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Hugo Dionísio
February 16, 2025
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A entrada de Peter Hegseth no UDCG (Ukraine Defense Contact Group), não se ficou atrás do telefonema entre Trump e Putin, em matéria de afirmação das “novas” pretensões dos EUA quanto ao conflito que decorre na Ucrânia. Em suma, o que o secretário da defesa dos EUA fez, foi dar a conhecer, de forma bem evidente e sem subterfúgios, a direcção que Trump pretende para a questão Ucraniana e que tão bem expressou na plataforma X, a sua nova “USAID”.

O conflito que decorre na Ucrânia será resolvido por via diplomática “a partir de uma posição de força”, força essa que, retiro das palavras do secretário de estado, será conseguida por via do aumento da capacidade dissuasora da “Europa”, um “aliado” que deverá assumir-se como capaz de assegurar a sua própria defesa no que respeita a “meios convencionais”. Assim, essa “posição de força” será conseguida através do aumento substancial dos gastos com a defesa da “Europa”, dos 2, para os 5% do PIB. Para já, pelo menos. A ser cumprida, mais estará certamente por vir.

Mais disse, o que já se sabia, que os EUA se vão concentrar na “dissuasão” da China “comunista”, uma ameaça que consideram estar apontada diretamente aos EUA, aos interesses centrais dos EUA e nomeadamente os do “indo-pacífico”. Logo, a europa, estando agora ciente da “ameaça” à “sua” segurança – nunca desfazendo o clima de ameaça -, tem de se chegar à frente.

Assim, sem precisar qual a ameaça à segurança europeia que justifica tão brutal aumento no investimento para a defesa, uma vez que a principal ameaça agora até vai negociar uma “paz duradoura” como pretende Trump, o Secretário de Estado da Defesa dos EUA, fez uma intervenção cujo potencial subversivo para a EU não pode ser desconsiderado. O seu discurso está em tão directa contradição com o que ouvimos dos “líderes” ocidentais nos últimos 3 anos, que me obriga a reconhecer a possibilidade de estar (meio) errado, quando referi, há algum tempo, que o conflito Ucraniano constituía um catalizador de gastos militares, que Trump não quereria desperdiçar. Estava certo, em parte, pois parece que não desperdiçará. Contudo, Trump tentará vender as armas de outra forma.

Partido de “uma posição de força” e contando com a disciplina dos “líderes” europeus, o presidente Trump espera impor a compra de armas americanas de forma frontal, honesta e directa. Sem correr o perigo de afrontar uma superpotência militar, como fez Biden e os seus fanáticos “moderados” na Comissão, Parlamento e Conselho Europeus. Não obstante, fugindo à confrontação com a maior potência militar do planeta, Trump, na linha do que também permitiu Biden, ambos de olhos na ganância dos lucros com a venda de armas para o continente europeu, acabam por abrir a porta à criação – ou será “recriação”? – de uma outra superpotência, tradicionalmente muito mais danosa para a Europa do que a Federação Russa, ou seja, falo da Alemanha.

Perante a necessidade de financiar o seu complexo militar-industrial, os EUA, atomizando o entendimento pós segunda guerra mundial, voltam a permitir à potência germânica a entrada na corrida ao armamento. Ora, profunda crise económica, mais uma Alemanha armada até aos dentes, só pode dar mau resultado. Daí que, quando o secretário da defesa dos EUA se referiu à “ameaça” à segurança europeia, talvez estivesse a falar da Alemanha. É que, para além da Alemanha e da França, não estou a ver outra potência que se tenha aventurado à conquista da europa e, como nestas coisas da história, a tendência é para se repetirem em padrões circulares ascendentes mais ou menos previsíveis…

Claro que esta “ameaça” velada, associada às negociações de paz com a Federação Russa levanta muitos problemas às instituições europeias. Não é preciso dizer que, uma vez mais, os “líderes” europeus se sentiam bastante mais confortáveis no pântano formado por Biden, o seu partido democrata e toda a máquina de produção de mentiras que era a USAID.

O facto é que, anunciadas as intenções de se ultrapassar o capítulo do fanatismo russófobo gratuito, todos receberam a notícia impávidos e serenos. Sob Trump, o respeitinho é muito bonito e ele pretende afirmá-lo em cada ocasião. Os “líderes” europeus não estão no comando, apenas cumprem ordens. Ao contrário do que fazia Biden, que neles mandando de forma dissimulada, era, afinal, quem os escolhia e seleccionava – Andrew Natsios referiu ao Político que os agentes USAID mais tarde viravam presidentes, ministros, dando como exemplos a primeira mulher vice-presidente na Costa Rica, ou a primeira francesa Presidente da Geórgia, acrescento eu.

Assim, o secretário de estado para defesa dos EUA, indicou o caminho, falou em “solução diplomática”, em “fim” do perigoso conflito e em “negociar”, pasme-se, com a Federação Russa. Para ficarmos ainda mais chocados – ou talvez não e apenas confirmando o que sempre dissemos -, ninguém, nenhum político, militar ou jornalista na sala, o apelidou de “agente do Kremlin”, “empregado de Putin” e essas coisas. Todos estavam maravilhosamente bem-comportados. Como se devem ter sentido invejosos Robert Fitzo e Viktor Orban, perante tal demonstração de apoio às suas ideias.

Vem um tipo dos EUA, acabado de encartar por Trump e, milagre dos milagres, todos ouviram, mastigaram e engoliram, sem um soluço, sem uma esgar de emoção. Maquinal e disciplinadamente, como o mais organizado dos exércitos, o qual, estivesse ele nas mãos de Zelensky e a guerra não acabaria, porque estaria a ser ganha. Fantástico!

