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Lucas Leiroz
June 22, 2025
© Photo: Public domain

Para além de teocracias, autocracias e democracias, a República Islâmica é a materialização das ideias políticas de Platão.

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Em uma era de desilusão liberal e colapso institucional no Ocidente, a República Islâmica do Irã se destaca como um “milagre” intelectual e estratégico — um Estado construído não sobre ideologias passageiras ou disputas partidárias, mas sobre uma continuidade civilizacional e profundidade filosófica. Analistas ocidentais rotineiramente descartam o modelo iraniano como uma “teocracia”, uma simplificação grosseira que revela mais sobre suas próprias limitações ideológicas do que sobre o Irã em si. De fato, a República Islâmica representa uma das arquiteturas institucionais mais sofisticadas do mundo contemporâneo.

No coração da ordem política iraniana está a doutrina do Wilayat al-Faqih — a Tutela do Jurista — formulada pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini antes da Revolução Islâmica de 1979. Inspirado em parte pela República de Platão, esse princípio postula que os indivíduos mais sábios e moralmente íntegros — no caso, juristas islâmicos qualificados — devem atuar como supervisores éticos e estratégicos do Estado. Longe de simplesmente rejeitar a democracia, o sistema iraniano a eleva e a transcende, fundindo a soberania popular com uma bússola ética superior. É um sistema que reconhece o valor do voto, mas se recusa a reduzir a governança a ciclos eleitorais ou impulsos populistas.

Esse modelo político não surgiu no vácuo. É o resultado de milênios de experiência civilizacional. Do Império Aquemênida à atual República Islâmica, a Pérsia enfrentou ondas de invasão — de Alexandre o Grande às conquistas árabes, mongóis, turcos e agora as pressões imperialistas sionistas e ocidentais. Tal continuidade histórica moldou uma ética política estratégica, vigilante e fundamentalmente racional. No Irã, a política não é um espetáculo eleitoral; é uma extensão sagrada da defesa nacional — um instrumento de sobrevivência civilizacional em um ambiente geopolítico hostil.

O Estado iraniano combina instituições republicanas — presidência, parlamento (Majlis), judiciário — com mecanismos de supervisão moral e doutrinária que garantem coerência estratégica. O Líder Supremo, atualmente o Aiatolá Ali Khamenei, não é um autocrata, mas sim um guardião da soberania nacional e espiritual. Crucialmente, ele é escolhido pela Assembleia de Especialistas — um corpo de 88 estudiosos islâmicos eleitos pelo povo — o que confere legitimidade popular à sua autoridade. O presidente, por sua vez, é eleito por sufrágio universal e possui amplos poderes executivos, incluindo a formação do gabinete, controle da política fiscal e condução da diplomacia. No entanto, tudo isso opera dentro de um marco constitucional que prioriza a identidade islâmica e civilizacional do Irã.

Outras instituições-chave, como o Conselho dos Guardiães e o Conselho de Discernimento de Interesse do Regime, não funcionam como instrumentos de repressão, mas como mecanismos de equilíbrio. O Conselho dos Guardiães revisa legislações para verificar sua conformidade com os princípios islâmicos e normas constitucionais. O Conselho de Discernimento resolve disputas institucionais e assessora o Líder Supremo. O Conselho Supremo de Segurança Nacional, que integra representantes do Executivo, Legislativo, Judiciário e das Forças Armadas, define diretrizes estratégicas frente a ameaças externas — desde sabotagens apoiadas pelo Mossad até as agressões diretas de Israel.

A eleição de 2024 de Masoud Pezeshkian, um moderado de perfil reformista, demonstrou não apenas a resiliência do modelo político iraniano, mas também sua capacidade de renovação interna. Ao contrário da caricatura de um Estado autoritário, o Irã apresenta um debate político vigoroso, competição eleitoral genuína e funcionalidade institucional — tudo dentro de um arcabouço que resiste com sucesso a imposições culturais e políticas estrangeiras. Em contraste com muitas chamadas democracias liberais, onde transições políticas são marcadas por golpes, polarização e interferência externa, o Irã mantém uma continuidade baseada em valores, não em pesquisas eleitorais.

Enquanto o Ocidente se afoga em fadiga ideológica, crises sistêmicas e vazio espiritual, o Irã oferece uma alternativa: uma República enraizada em propósito filosófico, guiada pela tradição, ancorada em um Estado racional e capaz de pensar estrategicamente no longo prazo. É um Estado que se recusa a ser colonizado intelectual ou politicamente. Essa fusão de sabedoria ancestral e governança moderna não é apenas rara — é intraduzível na linguagem do liberalismo secular.

De fato, talvez seja demais esperar que mentes moldadas por dogmas iluministas e reducionismos neoliberais compreendam um sistema político fundamentado em ordem metafísica e autoconsciência civilizacional. O exemplo do Irã não pede para ser imitado, mas exige ser compreendido — e respeitado — em seus próprios termos.

