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Francisco Balsinha
July 7, 2025
© Photo: Public domain

A pergunta torna-se inevitável: com uma União Europeia a militarizar-se e a assumir posições bélicas, o que sobra da OTAN?

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Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Durante décadas, a OTAN (NATO, na sigla portuguesa) foi o símbolo da segurança euro-atlântica — um escudo nuclear, político e diplomático contra as alegadas ameaças do Leste. Mas em 2025, esse escudo parece mais decorativo do que funcional. Pior: tornou-se o pano de fundo para uma União Europeia cada vez mais beligerante, que, sob o disfarce de “defesa comum” e “solidariedade internacional”, adota uma retórica de guerra e um apetite militarista crescente.

A inoperância da OTAN já não é apenas uma impressão — é uma evidência. E enquanto a aliança atlântica se afoga na sua paralisia interna, a UE emerge como um ator que já não esconde o seu novo fascínio por tanques, drones e zonas de exclusão aérea.

A morte estratégica da OTAN

Criada em 1949 para conter o que dizia ser a ameaça soviética, a OTAN justificou dessa forma a sua existência durante a Guerra Fria. Mas desde a queda do Muro de Berlim, a organização tem vivido de missões mal-sucedidas (Afeganistão), intervenções controversas e à margem do direito internacional (Iraque e Líbia) e uma expansão geográfica que a aproxima mais da Síndrome de Império do que de uma aliança de defesa.

Internamente, a OTAN está fraturada. As tensões entre os EUA e a Europa aumentaram sob Trump e voltaram a emergir com o regresso do isolacionismo americano. A Turquia joga um jogo duplo entre NATO e Rússia. A Grécia e a Hungria desafiam abertamente a lógica coletiva da organização. E os países bálticos gritam por reforços enquanto Berlim faz promessas vazias.

A suposta “resposta unida” à invasão da Ucrânia expôs precisamente essa fragilidade: ajuda militar descoordenada, decisões unilaterais (como o envio de tanques Leopard ou caças F-16), e a dependência gritante dos Estados Unidos para qualquer resposta real. Se os EUA deixarem de garantir o pilar militar da OTAN, a aliança ruirá — todos os actores políticos de aquém e além Atlântico têm ciência disso.

Bruxelas de uniforme: a militarização silenciosa da UE

No entanto, enquanto a OTAN tropeça, a União Europeia vai ao ginásio. Não se trata apenas de um aumento dos orçamentos militares — embora isso também esteja a acontecer. A Alemanha anunciou recentemente um fundo especial de 100 mil milhões de euros para modernizar as suas forças armadas. A Polónia está a tornar-se, em velocidade recorde, uma potência militar regional. França aposta na autonomia estratégica. A Finlândia e a Suécia já se alinham com a lógica atlântica e armamentista.

Mas, mais importante do que os números, é a mudança de mentalidade: a retórica da paz, outrora fundadora da UE, foi substituída por uma narrativa de ameaça constante e necessidade de prontidão militar.

A “Bússola Estratégica”, apresentada como o novo guia de defesa da UE, legitima intervenções militares autónomas. A PESCO (Cooperação Estruturada Permanente) permite que os Estados-membros desenvolvam projetos conjuntos de armamento, fora da alçada da OTAN. E a Comissão Europeia, tradicionalmente ocupada com regulação e orçamento, agora gere também fundos de defesa e inovação militar.

Não é exagero dizer: Bruxelas está a brincar à guerra, mas com munição real.

A hipocrisia europeia: entre o pacifismo institucional e o realismo bélico

A UE adora falar de paz. Cada discurso em Estrasburgo ou Bruxelas começa com referências ao projeto europeu como garantia de estabilidade, mas a prática diz outra coisa.
A União Europeia tornou-se uma das maiores exportadoras de armamento do mundo. Países como França, Alemanha, Itália e Espanha vendem armas a regimes autoritários no Médio Oriente, África e Ásia. Em nome da “autonomia estratégica”, a UE legitima alianças militares com ditaduras desde que os contratos sejam lucrativos.

Na guerra da Ucrânia, a UE teve um papel ambíguo: embora não esteja oficialmente em guerra com a Rússia, tornou-se parte ativa do esforço de guerra ucraniano — com financiamento, treino e armamento. Essa decisão contradiz frontalmente a postura pacifista que a UE tanto apregoa.

