Marcus Vinícius DE FREITA
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A reabertura da guerra tarifária entre Estados Unidos e China, agora em torno das terras raras, marca um ponto de inflexão na economia global. O que se inicia como disputa comercial transforma-se em embate civilizacional pela definição das regras do século XXI.
As terras raras — insumos cruciais para semicondutores, veículos elétricos, turbinas e equipamentos militares — são o novo petróleo da era tecnológica. Ao restringir sua exportação, Pequim não apenas reage a Washington, mas afirma que não aceitará o monopólio moral dos Estados Unidos sobre o conceito de “segurança nacional”.
Segundo o Ministério do Comércio da China (MOFCOM), as medidas são “legítimas e prudentes”, visam à estabilidade das cadeias globais e ao cumprimento de obrigações internacionais. Não são proibições, mas um sistema de licenças. Na prática, porém, representam um movimento estratégico que combina moderação e poder de dissuasão.
Washington reagiu com previsível indignação. O governo Trump anunciou tarifas de até 100% e novas restrições a softwares críticos, acusando a China de “coerção econômica”. Pequim devolveu a crítica, lembrando que os EUA expandem sanções e listas de controle há anos — aplicando o mesmo tipo de coerção que condenam. Desde as últimas negociações em Madri, Washington adicionou dezenas de empresas chinesas à “Entity List” (Lista de Entidades) e reativou tarifas setoriais, revelando o duplo padrão clássico da política americana.
Há, contudo, um aspecto ainda mais relevante: ao controlar as terras raras, a China compreende plenamente o seu impacto sobre o complexo industrial-militar dos Estados Unidos. Os mesmos elementos que movem carros elétricos e celulares sustentam o poderio bélico norte-americano — caças, mísseis e sistemas de defesa. Qualquer restrição ecoa diretamente no coração da supremacia estratégica de Washington.
Mas o conflito atual também expõe o custo global de Trump. Sua política externa performática transforma o comércio em espetáculo, gerando instabilidade e incerteza. Cada gesto abrupto, cada tarifa imposta em nome da “grandeza americana”, repercute nas cadeias produtivas mundiais. A Europa, já fragilizada, volta a ser vítima colateral dos erros de Washington, que tenta preservar hegemonia sacrificando previsibilidade.
A mensagem chinesa é direta: “não queremos a guerra comercial, mas não a tememos”. No fundo, trata-se de uma disputa por legitimidade e liderança. Quem controla as terras raras controla os circuitos da economia digital — e, potencialmente, o próprio equilíbrio militar do mundo.
Publicado originalmente por jornaleconomico.sapo.pt

