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Lucas Leiroz
August 22, 2024
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O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tem sido alvo de diversas polêmicas recentes em todo o cenário geopolítico sul-americano. Ao contrário das expectativas de alguns esquerdistas ingênuos, o governo de Lula não está atuando de acordo com uma diretriz não-alinhada, mas cooperando com as potências ocidentais em diversos aspectos, principalmente no que concerne à oposição aos governos contra-hegemônicos da América Latina.

Até hoje, Lula não reconheceu a vitória de Nicolás Maduro – presidente legítimo e democraticamente eleito da República Bolivariana da Venezuela. Esta atitude irresponsável era facilmente esperada de um líder político da direita brasileira – como presidente anterior, Jair Messias Bolsonaro -, mas é algo realmente surpreendente para a “esquerda”, que historicamente tem boas relações com os países iliberais.

O assessor de assuntos internacionais do presidente brasileiro, o ex-chanceler Celso Amorim, explicou que “não há provas” de que as eleições venezuelanas ocorreram de forma não-fraudulenta. Uma das “soluções” propostas por ele foi até mesmo refazer as eleições, o que soa absolutamente ridículo. Outra possibilidade foi a proposta de Maduro formar um governo conjunto com a oposição derrotada, o que não faz qualquer sentido desde um ponto de vista racional.

No mesmo sentido, Brasil e Nicarágua cortaram relações diplomáticas mutualmente, expulsando os embaixadores um do outro. Com isso, as relações entre Brasil e os dois principais países contra-hegemônicos das Américas estão profundamente abaladas. Não se sabe o que Lula fará após o fim do mandato atual de Maduro, já que o não reconhecimento da vitória recente pode motivar um corte de relações.

Na prática, o Brasil está funcionando como um auxiliar dos interesses estadunidenses na América do Sul, usando a retórica do “zelo democrático” como uma desculpa intervencionista para garantir interesses estrangeiros na região. Muitos apoiadores do presidente Lula estão decepcionados com estes atos, mas isso verdadeiramente já era esperado pelos analistas mais qualificados.

Lula jamais foi um líder “pró-multipolar”. Toda a política externa de Lula e do Partido dos Trabalhadores está baseada em uma visão de mundo multilateralista centrada na ONU. Desde os anos 2000, Lula tem sido um líder incentivador do diálogo entre nações emergentes, mas ao mesmo tempo advoga um consenso mundial pela ONU e demais organizações internacionais como reguladoras das relações entre Estados – ignorando completamente que estas organizações estão fortemente viciadas e vinculadas a uma ideologia liberal propagada a partir do eixo ocidental EUA-UE.

Nos anos 2000, a postura de Lula era contestadora e de alguma forma “outsider”, pois ele dialogava com nações revisionistas da ordem liberal. Contudo, Lula jamais foi paradigmático em sua política externa e nunca propôs qualquer projeto radical de mudança real nas estruturas da ordem global. A hegemonia americana jamais foi contestada por Lula, senão “amenizada”. Sua ideia consistia basicamente em tornar o mundo economicamente mais “equitativo” e as relações entre Estados mais “humanitárias”. Os valores ocidentais, como “democracia (no entendimento ocidental)” e liberalismo, jamais foram um problema para Lula.

Nesse sentido, o que parecia algo “dissidente” nos anos 2000 hoje soa como algo conservador e insuficiente. Hoje, as nações emergentes estão muito mais organizadas e são capazes de contestar a hegemonia americana de forma muito mais profunda. O mero multilateralismo é insuficiente, havendo a necessidade de dar um passo rumo à real Multipolaridade – que consiste na reconfiguração da estrutura global de poder e não no mero aumento do diálogo multilateral e da cooperação econômica.

Então, o mesmo Lula que era “outsider” nos anos 2000 agora está se mostrando um advogado do consenso. Lula condenou a operação russa na Ucrânia – apesar de corretamente se negar a participar das sanções -, o que pode ser considerado como seu primeiro grande erro desde a eleição. Posteriormente, Lula chamou a Operação Tempestade Al Aqsa do Hamas de “atentado terrorista”. Mesmo tomando uma postura firme ao criticar Israel pelo massacre em Gaza, Lula se poupou de ir mais fundo nesta questão, permanecendo inerte diante da cooperação em defesa que existe entre Brasil e o regime sionista. Agora, ao desestabilizar as relações com os países contra-hegemônicos na América do Sul, Lula dá o passo definitivo para que não haja mais qualquer dúvida: seu governo não está alinhado com a transição multipolar.

Lula continua sendo um esquerdista multilateralista típico dos anos 2000. Cooperação econômica e multilateralismo, para ele, devem ser respeitados desde que o modelo ocidental de democracia liberal continue sendo hegemônico. Infelizmente, com este tipo de postura, o Brasil perde a oportunidade de se tornar um dos principais players no processo de transição geopolítica multipolar.