Igualmente chocante tem sido o apoio tácito e diplomático de muitos países europeus a Israel durante os bombardeamentos em Gaza, ignorando resoluções internacionais e fingindo neutralidade. A paz, ao que parece, é um princípio seletivo.

Onde está a OTAN? E para que serve?

A pergunta torna-se inevitável: com uma União Europeia a militarizar-se e a assumir posições bélicas, o que sobra da OTAN?

Na prática, muito pouco. A OTAN continua a realizar exercícios conjuntos, emite comunicados pomposos e tenta parecer relevante nos fóruns internacionais. Mas quando o confronto real se instala, a aliança é lenta, confusa e dividida. Mesmo os Estados Unidos — o motor da OTAN — já demonstram cansaço.

O exemplo do Afeganistão foi simbólico: a retirada apressada, mal coordenada e caótica mostrou que a OTAN não tem comando operacional eficaz.

É possível que estejamos perante uma organização que sobrevive por inércia, uma espécie de zumbi geopolítico: sem força para agir, mas demasiado simbólica para desaparecer.

A ilusão da “defesa europeia” como substituto

É aqui que a provocação se impõe: a União Europeia está a usar a decadência da OTAN como justificação para criar o seu próprio músculo militar. Mas essa “defesa europeia” não é neutra nem pacífica — é uma construção ideológica e política que esconde interesses económicos, rivalidades regionais e ambições imperiais.

Por outro lado, nem a decadência industrial da Europa dos 27 devido ao efeito das sanções aplicadas à Rússia justifica o desmesurado projecto de Bruxelas baseado nos 800.000 milhões de euros que Von der Leyen tanto reclama.

A Comissão Europeia, liderada por figuras como a já citada Von der Leyen, Kaja Kalas e António Costa, já fala abertamente em zonas de influência, projeção de força e prontidão militar. A linguagem é quase indistinguível da usada pelos Estados Unidos na década de 1990. O discurso de “intervenção humanitária” começa a soar como pretexto para ocupações seletivas.

Pior ainda: ao concentrar poder militar num bloco como a UE, sem mecanismos claros de responsabilidade nessa área, corremos o risco de criar uma superestrutura armada sem supervisão civil real.

Conclusão: quem guarda os guardiões?

A OTAN não morreu oficialmente, mas está em coma. E enquanto os seus membros se entretêm com comunicados e reuniões de cúpula, a União Europeia assume cada vez mais o papel de ator militar global — algo que nunca foi votado, discutido profundamente nem legitimado popularmente.

Há algo de profundamente inquietante neste cenário: duas estruturas sobrepostas, ambas sem mandato claro, operando sob o pretexto da segurança, mas cada vez mais envolvidas em jogos de poder, vendas de armamento e estratégias de dissuasão que lembram a lógica da Guerra Fria.

Talvez seja hora de perguntar: quem guarda os guardiões?
Quem vigia a militarização da paz europeia?

E sobretudo: que tipo de futuro está a ser construído quando os antigos pacifistas se tornam os novos generais?

OTAN em coma: Enquanto a União Europeia brinca à guerra

A pergunta torna-se inevitável: com uma União Europeia a militarizar-se e a assumir posições bélicas, o que sobra da OTAN?

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Durante décadas, a OTAN (NATO, na sigla portuguesa) foi o símbolo da segurança euro-atlântica — um escudo nuclear, político e diplomático contra as alegadas ameaças do Leste. Mas em 2025, esse escudo parece mais decorativo do que funcional. Pior: tornou-se o pano de fundo para uma União Europeia cada vez mais beligerante, que, sob o disfarce de “defesa comum” e “solidariedade internacional”, adota uma retórica de guerra e um apetite militarista crescente.

A inoperância da OTAN já não é apenas uma impressão — é uma evidência. E enquanto a aliança atlântica se afoga na sua paralisia interna, a UE emerge como um ator que já não esconde o seu novo fascínio por tanques, drones e zonas de exclusão aérea.

A morte estratégica da OTAN

Criada em 1949 para conter o que dizia ser a ameaça soviética, a OTAN justificou dessa forma a sua existência durante a Guerra Fria. Mas desde a queda do Muro de Berlim, a organização tem vivido de missões mal-sucedidas (Afeganistão), intervenções controversas e à margem do direito internacional (Iraque e Líbia) e uma expansão geográfica que a aproxima mais da Síndrome de Império do que de uma aliança de defesa.