E as vezes que gente desta abandonou salas de reunião, deixando sozinhos os seus interlocutores, como Lavrov; as ocasiões em que não viajaram à Hungria ou Eslováquia, desonrando as funções públicas para as quais haviam sido eleitos; desconsiderando as pretensões populares – dos respectivos povos – de paz e harmonia. De repente, da noite para o dia, deixaram de se comportar como um gangue malfeitor e passaram a comportar-se como “políticos responsáveis”. O que me vou rir quando ouvir Rangel (ministro português dos Negócios Estrangeiros), Nuno Melo (ministro da defesa) ou Montenegro (primeiro ministro) falarem de “responsabilidade” e a necessidade de “estar à altura da ocasião”, ou ainda, “olhar para a realidade com pragmatismo”. Gente que ainda ontem estava a “ganhar a guerra” aos malvados russos que vinham invadir a europa inteira!

Vivêssemos nós numa real democracia, daquelas em que é suposto os responsáveis governativos terem vergonha na cara e veríamos cabeças rolar, no sentido figurado, claro. E não apenas de políticos, governantes, mas também de jornalistas, comentadores e de indivíduos que chegaram a ser apresentados como “analistas geopolíticos”, “politólogos” e “cientistas políticos”. Títulos não lhes faltam, mas ver a realidade à frente dos olhos não é capacidade sua e ainda menos é, pensarem pela sua própria cabeça.

O momento é tão virtuoso que vai permitir-nos ver quem é dotado de algo que é comum no corpo humano, mas muito pouco no caracter, principalmente quando se trata de acesso ao espaço público mainstream: espinha dorsal vertical e bem direita. Quem terá a coragem de estar contra a corrente, mantendo a opinião veiculada ao longo dos últimos 3 anos, e quem, mais dissimulada ou desavergonhadamente, adoptará a tendência trumpista.

Na política portuguesa, e não só, foram muito poucos e sempre os mesmos, a afirmarem que a resolução do conflito se faria por via diplomática, exigindo uma “solução negociada” (de 24/02/2022). Tal gente foi atacada de forma tão vil e desavergonhada, que até pedidos de ilegalização surgiram, por parte de cidadãos estrangeiros, que vieram a Portugal exigir que se faça o que os EUA lhe pagaram para fazer ao seu próprio povo , com os danos conhecidos. Esta força política, historicamente resistente, sobrevivente a mais de 40 anos de ditadura fascista, viu-se como nunca ostracizada, vilipendiada, perseguida, apenas por dizer a verdade, tendo sido a única que se recusou a receber, na casa da (tão mal tratada) democracia portuguesa o corrupto, fantoche e nazi Zelensky.

Mas não foi apenas na questão da “resolução diplomática” que tal força política e tais gentes mostraram estar correctos e mostraram avaliar a realidade com mais moderação, equilíbrio e sanidade do que os supostos “moderados”. Este partido sempre disse que a Ucrânia era o “tabuleiro do jogo” entre a OTAN e a Federação Russa, cujo povo que era vítima dessa circunstância, da ganância ocidental por recursos e, acrescentou eu, pelo seu histórico fanatismo contra a Federação Russa, como os Nazis já haviam tido contra a URSS. Sacrilégio e heresia, dizer a verdade em momentos de “pós-verdade”, foi quase mortal. Os ataques de ódio passaram a massacres mediáticos em dinâmica acelerada.

Daí que seja com grande sentido de justiça que ouço Trump e Peter Hegseth afirmarem que “os EUA irão trazer a Federação Russa e a Ucrânia para a mesa” das negociações. “Os EUA”! Os tais que nada tinham a ver com isto, os tais que “apenas” eram benfeitores e preocupados com a Ucrânia e com o povo Ucraniano. Os tais que “não haviam provocado a guerra”. Estes “irresponsáveis” pela situação, afinal, têm o poder e a autoridade, não apenas para sanar o conflito, como para trazer toda a gente para bordo do barco que nos vai afastar da mais perigosa confrontação entre potências nucleares, de que há memória. Ainda ontem Zelensky recusou assinar um acordo com os EUA para transferir para aí os depósitos ucranianos de terras raras. Porque faria Trump tal coisa, se não soubesse o que está, realmente, em causa?

Acresce que, esta inversão, traz ainda consigo uma outra curiosidade. Muito mal vai a democracia quando os “moderados” democratas dizem que querem “derrotar a federação Russa no campo de batalha”, defendem a paz “fazendo a guerra”, são favoráveis ao escalar do conflito através da entrega de “mísseis de longo alcance” e, sobretudo, não se importam, nem um pouco, de apoiar movimentos nazis e governos fantoches que, sem qualquer dúvida, apenas cumpriram ordens a troco de financiamentos e pagamentos e da revenda, no mercado negro – sabe-se lá a quem – de cerca de metade (!!!) das armas enviadas pelos EUA e também pelos países da EU.

Pior ainda fica a democracia quando os “ditadores” Trump e Putin, querem negociar a paz. Que mensagem isto transmite para os povos ocidentais? Para os povos do mundo?

Não existe quem mais tenha feito pela deterioração da democracia, da verdade e do respeito pela vontade popular que pressupõe, do que os partidos do centro neoliberal. Um partido da “esquerda liberal identitária” em Portugal, de enviesamento Trotskista, em 2014 acusava a Ucrânia de ser um viveiro de nazis, em 2022, este mesmo viveiro nazi passou a ser uma vítima de alguém que diziam ser ainda pior, passando a necessidade de “desnazificação” a ser “propaganda putinista”. Dos restantes, dos socialistas neoliberais aos liberais neoconservadores e liberais wokistas, nem vale a pena falar. Sempre foram coerentes com o seu belicismo pró-EUA. Vala-lhes esta coerência, faltando saber em que toca se irão agora esconder, caso subsista alguma vergonha nas suas caras.

Um dos “segredos” mais escondidos pela desinformação da imprensa mainstream, que esta situação desvela, reside na atitude do Presidente da Federação Russa e a sua prontidão para “um diálogo franco, honesto durável para a resolução deste conflito”. O tal que apresentaram como querendo “invadir toda a europa”, que num dia quer “recompor o império czarista cristão ortodoxo” para no outro, pretender reabilitar “a URSS stalinista”, afinal quer negociar. E tantas vezes que ele o disse, tantas quantas a imprensa “credível” e as forças “moderadas” da “democracia” o calaram. Se a “democracia” está a morrer é porque esta gente, que está no poder, a está a matar.

