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Lucas Leiroz
March 2, 2024
© Photo: Public domain

Independentemente do que aconteça na ONU, nas circunstâncias atuais, a admissão de novos membros é estrategicamente importante para os BRICS.

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Os BRICS se expandiram, e tudo indica que continuarão a admitir ainda mais membros. Como todos os processos geopolíticos relevantes, esta mudança no bloco tem causado muitas discussões, com alguns analistas advogando pela expansão e outros acreditando que o melhor seja evitar novos candidatos. Contudo, as atuais circunstâncias globais nos levam a crer que a expansão é de fato uma diretriz favorável para os interesses do bloco.

Para entender o caso, é necessário investigar quais são as reais intenções dos BRICS. Sem dúvidas, em meio ao atual contexto de transição geopolítica e multipolarização da ordem global, os BRICS têm um potencial real de atuar como instituição chave no processo-decisório internacional, elevando significativamente o poder de decisão das nações emergentes e diminuindo a influência do chamado “Norte Global”.

Contudo, este processo é estabelecido de diferentes formas, de acordo com as condições reais do cenário geopolítico vigente. Atualmente, os BRICS estão em um momento decisivo de sua história, deixando de ser um simples “clube” de cooperação econômica para se tornar um verdadeiro agente político relevante. O processo está avançando, mas ainda não está completo. Os BRICS estão indubitavelmente mais maduros e integrados atualmente do que estavam há alguns anos. Mas o cenário ideal ainda não foi alcançado.

Os BRICS ainda apresentam dificuldades de integração. Por exemplo, ainda não foi encontrada uma solução conjunta entre os países do bloco para responder de forma unificada à pressão ocidental contra a Federação Russa. Por mais que os membros se neguem a participar das sanções ilegais impostas pelo Ocidente, ainda não foi construída uma solução concreta para o impasse ocidental – apesar de alguns progressos terem sido alcançados.

No mesmo sentido, os BRICS ainda não estabeleceram de forma objetiva sua principiologia política elementar. Por mais que a ideologização do bloco deva ser evitada, preservando o pragmatismo e o multilateralismo, é necessário apresentar uma lista básica de princípios que guiem os rumos do grupo, consolidando uma posição coletiva diante de eventos relevantes – como, por exemplo, situações de guerra e conflitos armados.

A dificuldade em se alcançar este “passo além” nos BRICS se deve a uma série de fatores – alguns deles concernindo à própria natureza do bloco. Sendo desideologizados, os BRICS admitem países com interesses e mentalidades políticas diversas – como Irã e Arábia Saudita, ou China e Índia. Obviamente, é difícil encontrar uma solução abrangente diante de problemas globais havendo membros com orientações políticas distintas. É um passo complicado e delicado, mas que certamente será necessário em algum momento no futuro.

Uma solução justa para este impasse é justamente a criação de uma plataforma de votação, onde os membros dos BRICS decidam por maioria posicionamentos conjuntos do grupo – mesmo que resguardadas objeções individuais de alguns Estados. Para isso, um dos passos necessários é anteriormente admitir novos membros. Com a entrada do maior número possível de Estados emergentes, os BRICS se tornarão suficientemente fortes para tomar decisões conjuntas que representem, à medida do possível, o “Sul Global” como um todo.

No atual contexto internacional, essas questões poderiam criar uma espécie de atrito entre os BRICS e a ONU. Parece cada vez mais claro que a ONU está “sequestrada” pelo Ocidente, com seu poder de decisão diminuído pela pressão constante das potências ocidentais. Uma evidência disso é o fato de a ONU estar falhando em evitar conflitos. A organização foi criada precisamente com o intuito de evitar uma nova guerra mundial, o que claramente ela não está conseguindo fazer ao ficar inerte diante da agressão de uma coalizão internacional liderada pela OTAN contra a Rússia.

Um caminho possível para os BRICS seria simplesmente estabelecer uma meta de superar a ONU no processo decisório internacional, se transformando em uma espécie de segunda organização global, representando principalmente as nações Emergentes, enquanto a ONU continuaria refém dos Estados liberais – possivelmente isolada, criando uma nova polarização internacional.

Contudo, este não é o objetivo dos BRICS agora. Os países membros do bloco não querem estabelecer uma ordem mundial dividida. Pelo contrário, todas as evidências apontam para um interesse real dos BRICS em integrar o mundo cada vez mais, construindo um diálogo internacional respeitoso e pragmático. Por isso, já foi deixado claro diversas vezes que o objetivo dos BRICS por enquanto é fortalecer os países emergentes e viabilizar uma reabilitação da ONU como centro decisório global.

No fim, dependerá da ONU dar o passo decisivo entre se livrar da pressão ocidental e cooperar com a realidade multipolar, ou simplesmente perder de uma vez por todas sua relevância diante da burocratização e formalização dos BRICS como uma “nova ONU”, com sua própria estrutura interna, normas, órgãos específicos e poder coercitivo.

O futuro da ONU depende dos BRICS, assim como o futuro dos BRICS depende das decisões que serão tomadas pela ONU. Os BRICS podem se tornar uma mera plataforma de países emergentes dentro de uma ONU reformulada e multipolar; ou os BRICS podem simplesmente criar um “novo mundo”, isolando o Ocidente e a ONU sequestrada. Resta saber como isso tudo de desenvolverá.

Contudo, para qualquer dos destinos dos BRICS, a admissão de novos membros parece um passo necessário. O grupo tem de se fortalecer como organização representante do mundo emergente – independentemente das decisões tomadas pela ONU. E, nesse sentido, quanto mais países contribuírem para o processo decisório dos BRICS, melhor.