Internamente, a OTAN está fraturada. As tensões entre os EUA e a Europa aumentaram sob Trump e voltaram a emergir com o regresso do isolacionismo americano. A Turquia joga um jogo duplo entre NATO e Rússia. A Grécia e a Hungria desafiam abertamente a lógica coletiva da organização. E os países bálticos gritam por reforços enquanto Berlim faz promessas vazias.

A suposta “resposta unida” à invasão da Ucrânia expôs precisamente essa fragilidade: ajuda militar descoordenada, decisões unilaterais (como o envio de tanques Leopard ou caças F-16), e a dependência gritante dos Estados Unidos para qualquer resposta real. Se os EUA deixarem de garantir o pilar militar da OTAN, a aliança ruirá — todos os actores políticos de aquém e além Atlântico têm ciência disso.

Bruxelas de uniforme: a militarização silenciosa da UE

No entanto, enquanto a OTAN tropeça, a União Europeia vai ao ginásio. Não se trata apenas de um aumento dos orçamentos militares — embora isso também esteja a acontecer. A Alemanha anunciou recentemente um fundo especial de 100 mil milhões de euros para modernizar as suas forças armadas. A Polónia está a tornar-se, em velocidade recorde, uma potência militar regional. França aposta na autonomia estratégica. A Finlândia e a Suécia já se alinham com a lógica atlântica e armamentista.

Mas, mais importante do que os números, é a mudança de mentalidade: a retórica da paz, outrora fundadora da UE, foi substituída por uma narrativa de ameaça constante e necessidade de prontidão militar.

A “Bússola Estratégica”, apresentada como o novo guia de defesa da UE, legitima intervenções militares autónomas. A PESCO (Cooperação Estruturada Permanente) permite que os Estados-membros desenvolvam projetos conjuntos de armamento, fora da alçada da OTAN. E a Comissão Europeia, tradicionalmente ocupada com regulação e orçamento, agora gere também fundos de defesa e inovação militar.

Não é exagero dizer: Bruxelas está a brincar à guerra, mas com munição real.

A hipocrisia europeia: entre o pacifismo institucional e o realismo bélico

A UE adora falar de paz. Cada discurso em Estrasburgo ou Bruxelas começa com referências ao projeto europeu como garantia de estabilidade, mas a prática diz outra coisa.
A União Europeia tornou-se uma das maiores exportadoras de armamento do mundo. Países como França, Alemanha, Itália e Espanha vendem armas a regimes autoritários no Médio Oriente, África e Ásia. Em nome da “autonomia estratégica”, a UE legitima alianças militares com ditaduras desde que os contratos sejam lucrativos.

Na guerra da Ucrânia, a UE teve um papel ambíguo: embora não esteja oficialmente em guerra com a Rússia, tornou-se parte ativa do esforço de guerra ucraniano — com financiamento, treino e armamento. Essa decisão contradiz frontalmente a postura pacifista que a UE tanto apregoa.

Igualmente chocante tem sido o apoio tácito e diplomático de muitos países europeus a Israel durante os bombardeamentos em Gaza, ignorando resoluções internacionais e fingindo neutralidade. A paz, ao que parece, é um princípio seletivo.

Onde está a OTAN? E para que serve?

A pergunta torna-se inevitável: com uma União Europeia a militarizar-se e a assumir posições bélicas, o que sobra da OTAN?

Na prática, muito pouco. A OTAN continua a realizar exercícios conjuntos, emite comunicados pomposos e tenta parecer relevante nos fóruns internacionais. Mas quando o confronto real se instala, a aliança é lenta, confusa e dividida. Mesmo os Estados Unidos — o motor da OTAN — já demonstram cansaço.

O exemplo do Afeganistão foi simbólico: a retirada apressada, mal coordenada e caótica mostrou que a OTAN não tem comando operacional eficaz.

É possível que estejamos perante uma organização que sobrevive por inércia, uma espécie de zumbi geopolítico: sem força para agir, mas demasiado simbólica para desaparecer.

A ilusão da “defesa europeia” como substituto

É aqui que a provocação se impõe: a União Europeia está a usar a decadência da OTAN como justificação para criar o seu próprio músculo militar. Mas essa “defesa europeia” não é neutra nem pacífica — é uma construção ideológica e política que esconde interesses económicos, rivalidades regionais e ambições imperiais.