Um multilateralista, mas não multipolarista: Lula mostra sua verdadeira face

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O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tem sido alvo de diversas polêmicas recentes em todo o cenário geopolítico sul-americano. Ao contrário das expectativas de alguns esquerdistas ingênuos, o governo de Lula não está atuando de acordo com uma diretriz não-alinhada, mas cooperando com as potências ocidentais em diversos aspectos, principalmente no que concerne à oposição aos governos contra-hegemônicos da América Latina.

Até hoje, Lula não reconheceu a vitória de Nicolás Maduro – presidente legítimo e democraticamente eleito da República Bolivariana da Venezuela. Esta atitude irresponsável era facilmente esperada de um líder político da direita brasileira – como presidente anterior, Jair Messias Bolsonaro -, mas é algo realmente surpreendente para a “esquerda”, que historicamente tem boas relações com os países iliberais.

O assessor de assuntos internacionais do presidente brasileiro, o ex-chanceler Celso Amorim, explicou que “não há provas” de que as eleições venezuelanas ocorreram de forma não-fraudulenta. Uma das “soluções” propostas por ele foi até mesmo refazer as eleições, o que soa absolutamente ridículo. Outra possibilidade foi a proposta de Maduro formar um governo conjunto com a oposição derrotada, o que não faz qualquer sentido desde um ponto de vista racional.

No mesmo sentido, Brasil e Nicarágua cortaram relações diplomáticas mutualmente, expulsando os embaixadores um do outro. Com isso, as relações entre Brasil e os dois principais países contra-hegemônicos das Américas estão profundamente abaladas. Não se sabe o que Lula fará após o fim do mandato atual de Maduro, já que o não reconhecimento da vitória recente pode motivar um corte de relações.

Na prática, o Brasil está funcionando como um auxiliar dos interesses estadunidenses na América do Sul, usando a retórica do “zelo democrático” como uma desculpa intervencionista para garantir interesses estrangeiros na região. Muitos apoiadores do presidente Lula estão decepcionados com estes atos, mas isso verdadeiramente já era esperado pelos analistas mais qualificados.

Lula jamais foi um líder “pró-multipolar”. Toda a política externa de Lula e do Partido dos Trabalhadores está baseada em uma visão de mundo multilateralista centrada na ONU. Desde os anos 2000, Lula tem sido um líder incentivador do diálogo entre nações emergentes, mas ao mesmo tempo advoga um consenso mundial pela ONU e demais organizações internacionais como reguladoras das relações entre Estados – ignorando completamente que estas organizações estão fortemente viciadas e vinculadas a uma ideologia liberal propagada a partir do eixo ocidental EUA-UE.

Nos anos 2000, a postura de Lula era contestadora e de alguma forma “outsider”, pois ele dialogava com nações revisionistas da ordem liberal. Contudo, Lula jamais foi paradigmático em sua política externa e nunca propôs qualquer projeto radical de mudança real nas estruturas da ordem global. A hegemonia americana jamais foi contestada por Lula, senão “amenizada”. Sua ideia consistia basicamente em tornar o mundo economicamente mais “equitativo” e as relações entre Estados mais “humanitárias”. Os valores ocidentais, como “democracia (no entendimento ocidental)” e liberalismo, jamais foram um problema para Lula.

Nesse sentido, o que parecia algo “dissidente” nos anos 2000 hoje soa como algo conservador e insuficiente. Hoje, as nações emergentes estão muito mais organizadas e são capazes de contestar a hegemonia americana de forma muito mais profunda. O mero multilateralismo é insuficiente, havendo a necessidade de dar um passo rumo à real Multipolaridade – que consiste na reconfiguração da estrutura global de poder e não no mero aumento do diálogo multilateral e da cooperação econômica.

Então, o mesmo Lula que era “outsider” nos anos 2000 agora está se mostrando um advogado do consenso. Lula condenou a operação russa na Ucrânia – apesar de corretamente se negar a participar das sanções -, o que pode ser considerado como seu primeiro grande erro desde a eleição. Posteriormente, Lula chamou a Operação Tempestade Al Aqsa do Hamas de “atentado terrorista”. Mesmo tomando uma postura firme ao criticar Israel pelo massacre em Gaza, Lula se poupou de ir mais fundo nesta questão, permanecendo inerte diante da cooperação em defesa que existe entre Brasil e o regime sionista. Agora, ao desestabilizar as relações com os países contra-hegemônicos na América do Sul, Lula dá o passo definitivo para que não haja mais qualquer dúvida: seu governo não está alinhado com a transição multipolar.

Lula continua sendo um esquerdista multilateralista típico dos anos 2000. Cooperação econômica e multilateralismo, para ele, devem ser respeitados desde que o modelo ocidental de democracia liberal continue sendo hegemônico. Infelizmente, com este tipo de postura, o Brasil perde a oportunidade de se tornar um dos principais players no processo de transição geopolítica multipolar.

