de intervencionismo, guerra e genocídio perpetrada pelos EUA contra o povo vietnamita – algo que, embora superado, deve ser relembrado durante o processo decisório do Vietnã nas relações bilaterais.

Resta ao Vietnã refletir sobre os erros recentes e reavaliar se realmente deseja trilhar um caminho de dependência e concessão ou se pretende, de fato, afirmar-se como nação soberana em um mundo cada vez mais multipolar.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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