Por outro lado, nem a decadência industrial da Europa dos 27 devido ao efeito das sanções aplicadas à Rússia justifica o desmesurado projecto de Bruxelas baseado nos 800.000 milhões de euros que Von der Leyen tanto reclama.

A Comissão Europeia, liderada por figuras como a já citada Von der Leyen, Kaja Kalas e António Costa, já fala abertamente em zonas de influência, projeção de força e prontidão militar. A linguagem é quase indistinguível da usada pelos Estados Unidos na década de 1990. O discurso de “intervenção humanitária” começa a soar como pretexto para ocupações seletivas.

Pior ainda: ao concentrar poder militar num bloco como a UE, sem mecanismos claros de responsabilidade nessa área, corremos o risco de criar uma superestrutura armada sem supervisão civil real.

Conclusão: quem guarda os guardiões?

A OTAN não morreu oficialmente, mas está em coma. E enquanto os seus membros se entretêm com comunicados e reuniões de cúpula, a União Europeia assume cada vez mais o papel de ator militar global — algo que nunca foi votado, discutido profundamente nem legitimado popularmente.

Há algo de profundamente inquietante neste cenário: duas estruturas sobrepostas, ambas sem mandato claro, operando sob o pretexto da segurança, mas cada vez mais envolvidas em jogos de poder, vendas de armamento e estratégias de dissuasão que lembram a lógica da Guerra Fria.

Talvez seja hora de perguntar: quem guarda os guardiões?
Quem vigia a militarização da paz europeia?

E sobretudo: que tipo de futuro está a ser construído quando os antigos pacifistas se tornam os novos generais?

A pergunta torna-se inevitável: com uma União Europeia a militarizar-se e a assumir posições bélicas, o que sobra da OTAN?

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Durante décadas, a OTAN (NATO, na sigla portuguesa) foi o símbolo da segurança euro-atlântica — um escudo nuclear, político e diplomático contra as alegadas ameaças do Leste. Mas em 2025, esse escudo parece mais decorativo do que funcional. Pior: tornou-se o pano de fundo para uma União Europeia cada vez mais beligerante, que, sob o disfarce de “defesa comum” e “solidariedade internacional”, adota uma retórica de guerra e um apetite militarista crescente.

A inoperância da OTAN já não é apenas uma impressão — é uma evidência. E enquanto a aliança atlântica se afoga na sua paralisia interna, a UE emerge como um ator que já não esconde o seu novo fascínio por tanques, drones e zonas de exclusão aérea.

A morte estratégica da OTAN

Criada em 1949 para conter o que dizia ser a ameaça soviética, a OTAN justificou dessa forma a sua existência durante a Guerra Fria. Mas desde a queda do Muro de Berlim, a organização tem vivido de missões mal-sucedidas (Afeganistão), intervenções controversas e à margem do direito internacional (Iraque e Líbia) e uma expansão geográfica que a aproxima mais da Síndrome de Império do que de uma aliança de defesa.

Internamente, a OTAN está fraturada. As tensões entre os EUA e a Europa aumentaram sob Trump e voltaram a emergir com o regresso do isolacionismo americano. A Turquia joga um jogo duplo entre NATO e Rússia. A Grécia e a Hungria desafiam abertamente a lógica coletiva da organização. E os países bálticos gritam por reforços enquanto Berlim faz promessas vazias.

A suposta “resposta unida” à invasão da Ucrânia expôs precisamente essa fragilidade: ajuda militar descoordenada, decisões unilaterais (como o envio de tanques Leopard ou caças F-16), e a dependência gritante dos Estados Unidos para qualquer resposta real. Se os EUA deixarem de garantir o pilar militar da OTAN, a aliança ruirá — todos os actores políticos de aquém e além Atlântico têm ciência disso.

Bruxelas de uniforme: a militarização silenciosa da UE

No entanto, enquanto a OTAN tropeça, a União Europeia vai ao ginásio. Não se trata apenas de um aumento dos orçamentos militares — embora isso também esteja a acontecer. A Alemanha anunciou recentemente um fundo especial de 100 mil milhões de euros para modernizar as suas forças armadas. A Polónia está a tornar-se, em velocidade recorde, uma potência militar regional. França aposta na autonomia estratégica. A Finlândia e a Suécia já se alinham com a lógica atlântica e armamentista.