 

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Considerações sobre o futuro dos BRICS e da ONU

Independentemente do que aconteça na ONU, nas circunstâncias atuais, a admissão de novos membros é estrategicamente importante para os BRICS.

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Os BRICS se expandiram, e tudo indica que continuarão a admitir ainda mais membros. Como todos os processos geopolíticos relevantes, esta mudança no bloco tem causado muitas discussões, com alguns analistas advogando pela expansão e outros acreditando que o melhor seja evitar novos candidatos. Contudo, as atuais circunstâncias globais nos levam a crer que a expansão é de fato uma diretriz favorável para os interesses do bloco.

Para entender o caso, é necessário investigar quais são as reais intenções dos BRICS. Sem dúvidas, em meio ao atual contexto de transição geopolítica e multipolarização da ordem global, os BRICS têm um potencial real de atuar como instituição chave no processo-decisório internacional, elevando significativamente o poder de decisão das nações emergentes e diminuindo a influência do chamado “Norte Global”.

Contudo, este processo é estabelecido de diferentes formas, de acordo com as condições reais do cenário geopolítico vigente. Atualmente, os BRICS estão em um momento decisivo de sua história, deixando de ser um simples “clube” de cooperação econômica para se tornar um verdadeiro agente político relevante. O processo está avançando, mas ainda não está completo. Os BRICS estão indubitavelmente mais maduros e integrados atualmente do que estavam há alguns anos. Mas o cenário ideal ainda não foi alcançado.

Os BRICS ainda apresentam dificuldades de integração. Por exemplo, ainda não foi encontrada uma solução conjunta entre os países do bloco para responder de forma unificada à pressão ocidental contra a Federação Russa. Por mais que os membros se neguem a participar das sanções ilegais impostas pelo Ocidente, ainda não foi construída uma solução concreta para o impasse ocidental – apesar de alguns progressos terem sido alcançados.

No mesmo sentido, os BRICS ainda não estabeleceram de forma objetiva sua principiologia política elementar. Por mais que a ideologização do bloco deva ser evitada, preservando o pragmatismo e o multilateralismo, é necessário apresentar uma lista básica de princípios que guiem os rumos do grupo, consolidando uma posição coletiva diante de eventos relevantes – como, por exemplo, situações de guerra e conflitos armados.

A dificuldade em se alcançar este “passo além” nos BRICS se deve a uma série de fatores – alguns deles concernindo à própria natureza do bloco. Sendo desideologizados, os BRICS admitem países com interesses e mentalidades políticas diversas – como Irã e Arábia Saudita, ou China e Índia. Obviamente, é difícil encontrar uma solução abrangente diante de problemas globais havendo membros com orientações políticas distintas. É um passo complicado e delicado, mas que certamente será necessário em algum momento no futuro.

Uma solução justa para este impasse é justamente a criação de uma plataforma de votação, onde os membros dos BRICS decidam por maioria posicionamentos conjuntos do grupo – mesmo que resguardadas objeções individuais de alguns Estados. Para isso, um dos passos necessários é anteriormente admitir novos membros. Com a entrada do maior número possível de Estados emergentes, os BRICS se tornarão suficientemente fortes para tomar decisões conjuntas que representem, à medida do possível, o “Sul Global” como um todo.

No atual contexto internacional, essas questões poderiam criar uma espécie de atrito entre os BRICS e a ONU. Parece cada vez mais claro que a ONU está “sequestrada” pelo Ocidente, com seu poder de decisão diminuído pela pressão constante das potências ocidentais. Uma evidência disso é o fato de a ONU estar falhando em evitar conflitos. A organização foi criada precisamente com o intuito de evitar uma nova guerra mundial, o que claramente ela não está conseguindo fazer ao ficar inerte diante da agressão de uma coalizão internacional liderada pela OTAN contra a Rússia.

Um caminho possível para os BRICS seria simplesmente estabelecer uma meta de superar a ONU no processo decisório internacional, se transformando em uma espécie de segunda organização global, representando principalmente as nações Emergentes, enquanto a ONU continuaria refém dos Estados liberais – possivelmente isolada, criando uma nova polarização internacional.

Contudo, este não é o objetivo dos BRICS agora. Os países membros do bloco não querem estabelecer uma ordem mundial dividida. Pelo contrário, todas as evidências apontam para um interesse real dos BRICS em integrar o mundo cada vez mais, construindo um diálogo internacional respeitoso e pragmático. Por isso, já foi deixado claro diversas vezes que o objetivo dos BRICS por enquanto é fortalecer os países emergentes e viabilizar uma reabilitação da ONU como centro decisório global.

No fim, dependerá da ONU dar o passo decisivo entre se livrar da pressão ocidental e cooperar com a realidade multipolar, ou simplesmente perder de uma vez por todas sua relevância diante da burocratização e formalização dos BRICS como uma “nova ONU”, com sua própria estrutura interna, normas, órgãos específicos e poder coercitivo.

O futuro da ONU depende dos BRICS, assim como o futuro dos BRICS depende das decisões que serão tomadas pela ONU. Os BRICS podem se tornar uma mera plataforma de países emergentes dentro de uma ONU reformulada e multipolar; ou os BRICS podem simplesmente criar um “novo mundo”, isolando o Ocidente e a ONU sequestrada. Resta saber como isso tudo de desenvolverá.

Contudo, para qualquer dos destinos dos BRICS, a admissão de novos membros parece um passo necessário. O grupo tem de se fortalecer como organização representante do mundo emergente – independentemente das decisões tomadas pela ONU. E, nesse sentido, quanto mais países contribuírem para o processo decisório dos BRICS, melhor.