Mas a entrada em cena do secretário Peter Hegseth não soa tão chocante aos ouvidos atentos dos seus futuros seguidores – assim o acredito – se a analisarmos da seguinte forma: embora veemente, assertivo e afirmativo, Hegseth forneceu aos seus interlocutores a saída airosa que lhes permitirá a fuga para a frente, de forma a procederem ao necessário contorcionismo, sem que as suas vergonhas fiquem tão expostas.

Com efeito, referindo sempre a necessidade de “paz através da força” e assinalando que, essa força, se consegue através do compromisso dos “aliados” com gastos na ordem dos 5% do PIB, em defesa “convencional”, porque a estratégica, a que conta, a que dissuade, essa continua com os próprios EUA, não apenas Hegseth forneceu a direcção da acção política futura face à Ucrânia, como a “mentira” que justificará tal actuação, permitindo que, perante mais uma total e previsível derrota, os “europeus” possam, mesmo assim, cantar vitória.

É como se o secretário da defesa dos EUA, não quisesse fazer sofrer demasiado gente como Macron, Sholz, Starmer, tão efusivos na defesa da guerra, tão veementes na “necessidade de derrota estratégica da Federação Russa”. Para que estes tenham uma saída airosa, à moda do pântano USAID e das directrizes do Departamento de Estado de Biden ou Obama, Peter Hegseth fornece-lhes a justificação e a argumentação, como se usasse uma daquelas tabelas tão em voga nas ONG e média mainstream na Geórgia, Moldávia ou Ucrânia.

Então, prevendo o esforço inusitado necessário, comunicou: “digam que, não se derrotando a Federação Russa no campo de batalha, ao invés, esta ficará petrificada de medo porque os europeus investirão como nunca na defesa”. É comos e dissesse que “a europa sairá deste conflito mais forte que nunca”! O preço dessa vitória são “5% do PIB em armas americanas”!

Já estou a ver António Costa dizer: “temos de ser realistas e responsáveis”, “mas esta negociação é uma derrota para a Federação Russa”; “queria ficar com a Ucrânia toda, mas só ficou com uma parte (a mais valiosa)”; “queria submeter e desarmar a Europa, mas só conseguiu que esta ficasse mais unida, forte e coesa na sua vertente atlântica”; “queria uma europa fraca, mas a europa terá uma capacidade de dissuasão como nunca teve, com 5% do PIB de investimento na defesa”; “portanto, Putin foi derrotado, Putin perdeu, Putin é mau, Putin é o pior, Putin é o pior de todos e de todo o mundo”; “e quem não o reconhecer é putinista, agente do kremlin, apoiante de ditadores”…

No final disto tudo, quem é que é deveras derrotado? Não se esqueçam que continuamos no plano da mentira, e não será com Trump que tal mentira acabará. Trump, quanto muito, obrigará à adopção de um certo pragmatismo e ao abandono das guerras eternas de que o partido democrata tanto gosta, para justificar gastos exorbitantes em defesa. Refira-se a este respeito que, também com Biden chegaríamos aos 5%. Sempre com a ameaça de guerra, sempre através da mentira e do seu pântano de falsas virtudes. Com Trump é dada a ordem e já está, não é preciso inventar perigosas guerras, como fizeram Clinton, Bush, Obama, todos observados de perto por Biden.

Mas com esta saída airosa, está apresentada, aos “europeus” a “derrota estratégica de Putin”. A Europa ficará mais forte que nunca e Putin petrificado de medo. E no fim, tal como com o povo Ucraniano, quem se lixa são os povos europeus. Com as respectivas economias em crise profunda (a Russa cresce a 4,1%!!!), com muitos a viverem na rua e a passarem fome, a grande urgência não é dar comida, casa, saúde ou educação. É satisfazer os apetites do complexo militar industrial dos EUA!

A “derrota de Putin” será uma pós-verdade, acompanhada da verdadeira derrota dos povos europeus e ucraniano!

A paz na Ucrânia à custa da derrota dos povos europeus

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A entrada de Peter Hegseth no UDCG (Ukraine Defense Contact Group), não se ficou atrás do telefonema entre Trump e Putin, em matéria de afirmação das “novas” pretensões dos EUA quanto ao conflito que decorre na Ucrânia. Em suma, o que o secretário da defesa dos EUA fez, foi dar a conhecer, de forma bem evidente e sem subterfúgios, a direcção que Trump pretende para a questão Ucraniana e que tão bem expressou na plataforma X, a sua nova “USAID”.

O conflito que decorre na Ucrânia será resolvido por via diplomática “a partir de uma posição de força”, força essa que, retiro das palavras do secretário de estado, será conseguida por via do aumento da capacidade dissuasora da “Europa”, um “aliado” que deverá assumir-se como capaz de assegurar a sua própria defesa no que respeita a “meios convencionais”. Assim, essa “posição de força” será conseguida através do aumento substancial dos gastos com a defesa da “Europa”, dos 2, para os 5% do PIB. Para já, pelo menos. A ser cumprida, mais estará certamente por vir.

Mais disse, o que já se sabia, que os EUA se vão concentrar na “dissuasão” da China “comunista”, uma ameaça que consideram estar apontada diretamente aos EUA, aos interesses centrais dos EUA e nomeadamente os do “indo-pacífico”. Logo, a europa, estando agora ciente da “ameaça” à “sua” segurança – nunca desfazendo o clima de ameaça -, tem de se chegar à frente.

Assim, sem precisar qual a ameaça à segurança europeia que justifica tão brutal aumento no investimento para a defesa, uma vez que a principal ameaça agora até vai negociar uma “paz duradoura” como pretende Trump, o Secretário de Estado da Defesa dos EUA, fez uma intervenção cujo potencial subversivo para a EU não pode ser desconsiderado. O seu discurso está em tão directa contradição com o que ouvimos dos “líderes” ocidentais nos últimos 3 anos, que me obriga a reconhecer a possibilidade de estar (meio) errado, quando referi, há algum tempo, que o conflito Ucraniano constituía um catalizador de gastos militares, que Trump não quereria desperdiçar. Estava certo, em parte, pois parece que não desperdiçará. Contudo, Trump tentará vender as armas de outra forma.

