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Recentemente, diante das ocupações de universidades dos Estados Unidos por estudantes solidários ao povo palestino contra o genocídio israelense, o aiatolá Ali Khamenei afirmou que aqueles estudantes haviam se tornado, devido às suas ações, parte do Eixo da Resistência.
Foi uma avaliação de suma importância, partindo de quem partiu: o líder supremo da Revolução Islâmica do Irã, uma das revoluções modernas mais influentes até os dias de hoje. Ele indicou que a luta radical contra o imperialismo – e sua vertente médio-oriental, o sionismo – não precisa ser travada apenas pelos árabes e muçulmanos, mas pelos povos do mundo todo.
Entre eles, obviamente, se encontram os povos da América Latina, que foram responsáveis por uma onda de revoltas que levaram à implantação de governos nacionalistas que atraíram os holofotes da luta anti-imperialista mundial no início deste século. Era a versão latino-americana do Eixo da Resistência, por assim dizer, mas sem a luta armada. Retomar essa tendência e radicalizá-la é crucial para a derrota do imperialismo internacional.
O mundo está em transformação, evidenciada pela vitória do Talibã no Afeganistão, a operação militar russa e o levante em Gaza. Os EUA estão em crise brutal, em todos os aspectos. O imperialismo europeu e japonês são dependentes do americano e pouco podem fazer. A África vê diversas revoluções anti-imperialistas e vários governos se aliando a Rússia e China. Na Ásia, o imperialismo corre o risco de uma guerra em Taiwan e na Coreia. Os imperialistas têm de se preocupar com a perda de controle em todos esses lugares e não darão conta de tantas frentes de luta se o enfrentamento se der efetivamente.
Os povos da América Latina e os governos nacionalistas/socialistas devem ter isso em mente: esse é o melhor momento para enfraquecer as posições dos Estados Unidos em seu próprio “quintal”, e isso significa finalmente a libertação de nossos povos após séculos de luta.
China e Rússia devem apostar forte nisso e apoiar essa libertação porque ela também enfraquece o imperialismo nas suas próprias frentes de luta. Os chineses e os russos não conseguem – e mesmo se conseguissem, não lhes interessaria – subordinar o Brasil, mas sim fortalecer o Brasil como contraponto ao seu inimigo (EUA) no continente – e isso alguns pseudonacionalistas brasileiros, que acham que Pequim e Moscou são imperialistas, não entendem.
O Brasil deve tomar para si o papel que lhe é natural de ser o equivalente da Rússia e da China na América Latina, ou seja, uma grande potência regional, desenvolvida e independente do imperialismo. E o Brasil deve assumir a responsabilidade de liderar esse processo, sendo a grande potência latino-americana, em aliança com os governos socialista de Cuba e nacionalistas de Nicarágua, Venezuela, Honduras, Bolívia, Colômbia e México.
É preciso formar um Eixo da Resistência latino-americano e lutar por questões imediatas chave como:
1) O fechamento de todas as bases militares e a expulsão das tropas dos Estados Unidos no continente;
2) A substituição da OEA pela Celac como órgão aglutinador dos países latino-americanos e caribenhos, independente do imperialismo americano;
3) O fortalecimento do Foro de São Paulo como direção executiva informal, mas ativa e influente, da política latino-americana, reformando sua estrutura para expurgar os partidos alinhados com o imperialismo e integrar as organizações que concordem com a necessidade de uma política anti-imperialista;
4) O apoio concreto do Foro de São Paulo à oposição aos governos títeres dos Estados Unidos, como os de Javier Milei na Argentina, Dina Boluarte no Peru e Daniel Noboa no Equador;
5) A desdolarização e criação de uma moeda única latino-americana, como já foi sugerido pelo presidente Lula;
6) O fim da presença das agências dos EUA como CIA, FBI, DEA, NED, USAID etc;
7) A proibição de financiamento imperialista a ONGs;
8) A limpeza completa do sistema judiciário continental, que é o principal instrumento de golpes de estado e perseguição política patrocinados por Washington na região;
9) O expurgo dos elementos entreguistas nas forças armadas e a criação de um mecanismo de defesa militar de todo o continente (o presidente Lula já sugeriu um embrião desse mecanismo para “garantir a soberania dos países” da América do Sul);
10) A revisão, atualização e eventual abandono de todos os acordos feitos pelos países latino-americanos com os Estados Unidos e a Europa que comprometam a soberania dos nossos países;
11) O cancelamento imediato de qualquer mínima “parceria” com a OTAN, que não passa de um convite à agressão armada do imperialismo à região;
12) O investimento pesado multiestatal na Telesur como rede de TV de todos os países da América Latina, com canais 24h também em português e francês na TV aberta para integrar os nossos povos;
13) A nacionalização dos recursos naturais e das terras;
14) A criação de um tratado de integração econômica latino-americana que passe pela execução de obras de infraestrutura, industrialização e integração bancária com participação majoritária e privilegiada das empresas dos países membros, com participação minoritária de blocos parceiros (BRICS, Organização de Cooperação de Xangai, União Econômica Eurasiática, União Africana etc.) e com financiamento de um banco de desenvolvimento dos países da América Latina, em parceria com o BNDES e o Banco dos BRICS;
15) A integração política e econômica com esses e outros blocos parceiros formados pelos países igualmente oprimidos pelo imperialismo na África e Ásia;
16) O cancelamento imediato da dívida externa, uma das maiores chagas abertas e fontes de escravidão dos países do continente.
O momento é propício, com a maioria dos países mais importantes do continente sob governos de tipo nacionalista e de esquerda e com os EUA imersos em uma crise política e focados nas eleições presidenciais durante o próximo meio ano.
Somente o estabelecimento de uma política claramente anti-imperialista, que é viável neste momento histórico diante da emergência de lutas semelhantes (e bem-sucedidas) em outros continentes, poderá libertar os países da América Latina da opressão asfixiante e desestabilizadora para os próprios governos nacionalistas que hoje estão no poder.