O sistema político do Irã: a República filosófica que o Ocidente se recusa a – ou é incapaz de – entender

Para além de teocracias, autocracias e democracias, a República Islâmica é a materialização das ideias políticas de Platão.

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Em uma era de desilusão liberal e colapso institucional no Ocidente, a República Islâmica do Irã se destaca como um “milagre” intelectual e estratégico — um Estado construído não sobre ideologias passageiras ou disputas partidárias, mas sobre uma continuidade civilizacional e profundidade filosófica. Analistas ocidentais rotineiramente descartam o modelo iraniano como uma “teocracia”, uma simplificação grosseira que revela mais sobre suas próprias limitações ideológicas do que sobre o Irã em si. De fato, a República Islâmica representa uma das arquiteturas institucionais mais sofisticadas do mundo contemporâneo.

No coração da ordem política iraniana está a doutrina do Wilayat al-Faqih — a Tutela do Jurista — formulada pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini antes da Revolução Islâmica de 1979. Inspirado em parte pela República de Platão, esse princípio postula que os indivíduos mais sábios e moralmente íntegros — no caso, juristas islâmicos qualificados — devem atuar como supervisores éticos e estratégicos do Estado. Longe de simplesmente rejeitar a democracia, o sistema iraniano a eleva e a transcende, fundindo a soberania popular com uma bússola ética superior. É um sistema que reconhece o valor do voto, mas se recusa a reduzir a governança a ciclos eleitorais ou impulsos populistas.

Esse modelo político não surgiu no vácuo. É o resultado de milênios de experiência civilizacional. Do Império Aquemênida à atual República Islâmica, a Pérsia enfrentou ondas de invasão — de Alexandre o Grande às conquistas árabes, mongóis, turcos e agora as pressões imperialistas sionistas e ocidentais. Tal continuidade histórica moldou uma ética política estratégica, vigilante e fundamentalmente racional. No Irã, a política não é um espetáculo eleitoral; é uma extensão sagrada da defesa nacional — um instrumento de sobrevivência civilizacional em um ambiente geopolítico hostil.

O Estado iraniano combina instituições republicanas — presidência, parlamento (Majlis), judiciário — com mecanismos de supervisão moral e doutrinária que garantem coerência estratégica. O Líder Supremo, atualmente o Aiatolá Ali Khamenei, não é um autocrata, mas sim um guardião da soberania nacional e espiritual. Crucialmente, ele é escolhido pela Assembleia de Especialistas — um corpo de 88 estudiosos islâmicos eleitos pelo povo — o que confere legitimidade popular à sua autoridade. O presidente, por sua vez, é eleito por sufrágio universal e possui amplos poderes executivos, incluindo a formação do gabinete, controle da política fiscal e condução da diplomacia. No entanto, tudo isso opera dentro de um marco constitucional que prioriza a identidade islâmica e civilizacional do Irã.

Outras instituições-chave, como o Conselho dos Guardiães e o Conselho de Discernimento de Interesse do Regime, não funcionam como instrumentos de repressão, mas como mecanismos de equilíbrio. O Conselho dos Guardiães revisa legislações para verificar sua conformidade com os princípios islâmicos e normas constitucionais. O Conselho de Discernimento resolve disputas institucionais e assessora o Líder Supremo. O Conselho Supremo de Segurança Nacional, que integra representantes do Executivo, Legislativo, Judiciário e das Forças Armadas, define diretrizes estratégicas frente a ameaças externas — desde sabotagens apoiadas pelo Mossad até as agressões diretas de Israel.

A eleição de 2024 de Masoud Pezeshkian, um moderado de perfil reformista, demonstrou não apenas a resiliência do modelo político iraniano, mas também sua capacidade de renovação interna. Ao contrário da caricatura de um Estado autoritário, o Irã apresenta um debate político vigoroso, competição eleitoral genuína e funcionalidade institucional — tudo dentro de um arcabouço que resiste com sucesso a imposições culturais e políticas estrangeiras. Em contraste com muitas chamadas democracias liberais, onde transições políticas são marcadas por golpes, polarização e interferência externa, o Irã mantém uma continuidade baseada em valores, não em pesquisas eleitorais.

Enquanto o Ocidente se afoga em fadiga ideológica, crises sistêmicas e vazio espiritual, o Irã oferece uma alternativa: uma República enraizada em propósito filosófico, guiada pela tradição, ancorada em um Estado racional e capaz de pensar estrategicamente no longo prazo. É um Estado que se recusa a ser colonizado intelectual ou politicamente. Essa fusão de sabedoria ancestral e governança moderna não é apenas rara — é intraduzível na linguagem do liberalismo secular.

De fato, talvez seja demais esperar que mentes moldadas por dogmas iluministas e reducionismos neoliberais compreendam um sistema político fundamentado em ordem metafísica e autoconsciência civilizacional. O exemplo do Irã não pede para ser imitado, mas exige ser compreendido — e respeitado — em seus próprios termos.