Partido de “uma posição de força” e contando com a disciplina dos “líderes” europeus, o presidente Trump espera impor a compra de armas americanas de forma frontal, honesta e directa. Sem correr o perigo de afrontar uma superpotência militar, como fez Biden e os seus fanáticos “moderados” na Comissão, Parlamento e Conselho Europeus. Não obstante, fugindo à confrontação com a maior potência militar do planeta, Trump, na linha do que também permitiu Biden, ambos de olhos na ganância dos lucros com a venda de armas para o continente europeu, acabam por abrir a porta à criação – ou será “recriação”? – de uma outra superpotência, tradicionalmente muito mais danosa para a Europa do que a Federação Russa, ou seja, falo da Alemanha.

Perante a necessidade de financiar o seu complexo militar-industrial, os EUA, atomizando o entendimento pós segunda guerra mundial, voltam a permitir à potência germânica a entrada na corrida ao armamento. Ora, profunda crise económica, mais uma Alemanha armada até aos dentes, só pode dar mau resultado. Daí que, quando o secretário da defesa dos EUA se referiu à “ameaça” à segurança europeia, talvez estivesse a falar da Alemanha. É que, para além da Alemanha e da França, não estou a ver outra potência que se tenha aventurado à conquista da europa e, como nestas coisas da história, a tendência é para se repetirem em padrões circulares ascendentes mais ou menos previsíveis…

Claro que esta “ameaça” velada, associada às negociações de paz com a Federação Russa levanta muitos problemas às instituições europeias. Não é preciso dizer que, uma vez mais, os “líderes” europeus se sentiam bastante mais confortáveis no pântano formado por Biden, o seu partido democrata e toda a máquina de produção de mentiras que era a USAID.

O facto é que, anunciadas as intenções de se ultrapassar o capítulo do fanatismo russófobo gratuito, todos receberam a notícia impávidos e serenos. Sob Trump, o respeitinho é muito bonito e ele pretende afirmá-lo em cada ocasião. Os “líderes” europeus não estão no comando, apenas cumprem ordens. Ao contrário do que fazia Biden, que neles mandando de forma dissimulada, era, afinal, quem os escolhia e seleccionava – Andrew Natsios referiu ao Político que os agentes USAID mais tarde viravam presidentes, ministros, dando como exemplos a primeira mulher vice-presidente na Costa Rica, ou a primeira francesa Presidente da Geórgia, acrescento eu.

Assim, o secretário de estado para defesa dos EUA, indicou o caminho, falou em “solução diplomática”, em “fim” do perigoso conflito e em “negociar”, pasme-se, com a Federação Russa. Para ficarmos ainda mais chocados – ou talvez não e apenas confirmando o que sempre dissemos -, ninguém, nenhum político, militar ou jornalista na sala, o apelidou de “agente do Kremlin”, “empregado de Putin” e essas coisas. Todos estavam maravilhosamente bem-comportados. Como se devem ter sentido invejosos Robert Fitzo e Viktor Orban, perante tal demonstração de apoio às suas ideias.

Vem um tipo dos EUA, acabado de encartar por Trump e, milagre dos milagres, todos ouviram, mastigaram e engoliram, sem um soluço, sem uma esgar de emoção. Maquinal e disciplinadamente, como o mais organizado dos exércitos, o qual, estivesse ele nas mãos de Zelensky e a guerra não acabaria, porque estaria a ser ganha. Fantástico!

E as vezes que gente desta abandonou salas de reunião, deixando sozinhos os seus interlocutores, como Lavrov; as ocasiões em que não viajaram à Hungria ou Eslováquia, desonrando as funções públicas para as quais haviam sido eleitos; desconsiderando as pretensões populares – dos respectivos povos – de paz e harmonia. De repente, da noite para o dia, deixaram de se comportar como um gangue malfeitor e passaram a comportar-se como “políticos responsáveis”. O que me vou rir quando ouvir Rangel (ministro português dos Negócios Estrangeiros), Nuno Melo (ministro da defesa) ou Montenegro (primeiro ministro) falarem de “responsabilidade” e a necessidade de “estar à altura da ocasião”, ou ainda, “olhar para a realidade com pragmatismo”. Gente que ainda ontem estava a “ganhar a guerra” aos malvados russos que vinham invadir a europa inteira!

Vivêssemos nós numa real democracia, daquelas em que é suposto os responsáveis governativos terem vergonha na cara e veríamos cabeças rolar, no sentido figurado, claro. E não apenas de políticos, governantes, mas também de jornalistas, comentadores e de indivíduos que chegaram a ser apresentados como “analistas geopolíticos”, “politólogos” e “cientistas políticos”. Títulos não lhes faltam, mas ver a realidade à frente dos olhos não é capacidade sua e ainda menos é, pensarem pela sua própria cabeça.

O momento é tão virtuoso que vai permitir-nos ver quem é dotado de algo que é comum no corpo humano, mas muito pouco no caracter, principalmente quando se trata de acesso ao espaço público mainstream: espinha dorsal vertical e bem direita. Quem terá a coragem de estar contra a corrente, mantendo a opinião veiculada ao longo dos últimos 3 anos, e quem, mais dissimulada ou desavergonhadamente, adoptará a tendência trumpista.

Na política portuguesa, e não só, foram muito poucos e sempre os mesmos, a afirmarem que a resolução do conflito se faria por via diplomática, exigindo uma “solução negociada” (de 24/02/2022). Tal gente foi atacada de forma tão vil e desavergonhada, que até pedidos de ilegalização surgiram, por parte de cidadãos estrangeiros, que vieram a Portugal exigir que se faça o que os EUA lhe pagaram para fazer ao seu próprio povo , com os danos conhecidos. Esta força política, historicamente resistente, sobrevivente a mais de 40 anos de ditadura fascista, viu-se como nunca ostracizada, vilipendiada, perseguida, apenas por dizer a verdade, tendo sido a única que se recusou a receber, na casa da (tão mal tratada) democracia portuguesa o corrupto, fantoche e nazi Zelensky.

