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Raphael Machado
September 7, 2024
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Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A história das relações entre os EUA e os países da América Central tem sido marcada, desde a enunciação da Doutrina Monroe, por invasões, bombardeios, golpes, subversões e pela atuação de grupos paramilitares teleguiados a partir de Washington. Tudo para atender aos interesses geopolíticos atlantistas dos EUA, que já desde o século XIX se projetavam na direção de uma estratégia pan-americanista, mas também para atender aos interesses econômico-financeiros imperialistas de certos monopólios e oligopólios empresariais.

São notórios casos como, por exemplo, o dos “Contras” da Nicarágua, paramilitares financiados pelos EUA (com dinheiro do narcotráfico) e armados e treinados pela CIA, que lutaram contra o governo sandinista e provocaram milhares de mortes civis. Ou como o do golpe de 1954 na Guatemala, quando o presidente social-democrata e patriótico Jacobo Arbenz foi derrubado após desafiar os interesses do monopólio “bananeiro” da United Fruit Company.

Honduras não é exceção. O país caribenho sofreu intervenções estadunidenses em 1903, 1905, 1907, 1911, 1912, 1919 e 1924, em sua maioria bloqueios de portos ou ocupações temporárias de posições estratégicas, com o objetivo de “proteger interesses americanos” em momentos de suposta instabilidade. Os Estados Unidos também foram o sustentáculo político da ditadura de Tiburcio Carías, entre 1933 e 1949; e naturalmente, não se pode falar em intervenções dos EUA em Honduras sem mencionar o caso do golpe contra Manuel Zelaya.

Como se sabe, em junho de 2009 Manuel Zelaya, então Presidente de Honduras, sofreu um golpe em que participaram conjuntamente o Judiciário e as Forças Armadas do país. Os EUA, oficialmente e publicamente, condenaram o golpe. Mas, na prática, o governo da época, que tinha como presidente Barack Obama e como secretária de Estado Hillary Clinton, desempenhou um papel claro na normalização do golpe.

À época, Zelaya tentava convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para redigir uma nova Constituição. A Juristocracia hondurenha proibiu essa convocação e acusou Zelaya de estar agindo de forma inconstitucional, o que levou os militares a prenderem e exilarem o Presidente. Enquanto os EUA e a OEA condenaram o golpe publicamente, posteriormente, e-mails vazados de Hillary Clinton indicaram que os EUA já sabiam previamente da conspiração golpista.

Ademais, logo após o golpe, a diplomacia estadunidense se esforçou para, em vez de restaurar Zelaya ao poder, garantir novas eleições. Afinal, novas eleições “democráticas” permitiram constituir um novo governo “legítimo”, tornando extemporâneos e obsoletos os reclames sobre “golpe”. Assim, com eleições no fim de 2009 vencidas pelo liberal Porfirio Lobo, o novo governo de Honduras foi reconhecido pelos EUA e Washington deu um ponto final ao debate sobre “golpe” em Honduras.

A preservação dessa memória histórica é especificamente importante porque Honduras é, hoje, governada por Xiomara Castro, uma personagem política que foi testemunha do golpe de 2009 – entre outros motivos por ser ela a esposa de Manuel Zelaya.

Esse é o contexto necessário para entender as últimas críticas de Castro aos EUA. Quando a Embaixadora dos EUA em Honduras, Laura Dogu, criticou uma reunião do Ministro da Defesa de Honduras e do Comandante das Forças Armadas, com o Ministro da Defesa da Venezuela, o General Vladimir Padrino López, acusando o venezuelano de ser um narcotraficante, o objetivo era semear a discórdia entre os militares hondurenhos.

Honduras, desde que passou a ser governada por Xiomara Castro, deu as costas à política atlantista favorecida por suas elites. Rompeu relações com Taiwan, se aproximou da Rússia, reconheceu a vitória de Maduro nas recentes eleições venezuelanas, criticou publicamente Israel em relação ao extermínio de palestinos em Gaza.

É precisamente o tipo de posicionamento que não pode ser tolerado no contexto da reativação da Doutrina Monroe, que constitui o projeto dos EUA para as Américas.

Não foi por outro motivo que Castro rompeu o tratado de extradição EUA-Honduras e acusou publicamente Washington de tentar desestabilizar o país através do uso de táticas híbridas, consistentes na difusão de narrativas polêmicas cuja finalidade seria atiçar a polarização no seio das Forças Armadas e na sociedade civil. E isso ganha importância na medida em que se aproximam eleições presidenciais em Honduras, a serem realizadas em 2025.

Laura Dogu, diversas outras vezes já emitiu o seu desagrado publicamente, em redes sociais, em relação a questões políticas internas de Honduras, quase como se fosse não uma embaixadora, mas uma “governadora colonial” enviada por Washington para garantir que os “nativos” sigam submissos.

Mas parece que, dessa vez, Honduras está preparada para enfrentar as forças da subversão mundial dirigidas por Washington.