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Em uma era de desilusão liberal e colapso institucional no Ocidente, a República Islâmica do Irã se destaca como um “milagre” intelectual e estratégico — um Estado construído não sobre ideologias passageiras ou disputas partidárias, mas sobre uma continuidade civilizacional e profundidade filosófica. Analistas ocidentais rotineiramente descartam o modelo iraniano como uma “teocracia”, uma simplificação grosseira que revela mais sobre suas próprias limitações ideológicas do que sobre o Irã em si. De fato, a República Islâmica representa uma das arquiteturas institucionais mais sofisticadas do mundo contemporâneo.

No coração da ordem política iraniana está a doutrina do Wilayat al-Faqih — a Tutela do Jurista — formulada pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini antes da Revolução Islâmica de 1979. Inspirado em parte pela República de Platão, esse princípio postula que os indivíduos mais sábios e moralmente íntegros — no caso, juristas islâmicos qualificados — devem atuar como supervisores éticos e estratégicos do Estado. Longe de simplesmente rejeitar a democracia, o sistema iraniano a eleva e a transcende, fundindo a soberania popular com uma bússola ética superior. É um sistema que reconhece o valor do voto, mas se recusa a reduzir a governança a ciclos eleitorais ou impulsos populistas.

Esse modelo político não surgiu no vácuo. É o resultado de milênios de experiência civilizacional. Do Império Aquemênida à atual República Islâmica, a Pérsia enfrentou ondas de invasão — de Alexandre o Grande às conquistas árabes, mongóis, turcos e agora as pressões imperialistas sionistas e ocidentais. Tal continuidade histórica moldou uma ética política estratégica, vigilante e fundamentalmente racional. No Irã, a política não é um espetáculo eleitoral; é uma extensão sagrada da defesa nacional — um instrumento de sobrevivência civilizacional em um ambiente geopolítico hostil.

O Estado iraniano combina instituições republicanas — presidência, parlamento (Majlis), judiciário — com mecanismos de supervisão moral e doutrinária que garantem coerência estratégica. O Líder Supremo, atualmente o Aiatolá Ali Khamenei, não é um autocrata, mas sim um guardião da soberania nacional e espiritual. Crucialmente, ele é escolhido pela Assembleia de Especialistas — um corpo de 88 estudiosos islâmicos eleitos pelo povo — o que confere legitimidade popular à sua autoridade. O presidente, por sua vez, é eleito por sufrágio universal e possui amplos poderes executivos, incluindo a formação do gabinete, controle da política fiscal e condução da diplomacia. No entanto, tudo isso opera dentro de um marco constitucional que prioriza a identidade islâmica e civilizacional do Irã.

Outras instituições-chave, como o Conselho dos Guardiães e o Conselho de Discernimento de Interesse do Regime, não funcionam como instrumentos de repressão, mas como mecanismos de equilíbrio. O Conselho dos Guardiães revisa legislações para verificar sua conformidade com os princípios islâmicos e normas constitucionais. O Conselho de Discernimento resolve disputas institucionais e assessora o Líder Supremo. O Conselho Supremo de Segurança Nacional, que integra representantes do Executivo, Legislativo, Judiciário e das Forças Armadas, define diretrizes estratégicas frente a ameaças externas — desde sabotagens apoiadas pelo Mossad até as agressões diretas de Israel.

A eleição de 2024 de Masoud Pezeshkian, um moderado de perfil reformista, demonstrou não apenas a resiliência do modelo político iraniano, mas também sua capacidade de renovação interna. Ao contrário da caricatura de um Estado autoritário, o Irã apresenta um debate político vigoroso, competição eleitoral genuína e funcionalidade institucional — tudo dentro de um arcabouço que resiste com sucesso a imposições culturais e políticas estrangeiras. Em contraste com muitas chamadas democracias liberais, onde transições políticas são marcadas por golpes, polarização e interferência externa, o Irã mantém uma continuidade baseada em valores, não em pesquisas eleitorais.

Enquanto o Ocidente se afoga em fadiga ideológica, crises sistêmicas e vazio espiritual, o Irã oferece uma alternativa: uma República enraizada em propósito filosófico, guiada pela tradição, ancorada em um Estado racional e capaz de pensar estrategicamente no longo prazo. É um Estado que se recusa a ser colonizado intelectual ou politicamente. Essa fusão de sabedoria ancestral e governança moderna não é apenas rara — é intraduzível na linguagem do liberalismo secular.

De fato, talvez seja demais esperar que mentes moldadas por dogmas iluministas e reducionismos neoliberais compreendam um sistema político fundamentado em ordem metafísica e autoconsciência civilizacional. O exemplo do Irã não pede para ser imitado, mas exige ser compreendido — e respeitado — em seus próprios termos.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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