Mas não foi apenas na questão da “resolução diplomática” que tal força política e tais gentes mostraram estar correctos e mostraram avaliar a realidade com mais moderação, equilíbrio e sanidade do que os supostos “moderados”. Este partido sempre disse que a Ucrânia era o “tabuleiro do jogo” entre a OTAN e a Federação Russa, cujo povo que era vítima dessa circunstância, da ganância ocidental por recursos e, acrescentou eu, pelo seu histórico fanatismo contra a Federação Russa, como os Nazis já haviam tido contra a URSS. Sacrilégio e heresia, dizer a verdade em momentos de “pós-verdade”, foi quase mortal. Os ataques de ódio passaram a massacres mediáticos em dinâmica acelerada.

Daí que seja com grande sentido de justiça que ouço Trump e Peter Hegseth afirmarem que “os EUA irão trazer a Federação Russa e a Ucrânia para a mesa” das negociações. “Os EUA”! Os tais que nada tinham a ver com isto, os tais que “apenas” eram benfeitores e preocupados com a Ucrânia e com o povo Ucraniano. Os tais que “não haviam provocado a guerra”. Estes “irresponsáveis” pela situação, afinal, têm o poder e a autoridade, não apenas para sanar o conflito, como para trazer toda a gente para bordo do barco que nos vai afastar da mais perigosa confrontação entre potências nucleares, de que há memória. Ainda ontem Zelensky recusou assinar um acordo com os EUA para transferir para aí os depósitos ucranianos de terras raras. Porque faria Trump tal coisa, se não soubesse o que está, realmente, em causa?

Acresce que, esta inversão, traz ainda consigo uma outra curiosidade. Muito mal vai a democracia quando os “moderados” democratas dizem que querem “derrotar a federação Russa no campo de batalha”, defendem a paz “fazendo a guerra”, são favoráveis ao escalar do conflito através da entrega de “mísseis de longo alcance” e, sobretudo, não se importam, nem um pouco, de apoiar movimentos nazis e governos fantoches que, sem qualquer dúvida, apenas cumpriram ordens a troco de financiamentos e pagamentos e da revenda, no mercado negro – sabe-se lá a quem – de cerca de metade (!!!) das armas enviadas pelos EUA e também pelos países da EU.

Pior ainda fica a democracia quando os “ditadores” Trump e Putin, querem negociar a paz. Que mensagem isto transmite para os povos ocidentais? Para os povos do mundo?

Não existe quem mais tenha feito pela deterioração da democracia, da verdade e do respeito pela vontade popular que pressupõe, do que os partidos do centro neoliberal. Um partido da “esquerda liberal identitária” em Portugal, de enviesamento Trotskista, em 2014 acusava a Ucrânia de ser um viveiro de nazis, em 2022, este mesmo viveiro nazi passou a ser uma vítima de alguém que diziam ser ainda pior, passando a necessidade de “desnazificação” a ser “propaganda putinista”. Dos restantes, dos socialistas neoliberais aos liberais neoconservadores e liberais wokistas, nem vale a pena falar. Sempre foram coerentes com o seu belicismo pró-EUA. Vala-lhes esta coerência, faltando saber em que toca se irão agora esconder, caso subsista alguma vergonha nas suas caras.

Um dos “segredos” mais escondidos pela desinformação da imprensa mainstream, que esta situação desvela, reside na atitude do Presidente da Federação Russa e a sua prontidão para “um diálogo franco, honesto durável para a resolução deste conflito”. O tal que apresentaram como querendo “invadir toda a europa”, que num dia quer “recompor o império czarista cristão ortodoxo” para no outro, pretender reabilitar “a URSS stalinista”, afinal quer negociar. E tantas vezes que ele o disse, tantas quantas a imprensa “credível” e as forças “moderadas” da “democracia” o calaram. Se a “democracia” está a morrer é porque esta gente, que está no poder, a está a matar.

Mas a entrada em cena do secretário Peter Hegseth não soa tão chocante aos ouvidos atentos dos seus futuros seguidores – assim o acredito – se a analisarmos da seguinte forma: embora veemente, assertivo e afirmativo, Hegseth forneceu aos seus interlocutores a saída airosa que lhes permitirá a fuga para a frente, de forma a procederem ao necessário contorcionismo, sem que as suas vergonhas fiquem tão expostas.

Com efeito, referindo sempre a necessidade de “paz através da força” e assinalando que, essa força, se consegue através do compromisso dos “aliados” com gastos na ordem dos 5% do PIB, em defesa “convencional”, porque a estratégica, a que conta, a que dissuade, essa continua com os próprios EUA, não apenas Hegseth forneceu a direcção da acção política futura face à Ucrânia, como a “mentira” que justificará tal actuação, permitindo que, perante mais uma total e previsível derrota, os “europeus” possam, mesmo assim, cantar vitória.

É como se o secretário da defesa dos EUA, não quisesse fazer sofrer demasiado gente como Macron, Sholz, Starmer, tão efusivos na defesa da guerra, tão veementes na “necessidade de derrota estratégica da Federação Russa”. Para que estes tenham uma saída airosa, à moda do pântano USAID e das directrizes do Departamento de Estado de Biden ou Obama, Peter Hegseth fornece-lhes a justificação e a argumentação, como se usasse uma daquelas tabelas tão em voga nas ONG e média mainstream na Geórgia, Moldávia ou Ucrânia.

Então, prevendo o esforço inusitado necessário, comunicou: “digam que, não se derrotando a Federação Russa no campo de batalha, ao invés, esta ficará petrificada de medo porque os europeus investirão como nunca na defesa”. É comos e dissesse que “a europa sairá deste conflito mais forte que nunca”! O preço dessa vitória são “5% do PIB em armas americanas”!