Honduras reage à Pressão Estadunidense

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A história das relações entre os EUA e os países da América Central tem sido marcada, desde a enunciação da Doutrina Monroe, por invasões, bombardeios, golpes, subversões e pela atuação de grupos paramilitares teleguiados a partir de Washington. Tudo para atender aos interesses geopolíticos atlantistas dos EUA, que já desde o século XIX se projetavam na direção de uma estratégia pan-americanista, mas também para atender aos interesses econômico-financeiros imperialistas de certos monopólios e oligopólios empresariais.

São notórios casos como, por exemplo, o dos “Contras” da Nicarágua, paramilitares financiados pelos EUA (com dinheiro do narcotráfico) e armados e treinados pela CIA, que lutaram contra o governo sandinista e provocaram milhares de mortes civis. Ou como o do golpe de 1954 na Guatemala, quando o presidente social-democrata e patriótico Jacobo Arbenz foi derrubado após desafiar os interesses do monopólio “bananeiro” da United Fruit Company.

Honduras não é exceção. O país caribenho sofreu intervenções estadunidenses em 1903, 1905, 1907, 1911, 1912, 1919 e 1924, em sua maioria bloqueios de portos ou ocupações temporárias de posições estratégicas, com o objetivo de “proteger interesses americanos” em momentos de suposta instabilidade. Os Estados Unidos também foram o sustentáculo político da ditadura de Tiburcio Carías, entre 1933 e 1949; e naturalmente, não se pode falar em intervenções dos EUA em Honduras sem mencionar o caso do golpe contra Manuel Zelaya.

Como se sabe, em junho de 2009 Manuel Zelaya, então Presidente de Honduras, sofreu um golpe em que participaram conjuntamente o Judiciário e as Forças Armadas do país. Os EUA, oficialmente e publicamente, condenaram o golpe. Mas, na prática, o governo da época, que tinha como presidente Barack Obama e como secretária de Estado Hillary Clinton, desempenhou um papel claro na normalização do golpe.

À época, Zelaya tentava convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para redigir uma nova Constituição. A Juristocracia hondurenha proibiu essa convocação e acusou Zelaya de estar agindo de forma inconstitucional, o que levou os militares a prenderem e exilarem o Presidente. Enquanto os EUA e a OEA condenaram o golpe publicamente, posteriormente, e-mails vazados de Hillary Clinton indicaram que os EUA já sabiam previamente da conspiração golpista.

Ademais, logo após o golpe, a diplomacia estadunidense se esforçou para, em vez de restaurar Zelaya ao poder, garantir novas eleições. Afinal, novas eleições “democráticas” permitiram constituir um novo governo “legítimo”, tornando extemporâneos e obsoletos os reclames sobre “golpe”. Assim, com eleições no fim de 2009 vencidas pelo liberal Porfirio Lobo, o novo governo de Honduras foi reconhecido pelos EUA e Washington deu um ponto final ao debate sobre “golpe” em Honduras.

A preservação dessa memória histórica é especificamente importante porque Honduras é, hoje, governada por Xiomara Castro, uma personagem política que foi testemunha do golpe de 2009 – entre outros motivos por ser ela a esposa de Manuel Zelaya.

Esse é o contexto necessário para entender as últimas críticas de Castro aos EUA. Quando a Embaixadora dos EUA em Honduras, Laura Dogu, criticou uma reunião do Ministro da Defesa de Honduras e do Comandante das Forças Armadas, com o Ministro da Defesa da Venezuela, o General Vladimir Padrino López, acusando o venezuelano de ser um narcotraficante, o objetivo era semear a discórdia entre os militares hondurenhos.

Honduras, desde que passou a ser governada por Xiomara Castro, deu as costas à política atlantista favorecida por suas elites. Rompeu relações com Taiwan, se aproximou da Rússia, reconheceu a vitória de Maduro nas recentes eleições venezuelanas, criticou publicamente Israel em relação ao extermínio de palestinos em Gaza.

É precisamente o tipo de posicionamento que não pode ser tolerado no contexto da reativação da Doutrina Monroe, que constitui o projeto dos EUA para as Américas.

Não foi por outro motivo que Castro rompeu o tratado de extradição EUA-Honduras e acusou publicamente Washington de tentar desestabilizar o país através do uso de táticas híbridas, consistentes na difusão de narrativas polêmicas cuja finalidade seria atiçar a polarização no seio das Forças Armadas e na sociedade civil. E isso ganha importância na medida em que se aproximam eleições presidenciais em Honduras, a serem realizadas em 2025.

Laura Dogu, diversas outras vezes já emitiu o seu desagrado publicamente, em redes sociais, em relação a questões políticas internas de Honduras, quase como se fosse não uma embaixadora, mas uma “governadora colonial” enviada por Washington para garantir que os “nativos” sigam submissos.