Mas, mais importante do que os números, é a mudança de mentalidade: a retórica da paz, outrora fundadora da UE, foi substituída por uma narrativa de ameaça constante e necessidade de prontidão militar.

A “Bússola Estratégica”, apresentada como o novo guia de defesa da UE, legitima intervenções militares autónomas. A PESCO (Cooperação Estruturada Permanente) permite que os Estados-membros desenvolvam projetos conjuntos de armamento, fora da alçada da OTAN. E a Comissão Europeia, tradicionalmente ocupada com regulação e orçamento, agora gere também fundos de defesa e inovação militar.

Não é exagero dizer: Bruxelas está a brincar à guerra, mas com munição real.

A hipocrisia europeia: entre o pacifismo institucional e o realismo bélico

A UE adora falar de paz. Cada discurso em Estrasburgo ou Bruxelas começa com referências ao projeto europeu como garantia de estabilidade, mas a prática diz outra coisa.
A União Europeia tornou-se uma das maiores exportadoras de armamento do mundo. Países como França, Alemanha, Itália e Espanha vendem armas a regimes autoritários no Médio Oriente, África e Ásia. Em nome da “autonomia estratégica”, a UE legitima alianças militares com ditaduras desde que os contratos sejam lucrativos.

Na guerra da Ucrânia, a UE teve um papel ambíguo: embora não esteja oficialmente em guerra com a Rússia, tornou-se parte ativa do esforço de guerra ucraniano — com financiamento, treino e armamento. Essa decisão contradiz frontalmente a postura pacifista que a UE tanto apregoa.

Igualmente chocante tem sido o apoio tácito e diplomático de muitos países europeus a Israel durante os bombardeamentos em Gaza, ignorando resoluções internacionais e fingindo neutralidade. A paz, ao que parece, é um princípio seletivo.

Onde está a OTAN? E para que serve?

A pergunta torna-se inevitável: com uma União Europeia a militarizar-se e a assumir posições bélicas, o que sobra da OTAN?

Na prática, muito pouco. A OTAN continua a realizar exercícios conjuntos, emite comunicados pomposos e tenta parecer relevante nos fóruns internacionais. Mas quando o confronto real se instala, a aliança é lenta, confusa e dividida. Mesmo os Estados Unidos — o motor da OTAN — já demonstram cansaço.

O exemplo do Afeganistão foi simbólico: a retirada apressada, mal coordenada e caótica mostrou que a OTAN não tem comando operacional eficaz.

É possível que estejamos perante uma organização que sobrevive por inércia, uma espécie de zumbi geopolítico: sem força para agir, mas demasiado simbólica para desaparecer.

A ilusão da “defesa europeia” como substituto

É aqui que a provocação se impõe: a União Europeia está a usar a decadência da OTAN como justificação para criar o seu próprio músculo militar. Mas essa “defesa europeia” não é neutra nem pacífica — é uma construção ideológica e política que esconde interesses económicos, rivalidades regionais e ambições imperiais.

Por outro lado, nem a decadência industrial da Europa dos 27 devido ao efeito das sanções aplicadas à Rússia justifica o desmesurado projecto de Bruxelas baseado nos 800.000 milhões de euros que Von der Leyen tanto reclama.

A Comissão Europeia, liderada por figuras como a já citada Von der Leyen, Kaja Kalas e António Costa, já fala abertamente em zonas de influência, projeção de força e prontidão militar. A linguagem é quase indistinguível da usada pelos Estados Unidos na década de 1990. O discurso de “intervenção humanitária” começa a soar como pretexto para ocupações seletivas.

Pior ainda: ao concentrar poder militar num bloco como a UE, sem mecanismos claros de responsabilidade nessa área, corremos o risco de criar uma superestrutura armada sem supervisão civil real.

Conclusão: quem guarda os guardiões?

A OTAN não morreu oficialmente, mas está em coma. E enquanto os seus membros se entretêm com comunicados e reuniões de cúpula, a União Europeia assume cada vez mais o papel de ator militar global — algo que nunca foi votado, discutido profundamente nem legitimado popularmente.

Há algo de profundamente inquietante neste cenário: duas estruturas sobrepostas, ambas sem mandato claro, operando sob o pretexto da segurança, mas cada vez mais envolvidas em jogos de poder, vendas de armamento e estratégias de dissuasão que lembram a lógica da Guerra Fria.

Talvez seja hora de perguntar: quem guarda os guardiões?
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The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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