Já estou a ver António Costa dizer: “temos de ser realistas e responsáveis”, “mas esta negociação é uma derrota para a Federação Russa”; “queria ficar com a Ucrânia toda, mas só ficou com uma parte (a mais valiosa)”; “queria submeter e desarmar a Europa, mas só conseguiu que esta ficasse mais unida, forte e coesa na sua vertente atlântica”; “queria uma europa fraca, mas a europa terá uma capacidade de dissuasão como nunca teve, com 5% do PIB de investimento na defesa”; “portanto, Putin foi derrotado, Putin perdeu, Putin é mau, Putin é o pior, Putin é o pior de todos e de todo o mundo”; “e quem não o reconhecer é putinista, agente do kremlin, apoiante de ditadores”…

No final disto tudo, quem é que é deveras derrotado? Não se esqueçam que continuamos no plano da mentira, e não será com Trump que tal mentira acabará. Trump, quanto muito, obrigará à adopção de um certo pragmatismo e ao abandono das guerras eternas de que o partido democrata tanto gosta, para justificar gastos exorbitantes em defesa. Refira-se a este respeito que, também com Biden chegaríamos aos 5%. Sempre com a ameaça de guerra, sempre através da mentira e do seu pântano de falsas virtudes. Com Trump é dada a ordem e já está, não é preciso inventar perigosas guerras, como fizeram Clinton, Bush, Obama, todos observados de perto por Biden.

Mas com esta saída airosa, está apresentada, aos “europeus” a “derrota estratégica de Putin”. A Europa ficará mais forte que nunca e Putin petrificado de medo. E no fim, tal como com o povo Ucraniano, quem se lixa são os povos europeus. Com as respectivas economias em crise profunda (a Russa cresce a 4,1%!!!), com muitos a viverem na rua e a passarem fome, a grande urgência não é dar comida, casa, saúde ou educação. É satisfazer os apetites do complexo militar industrial dos EUA!

A “derrota de Putin” será uma pós-verdade, acompanhada da verdadeira derrota dos povos europeus e ucraniano!

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A entrada de Peter Hegseth no UDCG (Ukraine Defense Contact Group), não se ficou atrás do telefonema entre Trump e Putin, em matéria de afirmação das “novas” pretensões dos EUA quanto ao conflito que decorre na Ucrânia. Em suma, o que o secretário da defesa dos EUA fez, foi dar a conhecer, de forma bem evidente e sem subterfúgios, a direcção que Trump pretende para a questão Ucraniana e que tão bem expressou na plataforma X, a sua nova “USAID”.

O conflito que decorre na Ucrânia será resolvido por via diplomática “a partir de uma posição de força”, força essa que, retiro das palavras do secretário de estado, será conseguida por via do aumento da capacidade dissuasora da “Europa”, um “aliado” que deverá assumir-se como capaz de assegurar a sua própria defesa no que respeita a “meios convencionais”. Assim, essa “posição de força” será conseguida através do aumento substancial dos gastos com a defesa da “Europa”, dos 2, para os 5% do PIB. Para já, pelo menos. A ser cumprida, mais estará certamente por vir.

Mais disse, o que já se sabia, que os EUA se vão concentrar na “dissuasão” da China “comunista”, uma ameaça que consideram estar apontada diretamente aos EUA, aos interesses centrais dos EUA e nomeadamente os do “indo-pacífico”. Logo, a europa, estando agora ciente da “ameaça” à “sua” segurança – nunca desfazendo o clima de ameaça -, tem de se chegar à frente.

Assim, sem precisar qual a ameaça à segurança europeia que justifica tão brutal aumento no investimento para a defesa, uma vez que a principal ameaça agora até vai negociar uma “paz duradoura” como pretende Trump, o Secretário de Estado da Defesa dos EUA, fez uma intervenção cujo potencial subversivo para a EU não pode ser desconsiderado. O seu discurso está em tão directa contradição com o que ouvimos dos “líderes” ocidentais nos últimos 3 anos, que me obriga a reconhecer a possibilidade de estar (meio) errado, quando referi, há algum tempo, que o conflito Ucraniano constituía um catalizador de gastos militares, que Trump não quereria desperdiçar. Estava certo, em parte, pois parece que não desperdiçará. Contudo, Trump tentará vender as armas de outra forma.

Partido de “uma posição de força” e contando com a disciplina dos “líderes” europeus, o presidente Trump espera impor a compra de armas americanas de forma frontal, honesta e directa. Sem correr o perigo de afrontar uma superpotência militar, como fez Biden e os seus fanáticos “moderados” na Comissão, Parlamento e Conselho Europeus. Não obstante, fugindo à confrontação com a maior potência militar do planeta, Trump, na linha do que também permitiu Biden, ambos de olhos na ganância dos lucros com a venda de armas para o continente europeu, acabam por abrir a porta à criação – ou será “recriação”? – de uma outra superpotência, tradicionalmente muito mais danosa para a Europa do que a Federação Russa, ou seja, falo da Alemanha.

Perante a necessidade de financiar o seu complexo militar-industrial, os EUA, atomizando o entendimento pós segunda guerra mundial, voltam a permitir à potência germânica a entrada na corrida ao armamento. Ora, profunda crise económica, mais uma Alemanha armada até aos dentes, só pode dar mau resultado. Daí que, quando o secretário da defesa dos EUA se referiu à “ameaça” à segurança europeia, talvez estivesse a falar da Alemanha. É que, para além da Alemanha e da França, não estou a ver outra potência que se tenha aventurado à conquista da europa e, como nestas coisas da história, a tendência é para se repetirem em padrões circulares ascendentes mais ou menos previsíveis…

Claro que esta “ameaça” velada, associada às negociações de paz com a Federação Russa levanta muitos problemas às instituições europeias. Não é preciso dizer que, uma vez mais, os “líderes” europeus se sentiam bastante mais confortáveis no pântano formado por Biden, o seu partido democrata e toda a máquina de produção de mentiras que era a USAID.