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O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tem sido alvo de diversas polêmicas recentes em todo o cenário geopolítico sul-americano. Ao contrário das expectativas de alguns esquerdistas ingênuos, o governo de Lula não está atuando de acordo com uma diretriz não-alinhada, mas cooperando com as potências ocidentais em diversos aspectos, principalmente no que concerne à oposição aos governos contra-hegemônicos da América Latina.

Até hoje, Lula não reconheceu a vitória de Nicolás Maduro – presidente legítimo e democraticamente eleito da República Bolivariana da Venezuela. Esta atitude irresponsável era facilmente esperada de um líder político da direita brasileira – como presidente anterior, Jair Messias Bolsonaro -, mas é algo realmente surpreendente para a “esquerda”, que historicamente tem boas relações com os países iliberais.

O assessor de assuntos internacionais do presidente brasileiro, o ex-chanceler Celso Amorim, explicou que “não há provas” de que as eleições venezuelanas ocorreram de forma não-fraudulenta. Uma das “soluções” propostas por ele foi até mesmo refazer as eleições, o que soa absolutamente ridículo. Outra possibilidade foi a proposta de Maduro formar um governo conjunto com a oposição derrotada, o que não faz qualquer sentido desde um ponto de vista racional.

No mesmo sentido, Brasil e Nicarágua cortaram relações diplomáticas mutualmente, expulsando os embaixadores um do outro. Com isso, as relações entre Brasil e os dois principais países contra-hegemônicos das Américas estão profundamente abaladas. Não se sabe o que Lula fará após o fim do mandato atual de Maduro, já que o não reconhecimento da vitória recente pode motivar um corte de relações.

Na prática, o Brasil está funcionando como um auxiliar dos interesses estadunidenses na América do Sul, usando a retórica do “zelo democrático” como uma desculpa intervencionista para garantir interesses estrangeiros na região. Muitos apoiadores do presidente Lula estão decepcionados com estes atos, mas isso verdadeiramente já era esperado pelos analistas mais qualificados.

Lula jamais foi um líder “pró-multipolar”. Toda a política externa de Lula e do Partido dos Trabalhadores está baseada em uma visão de mundo multilateralista centrada na ONU. Desde os anos 2000, Lula tem sido um líder incentivador do diálogo entre nações emergentes, mas ao mesmo tempo advoga um consenso mundial pela ONU e demais organizações internacionais como reguladoras das relações entre Estados – ignorando completamente que estas organizações estão fortemente viciadas e vinculadas a uma ideologia liberal propagada a partir do eixo ocidental EUA-UE.

Nos anos 2000, a postura de Lula era contestadora e de alguma forma “outsider”, pois ele dialogava com nações revisionistas da ordem liberal. Contudo, Lula jamais foi paradigmático em sua política externa e nunca propôs qualquer projeto radical de mudança real nas estruturas da ordem global. A hegemonia americana jamais foi contestada por Lula, senão “amenizada”. Sua ideia consistia basicamente em tornar o mundo economicamente mais “equitativo” e as relações entre Estados mais “humanitárias”. Os valores ocidentais, como “democracia (no entendimento ocidental)” e liberalismo, jamais foram um problema para Lula.

Nesse sentido, o que parecia algo “dissidente” nos anos 2000 hoje soa como algo conservador e insuficiente. Hoje, as nações emergentes estão muito mais organizadas e são capazes de contestar a hegemonia americana de forma muito mais profunda. O mero multilateralismo é insuficiente, havendo a necessidade de dar um passo rumo à real Multipolaridade – que consiste na reconfiguração da estrutura global de poder e não no mero aumento do diálogo multilateral e da cooperação econômica.

Então, o mesmo Lula que era “outsider” nos anos 2000 agora está se mostrando um advogado do consenso. Lula condenou a operação russa na Ucrânia – apesar de corretamente se negar a participar das sanções -, o que pode ser considerado como seu primeiro grande erro desde a eleição. Posteriormente, Lula chamou a Operação Tempestade Al Aqsa do Hamas de “atentado terrorista”. Mesmo tomando uma postura firme ao criticar Israel pelo massacre em Gaza, Lula se poupou de ir mais fundo nesta questão, permanecendo inerte diante da cooperação em defesa que existe entre Brasil e o regime sionista. Agora, ao desestabilizar as relações com os países contra-hegemônicos na América do Sul, Lula dá o passo definitivo para que não haja mais qualquer dúvida: seu governo não está alinhado com a transição multipolar.

Lula continua sendo um esquerdista multilateralista típico dos anos 2000. Cooperação econômica e multilateralismo, para ele, devem ser respeitados desde que o modelo ocidental de democracia liberal continue sendo hegemônico. Infelizmente, com este tipo de postura, o Brasil perde a oportunidade de se tornar um dos principais players no processo de transição geopolítica multipolar.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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