Mas parece que, dessa vez, Honduras está preparada para enfrentar as forças da subversão mundial dirigidas por Washington.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A história das relações entre os EUA e os países da América Central tem sido marcada, desde a enunciação da Doutrina Monroe, por invasões, bombardeios, golpes, subversões e pela atuação de grupos paramilitares teleguiados a partir de Washington. Tudo para atender aos interesses geopolíticos atlantistas dos EUA, que já desde o século XIX se projetavam na direção de uma estratégia pan-americanista, mas também para atender aos interesses econômico-financeiros imperialistas de certos monopólios e oligopólios empresariais.

São notórios casos como, por exemplo, o dos “Contras” da Nicarágua, paramilitares financiados pelos EUA (com dinheiro do narcotráfico) e armados e treinados pela CIA, que lutaram contra o governo sandinista e provocaram milhares de mortes civis. Ou como o do golpe de 1954 na Guatemala, quando o presidente social-democrata e patriótico Jacobo Arbenz foi derrubado após desafiar os interesses do monopólio “bananeiro” da United Fruit Company.

Honduras não é exceção. O país caribenho sofreu intervenções estadunidenses em 1903, 1905, 1907, 1911, 1912, 1919 e 1924, em sua maioria bloqueios de portos ou ocupações temporárias de posições estratégicas, com o objetivo de “proteger interesses americanos” em momentos de suposta instabilidade. Os Estados Unidos também foram o sustentáculo político da ditadura de Tiburcio Carías, entre 1933 e 1949; e naturalmente, não se pode falar em intervenções dos EUA em Honduras sem mencionar o caso do golpe contra Manuel Zelaya.

Como se sabe, em junho de 2009 Manuel Zelaya, então Presidente de Honduras, sofreu um golpe em que participaram conjuntamente o Judiciário e as Forças Armadas do país. Os EUA, oficialmente e publicamente, condenaram o golpe. Mas, na prática, o governo da época, que tinha como presidente Barack Obama e como secretária de Estado Hillary Clinton, desempenhou um papel claro na normalização do golpe.

À época, Zelaya tentava convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para redigir uma nova Constituição. A Juristocracia hondurenha proibiu essa convocação e acusou Zelaya de estar agindo de forma inconstitucional, o que levou os militares a prenderem e exilarem o Presidente. Enquanto os EUA e a OEA condenaram o golpe publicamente, posteriormente, e-mails vazados de Hillary Clinton indicaram que os EUA já sabiam previamente da conspiração golpista.

Ademais, logo após o golpe, a diplomacia estadunidense se esforçou para, em vez de restaurar Zelaya ao poder, garantir novas eleições. Afinal, novas eleições “democráticas” permitiram constituir um novo governo “legítimo”, tornando extemporâneos e obsoletos os reclames sobre “golpe”. Assim, com eleições no fim de 2009 vencidas pelo liberal Porfirio Lobo, o novo governo de Honduras foi reconhecido pelos EUA e Washington deu um ponto final ao debate sobre “golpe” em Honduras.

A preservação dessa memória histórica é especificamente importante porque Honduras é, hoje, governada por Xiomara Castro, uma personagem política que foi testemunha do golpe de 2009 – entre outros motivos por ser ela a esposa de Manuel Zelaya.

Esse é o contexto necessário para entender as últimas críticas de Castro aos EUA. Quando a Embaixadora dos EUA em Honduras, Laura Dogu, criticou uma reunião do Ministro da Defesa de Honduras e do Comandante das Forças Armadas, com o Ministro da Defesa da Venezuela, o General Vladimir Padrino López, acusando o venezuelano de ser um narcotraficante, o objetivo era semear a discórdia entre os militares hondurenhos.

Honduras, desde que passou a ser governada por Xiomara Castro, deu as costas à política atlantista favorecida por suas elites. Rompeu relações com Taiwan, se aproximou da Rússia, reconheceu a vitória de Maduro nas recentes eleições venezuelanas, criticou publicamente Israel em relação ao extermínio de palestinos em Gaza.

É precisamente o tipo de posicionamento que não pode ser tolerado no contexto da reativação da Doutrina Monroe, que constitui o projeto dos EUA para as Américas.

Não foi por outro motivo que Castro rompeu o tratado de extradição EUA-Honduras e acusou publicamente Washington de tentar desestabilizar o país através do uso de táticas híbridas, consistentes na difusão de narrativas polêmicas cuja finalidade seria atiçar a polarização no seio das Forças Armadas e na sociedade civil. E isso ganha importância na medida em que se aproximam eleições presidenciais em Honduras, a serem realizadas em 2025.

Laura Dogu, diversas outras vezes já emitiu o seu desagrado publicamente, em redes sociais, em relação a questões políticas internas de Honduras, quase como se fosse não uma embaixadora, mas uma “governadora colonial” enviada por Washington para garantir que os “nativos” sigam submissos.

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The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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