O facto é que, anunciadas as intenções de se ultrapassar o capítulo do fanatismo russófobo gratuito, todos receberam a notícia impávidos e serenos. Sob Trump, o respeitinho é muito bonito e ele pretende afirmá-lo em cada ocasião. Os “líderes” europeus não estão no comando, apenas cumprem ordens. Ao contrário do que fazia Biden, que neles mandando de forma dissimulada, era, afinal, quem os escolhia e seleccionava – Andrew Natsios referiu ao Político que os agentes USAID mais tarde viravam presidentes, ministros, dando como exemplos a primeira mulher vice-presidente na Costa Rica, ou a primeira francesa Presidente da Geórgia, acrescento eu.

Assim, o secretário de estado para defesa dos EUA, indicou o caminho, falou em “solução diplomática”, em “fim” do perigoso conflito e em “negociar”, pasme-se, com a Federação Russa. Para ficarmos ainda mais chocados – ou talvez não e apenas confirmando o que sempre dissemos -, ninguém, nenhum político, militar ou jornalista na sala, o apelidou de “agente do Kremlin”, “empregado de Putin” e essas coisas. Todos estavam maravilhosamente bem-comportados. Como se devem ter sentido invejosos Robert Fitzo e Viktor Orban, perante tal demonstração de apoio às suas ideias.

Vem um tipo dos EUA, acabado de encartar por Trump e, milagre dos milagres, todos ouviram, mastigaram e engoliram, sem um soluço, sem uma esgar de emoção. Maquinal e disciplinadamente, como o mais organizado dos exércitos, o qual, estivesse ele nas mãos de Zelensky e a guerra não acabaria, porque estaria a ser ganha. Fantástico!

E as vezes que gente desta abandonou salas de reunião, deixando sozinhos os seus interlocutores, como Lavrov; as ocasiões em que não viajaram à Hungria ou Eslováquia, desonrando as funções públicas para as quais haviam sido eleitos; desconsiderando as pretensões populares – dos respectivos povos – de paz e harmonia. De repente, da noite para o dia, deixaram de se comportar como um gangue malfeitor e passaram a comportar-se como “políticos responsáveis”. O que me vou rir quando ouvir Rangel (ministro português dos Negócios Estrangeiros), Nuno Melo (ministro da defesa) ou Montenegro (primeiro ministro) falarem de “responsabilidade” e a necessidade de “estar à altura da ocasião”, ou ainda, “olhar para a realidade com pragmatismo”. Gente que ainda ontem estava a “ganhar a guerra” aos malvados russos que vinham invadir a europa inteira!

Vivêssemos nós numa real democracia, daquelas em que é suposto os responsáveis governativos terem vergonha na cara e veríamos cabeças rolar, no sentido figurado, claro. E não apenas de políticos, governantes, mas também de jornalistas, comentadores e de indivíduos que chegaram a ser apresentados como “analistas geopolíticos”, “politólogos” e “cientistas políticos”. Títulos não lhes faltam, mas ver a realidade à frente dos olhos não é capacidade sua e ainda menos é, pensarem pela sua própria cabeça.

O momento é tão virtuoso que vai permitir-nos ver quem é dotado de algo que é comum no corpo humano, mas muito pouco no caracter, principalmente quando se trata de acesso ao espaço público mainstream: espinha dorsal vertical e bem direita. Quem terá a coragem de estar contra a corrente, mantendo a opinião veiculada ao longo dos últimos 3 anos, e quem, mais dissimulada ou desavergonhadamente, adoptará a tendência trumpista.

Na política portuguesa, e não só, foram muito poucos e sempre os mesmos, a afirmarem que a resolução do conflito se faria por via diplomática, exigindo uma “solução negociada” (de 24/02/2022). Tal gente foi atacada de forma tão vil e desavergonhada, que até pedidos de ilegalização surgiram, por parte de cidadãos estrangeiros, que vieram a Portugal exigir que se faça o que os EUA lhe pagaram para fazer ao seu próprio povo , com os danos conhecidos. Esta força política, historicamente resistente, sobrevivente a mais de 40 anos de ditadura fascista, viu-se como nunca ostracizada, vilipendiada, perseguida, apenas por dizer a verdade, tendo sido a única que se recusou a receber, na casa da (tão mal tratada) democracia portuguesa o corrupto, fantoche e nazi Zelensky.

Mas não foi apenas na questão da “resolução diplomática” que tal força política e tais gentes mostraram estar correctos e mostraram avaliar a realidade com mais moderação, equilíbrio e sanidade do que os supostos “moderados”. Este partido sempre disse que a Ucrânia era o “tabuleiro do jogo” entre a OTAN e a Federação Russa, cujo povo que era vítima dessa circunstância, da ganância ocidental por recursos e, acrescentou eu, pelo seu histórico fanatismo contra a Federação Russa, como os Nazis já haviam tido contra a URSS. Sacrilégio e heresia, dizer a verdade em momentos de “pós-verdade”, foi quase mortal. Os ataques de ódio passaram a massacres mediáticos em dinâmica acelerada.

Daí que seja com grande sentido de justiça que ouço Trump e Peter Hegseth afirmarem que “os EUA irão trazer a Federação Russa e a Ucrânia para a mesa” das negociações. “Os EUA”! Os tais que nada tinham a ver com isto, os tais que “apenas” eram benfeitores e preocupados com a Ucrânia e com o povo Ucraniano. Os tais que “não haviam provocado a guerra”. Estes “irresponsáveis” pela situação, afinal, têm o poder e a autoridade, não apenas para sanar o conflito, como para trazer toda a gente para bordo do barco que nos vai afastar da mais perigosa confrontação entre potências nucleares, de que há memória. Ainda ontem Zelensky recusou assinar um acordo com os EUA para transferir para aí os depósitos ucranianos de terras raras. Porque faria Trump tal coisa, se não soubesse o que está, realmente, em causa?

