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O ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos e Cidadania, foi demitido na semana passada após acusações de assédio sexual contra a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial. Ambos foram colocados no mais alto escalão do governo pelas ONGs imperialistas que vêm dominando a política brasileira – e ocidental – em anos recentes, e de forma crescente.
Almeida, propagador da teoria do “racismo estrutural”, é um acadêmico que lecionou em universidades americanas, como Duke e Columbia – sempre, ensinando que toda a sociedade é responsável pela reprodução do racismo, retirando assim seu caráter de classe, embora o racismo esteja diretamente ligado à exploração das classes baixas (às quais a esmagadora maioria dos negros pertence, principalmente no Brasil e nos EUA) pelas classes altas (majoritariamente brancas). Essa teoria está disseminada por todos os círculos da pequena burguesia brasileira e, em geral, ocidental. Conseguiu retirar o caráter de classe da questão racial e hoje os adeptos da tese do “racismo estrutural”, apesar de reconhecerem timidamente um problema de classe, consideram a luta dos negros contra os brancos o mais importante. Apesar disso, Almeida se diz marxista.
As teorias defendidas por Silvio Almeida são as mesmas disseminadas pelas ONGs criadas e financiadas pelas fundações e institutos vinculados ao governo dos Estados Unidos, como NED e USAID, ou por “filantropos” que usam essas ONGs para derrubar governos e implantar um sistema ideológico e político que facilite sua dominação econômica, como George Soros.
De fato, o trabalho dessas organizações imperialistas é precisamente recrutar e treinar agentes para que ocupem posições de poder dentro dos Estados nacionais a fim de influenciar os rumos políticos de seus governos. Silvio Almeida, assim, foi inserido no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Contudo, sua ligação com essas instituições imperialistas não é tão direta como idealizam os magnatas imperiais. Ele, por exemplo, denunciou o “genocídio” e o “apartheid” promovidos por Israel em Gaza. Apesar de pregarem a proteção dos direitos humanos, acusações tão duras e contundentes contra o grande preposto dos EUA no Oriente Médio não são de grande interesse das ONGs ligadas ao imperialismo americano.
Como todo bom estrategista político, o conjunto de organizações imperialistas busca ter estreito controle sobre seus peões. Almeida foi rifado em uma manobra promovida diretamente por essas organizações. O feminismo tem sido, ainda mais do que o antirracismo, a política identitária mais utilizada pelo imperialismo nos últimos anos para alcançar seus objetivos de dominação. O antirracista Almeida foi acusado de assédio contra a feminista Anielle Franco, que o denunciou.
Anielle é funcionária direta desses grandes capitalistas que dominam o globo. Não foi convidada para ensinar nos EUA, como Almeida. Ela foi aprender nos EUA. Ficou doze anos lá, onde fez graduação e mestrado. Além disso, em 2021 foi treinada em um curso de liderança política pela Fundação Ford, que desde o início da guerra fria é ligada à CIA. Também trabalhou para a Open Society, de Soros. Ela só foi se filiar ao PT em abril deste ano. É muito difícil competir com um quadro tão bem relacionado com o imperialismo. Bastou que Anielle dissesse que Almeida tocou em suas coxas e partes íntimas, sem apresentar nenhum tipo de evidência, que o ministro caiu.
Afinal de contas, a “lacração” é a nova forma de caça às bruxas. Como em tempos mais antigos, não se precisa provar nada. Basta acusar. Se o acusador for uma mulher protegida por Soros, a Fundação Ford e o governo dos Estados Unidos, isso já basta para decretar a culpa do “assediador”.
Mas Anielle não acusou sozinha. Os imperialistas arregimentaram outros agentes para a empreitada. O movimento Me Too entrou em ação. Seus membros iniciaram uma onda de acusações contra Almeida. A lacração foi facilmente vitoriosa. É de se destacar que o Me Too, como o nome em inglês já indica, é um movimento criado nos EUA e exportado para o resto do mundo. A matriz norte-americana tem como seus parceiros (adivinhem!) a Fundação Ford e a Open Society.
No lugar de Almeida, foi escolhida a mulher negra Macaé Evaristo. Ela foi eleita deputada estadual em Minas Gerais em 2022 e sua candidatura foi promovida pela Campanha de Mulher, uma iniciativa da Mídia Ninja – projeto de mídia financiado pela Open Society. Em 2019, Macaé se destacou no Esquenta WOW, realizado em Niterói. O evento foi organizado pela WOW Foundation (que tem parcerias com governos de Reino Unido e Canadá, entre outras grandes instituições internacionais) e pela Redes da Maré (ONG que tem como parceiros a Fundação Ford, Open Society e suas ramificações, além da Rede Globo, Fundação Roberto Marinho e Criança Esperança, entre outros).
Macaé é uma mulher negra. A mulher negra – claro, a de George Soros, da Fundação Ford e da CIA – é intocável. Assim como são intocáveis Anielle e Kamala Harris – embora muitos digam que o tom mais claro da pele indica uma forçação de barra na alcunha de “mulher negra”.
O discurso identitário disseminado tanto pelas ONGs dos empresários “filantropos” imperialistas e pelos órgãos do governo dos EUA quanto pelo monopólio da imprensa propagandística fez a política brasileira de refém. O domínio e a propagação dessas organizações e discursos é tão grande que muitos de seus adeptos sequer compreendem que estão a serviço de interesses escusos. Não é o caso de Anielle, claro. Mas provavelmente é o caso de Macaé. O presidente Lula talvez perceba isso, mas ele também é refém desse setor imperialista, não só devido à pressão que ele exerce sobre a política nacional, mas também devido às capitulações que são típicas de Lula há décadas. Para se eleger e governar, ele faz concessões a seus piores inimigos – quem se lembra de Michel Temer e o MDB?
Lula não é identitário, embora muitos o considerem um. Não tem como ser. Ele nasceu e foi forjado em um ambiente tradicional da classe operária brasileira e se tornou seu líder. Contudo, sua política moderada sempre foi propícia a sofrer influências da pequena burguesia e, portanto, do democratismo imperialista – que tem no identitarismo sua ponta de lança atual.
Essa constatação leva a uma consideração alarmante: Lula, ele próprio, está se tornando vítima daquilo com quem se alia (mais uma vez). O imperialismo identitário o ajudou a se eleger e Lula se tornou, mais do que nunca, um refém desse setor. Precisa fazer ainda mais concessões para pagar a dívida que acumulou. E, quanto mais concessões faz, mais cercado e controlado pelo imperialismo ele se torna. Como não é da turma, e isso o leva a praticar uma política muitas vezes contraditória com esses interesses, certamente Lula também é um alvo a ser atingido.
Os setores conservadores da direita brasileira, em momentos pontuais da carreira política de Lula, já o acusaram de ser um assediador de mulheres. Como esse discurso é um dos preferidos pelos identitários das fundações imperialistas, temos aí um ponto em comum entre a oposição de direita, vassala da ala trumpista do imperialismo americano, e o exército identitário ligada ao Partido Democrata, que Lula acredita ser seu aliado.
Para ocorrer uma crise igual à de Silvio Almeida que leve à desestabilização total e à queda de Lula basta que os dois setores do imperialismo apertem as mãos.