Acresce que, esta inversão, traz ainda consigo uma outra curiosidade. Muito mal vai a democracia quando os “moderados” democratas dizem que querem “derrotar a federação Russa no campo de batalha”, defendem a paz “fazendo a guerra”, são favoráveis ao escalar do conflito através da entrega de “mísseis de longo alcance” e, sobretudo, não se importam, nem um pouco, de apoiar movimentos nazis e governos fantoches que, sem qualquer dúvida, apenas cumpriram ordens a troco de financiamentos e pagamentos e da revenda, no mercado negro – sabe-se lá a quem – de cerca de metade (!!!) das armas enviadas pelos EUA e também pelos países da EU.

Pior ainda fica a democracia quando os “ditadores” Trump e Putin, querem negociar a paz. Que mensagem isto transmite para os povos ocidentais? Para os povos do mundo?

Não existe quem mais tenha feito pela deterioração da democracia, da verdade e do respeito pela vontade popular que pressupõe, do que os partidos do centro neoliberal. Um partido da “esquerda liberal identitária” em Portugal, de enviesamento Trotskista, em 2014 acusava a Ucrânia de ser um viveiro de nazis, em 2022, este mesmo viveiro nazi passou a ser uma vítima de alguém que diziam ser ainda pior, passando a necessidade de “desnazificação” a ser “propaganda putinista”. Dos restantes, dos socialistas neoliberais aos liberais neoconservadores e liberais wokistas, nem vale a pena falar. Sempre foram coerentes com o seu belicismo pró-EUA. Vala-lhes esta coerência, faltando saber em que toca se irão agora esconder, caso subsista alguma vergonha nas suas caras.

Um dos “segredos” mais escondidos pela desinformação da imprensa mainstream, que esta situação desvela, reside na atitude do Presidente da Federação Russa e a sua prontidão para “um diálogo franco, honesto durável para a resolução deste conflito”. O tal que apresentaram como querendo “invadir toda a europa”, que num dia quer “recompor o império czarista cristão ortodoxo” para no outro, pretender reabilitar “a URSS stalinista”, afinal quer negociar. E tantas vezes que ele o disse, tantas quantas a imprensa “credível” e as forças “moderadas” da “democracia” o calaram. Se a “democracia” está a morrer é porque esta gente, que está no poder, a está a matar.

Mas a entrada em cena do secretário Peter Hegseth não soa tão chocante aos ouvidos atentos dos seus futuros seguidores – assim o acredito – se a analisarmos da seguinte forma: embora veemente, assertivo e afirmativo, Hegseth forneceu aos seus interlocutores a saída airosa que lhes permitirá a fuga para a frente, de forma a procederem ao necessário contorcionismo, sem que as suas vergonhas fiquem tão expostas.

Com efeito, referindo sempre a necessidade de “paz através da força” e assinalando que, essa força, se consegue através do compromisso dos “aliados” com gastos na ordem dos 5% do PIB, em defesa “convencional”, porque a estratégica, a que conta, a que dissuade, essa continua com os próprios EUA, não apenas Hegseth forneceu a direcção da acção política futura face à Ucrânia, como a “mentira” que justificará tal actuação, permitindo que, perante mais uma total e previsível derrota, os “europeus” possam, mesmo assim, cantar vitória.

É como se o secretário da defesa dos EUA, não quisesse fazer sofrer demasiado gente como Macron, Sholz, Starmer, tão efusivos na defesa da guerra, tão veementes na “necessidade de derrota estratégica da Federação Russa”. Para que estes tenham uma saída airosa, à moda do pântano USAID e das directrizes do Departamento de Estado de Biden ou Obama, Peter Hegseth fornece-lhes a justificação e a argumentação, como se usasse uma daquelas tabelas tão em voga nas ONG e média mainstream na Geórgia, Moldávia ou Ucrânia.

Então, prevendo o esforço inusitado necessário, comunicou: “digam que, não se derrotando a Federação Russa no campo de batalha, ao invés, esta ficará petrificada de medo porque os europeus investirão como nunca na defesa”. É comos e dissesse que “a europa sairá deste conflito mais forte que nunca”! O preço dessa vitória são “5% do PIB em armas americanas”!

Já estou a ver António Costa dizer: “temos de ser realistas e responsáveis”, “mas esta negociação é uma derrota para a Federação Russa”; “queria ficar com a Ucrânia toda, mas só ficou com uma parte (a mais valiosa)”; “queria submeter e desarmar a Europa, mas só conseguiu que esta ficasse mais unida, forte e coesa na sua vertente atlântica”; “queria uma europa fraca, mas a europa terá uma capacidade de dissuasão como nunca teve, com 5% do PIB de investimento na defesa”; “portanto, Putin foi derrotado, Putin perdeu, Putin é mau, Putin é o pior, Putin é o pior de todos e de todo o mundo”; “e quem não o reconhecer é putinista, agente do kremlin, apoiante de ditadores”…

No final disto tudo, quem é que é deveras derrotado? Não se esqueçam que continuamos no plano da mentira, e não será com Trump que tal mentira acabará. Trump, quanto muito, obrigará à adopção de um certo pragmatismo e ao abandono das guerras eternas de que o partido democrata tanto gosta, para justificar gastos exorbitantes em defesa. Refira-se a este respeito que, também com Biden chegaríamos aos 5%. Sempre com a ameaça de guerra, sempre através da mentira e do seu pântano de falsas virtudes. Com Trump é dada a ordem e já está, não é preciso inventar perigosas guerras, como fizeram Clinton, Bush, Obama, todos observados de perto por Biden.

Mas com esta saída airosa, está apresentada, aos “europeus” a “derrota estratégica de Putin”. A Europa ficará mais forte que nunca e Putin petrificado de medo. E no fim, tal como com o povo Ucraniano, quem se lixa são os povos europeus. Com as respectivas economias em crise profunda (a Russa cresce a 4,1%!!!), com muitos a viverem na rua e a passarem fome, a grande urgência não é dar comida, casa, saúde ou educação. É satisfazer os apetites do complexo militar industrial dos EUA!

A “derrota de Putin” será uma pós-verdade, acompanhada da verdadeira derrota dos povos europeus e ucraniano!

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March 9, 2025

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