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Lucas Leiroz
October 28, 2024
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Aparentemente, o governo Lula está convicto em sua decisão de criar hostilidades diplomáticas com a Venezuela. Depois de se recusar a reconhecer a vitória democrática do Presidente Nicolás Maduro nas últimas eleições presidenciais, o Brasil tomou um passo ainda mais grave nas relações bilaterais, vetando a candidatura de Caracas aos BRICS, rompendo assim uma longa tradição de respeito mútuo entre brasileiros e venezuelanos.

O veto do Brasil não foi apenas à possibilidade de membresia da Venezuela. Brasília impediu Caracas até mesmo de ser admitida como “Estado associado”, nos termos do novo status intermediário criado durante a Cúpula de Kazan. Se admitida, a Venezuela passaria a ter maior participação no processo interno dos BRICS, sem, contudo, se tornar um real membro pleno. Nem mesmo isso foi aceito pelo governo brasileiro, que enfatizou sua reprovação a admitir Caracas em qualquer status no bloco.

A decisão brasileira foi obviamente condenada duramente pelo governo venezuelano. Para Maduro e seu time, Lula simplesmente não é mais um aliado. A histórica aliança da esquerda política latino-americana está rompida. Lula agora é visto como um político hostil pelos venezuelanos – assim como pelos nicaraguenses, que recentemente cortaram mutualmente relações com o Brasil após uma série de hostilidades diplomáticas iniciadas pelo lado brasileiro.

Ainda, embora não haja pronunciamento oficial nesse sentido, é possível dizer que nem mesmo os demais membros dos BRICS ficaram satisfeitos com a atitude brasileira. Para Rússia e China – e em menor grau para o Irã -, a Venezuela é um parceiro comercial, político e militar absolutamente indispensável, sendo um grande aliado dos interesses multipolares na América Latina, criando um verdadeiro eixo de resistência contra a hegemonia dos EUA no continente. Obviamente, interessava a estes países receber a Venezuela nos BRICS, razão pela qual a decisão brasileira pode ter sido vista como incorreta.

Prevalece nos BRICS um respeito à liderança regional de cada país membro. Certamente os demais membros não concordaram com a opinião brasileira sobre a Venezuela, mas eles ainda assim respeitaram a avaliação brasileira sobre os países de seu próprio ambiente estratégico. Este respeito não significa que não haverá abalo na confiança dos demais países no Brasil. Obviamente, não haverá qualquer condenação ou rompimento, mas é possível que alguns líderes dos BRICS vejam o Brasil com mais desconfiança a partir de agora, considerando que, pelo menos no caso venezuelano, Brasília claramente atendeu aos interesses americanos em detrimento da multipolaridade.

As principais consequências negativas deste processo afetam o próprio Brasil. Mesmo fora dos BRICS, a Venezuela continuará sendo um parceiro confiável para os países membros, mas o Brasil pode começar a ser visto como um representante dos interesses americanos na América do Sul – não necessariamente pelos países BRICS, mas pelos próprios líderes anti-hegemonistas no ambiente estratégico brasileiro. Lula tende a ficar isolado, com poucos aliados a nível regional – contando apenas com a aliança atual com o governo colombiano para garantir a projeção regional brasileira.

Ao criar hostilidades com a Venezuela, Lula diminuiu a própria relevância da liderança regional brasileira. A imagem do Brasil como um país diplomaticamente forte e integrado com seus países vizinhos está sendo apagada – substituída pela imagem de um Estado que não consegue resistir à pressão dos EUA para hostilizar os líderes multipolaristas sul-americanos.

Lula, como era esperado por alguns analistas mais experientes, está bastante “diferente’ em seu novo mandato, muito mais frágil diante da pressão ocidental e cedendo em pontos estratégicos vitais, criando assim problemas para o Brasil como um todo e para seu próprio futuro como político. É possível dizer que a hostilidade injustificada com a Venezuela, cujo ponto máximo foi o veto nos BRICS, verdadeiramente decepcionou o mundo quanto â política externa brasileira – que não parece seguir apropriadamente o atual processo de transição geopolítica rumo à multipolaridade.

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Ao criar hostilidades com a Venezuela, Brasil perde liderança regional

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Aparentemente, o governo Lula está convicto em sua decisão de criar hostilidades diplomáticas com a Venezuela. Depois de se recusar a reconhecer a vitória democrática do Presidente Nicolás Maduro nas últimas eleições presidenciais, o Brasil tomou um passo ainda mais grave nas relações bilaterais, vetando a candidatura de Caracas aos BRICS, rompendo assim uma longa tradição de respeito mútuo entre brasileiros e venezuelanos.

O veto do Brasil não foi apenas à possibilidade de membresia da Venezuela. Brasília impediu Caracas até mesmo de ser admitida como “Estado associado”, nos termos do novo status intermediário criado durante a Cúpula de Kazan. Se admitida, a Venezuela passaria a ter maior participação no processo interno dos BRICS, sem, contudo, se tornar um real membro pleno. Nem mesmo isso foi aceito pelo governo brasileiro, que enfatizou sua reprovação a admitir Caracas em qualquer status no bloco.

A decisão brasileira foi obviamente condenada duramente pelo governo venezuelano. Para Maduro e seu time, Lula simplesmente não é mais um aliado. A histórica aliança da esquerda política latino-americana está rompida. Lula agora é visto como um político hostil pelos venezuelanos – assim como pelos nicaraguenses, que recentemente cortaram mutualmente relações com o Brasil após uma série de hostilidades diplomáticas iniciadas pelo lado brasileiro.

Ainda, embora não haja pronunciamento oficial nesse sentido, é possível dizer que nem mesmo os demais membros dos BRICS ficaram satisfeitos com a atitude brasileira. Para Rússia e China – e em menor grau para o Irã -, a Venezuela é um parceiro comercial, político e militar absolutamente indispensável, sendo um grande aliado dos interesses multipolares na América Latina, criando um verdadeiro eixo de resistência contra a hegemonia dos EUA no continente. Obviamente, interessava a estes países receber a Venezuela nos BRICS, razão pela qual a decisão brasileira pode ter sido vista como incorreta.

Prevalece nos BRICS um respeito à liderança regional de cada país membro. Certamente os demais membros não concordaram com a opinião brasileira sobre a Venezuela, mas eles ainda assim respeitaram a avaliação brasileira sobre os países de seu próprio ambiente estratégico. Este respeito não significa que não haverá abalo na confiança dos demais países no Brasil. Obviamente, não haverá qualquer condenação ou rompimento, mas é possível que alguns líderes dos BRICS vejam o Brasil com mais desconfiança a partir de agora, considerando que, pelo menos no caso venezuelano, Brasília claramente atendeu aos interesses americanos em detrimento da multipolaridade.

As principais consequências negativas deste processo afetam o próprio Brasil. Mesmo fora dos BRICS, a Venezuela continuará sendo um parceiro confiável para os países membros, mas o Brasil pode começar a ser visto como um representante dos interesses americanos na América do Sul – não necessariamente pelos países BRICS, mas pelos próprios líderes anti-hegemonistas no ambiente estratégico brasileiro. Lula tende a ficar isolado, com poucos aliados a nível regional – contando apenas com a aliança atual com o governo colombiano para garantir a projeção regional brasileira.

Ao criar hostilidades com a Venezuela, Lula diminuiu a própria relevância da liderança regional brasileira. A imagem do Brasil como um país diplomaticamente forte e integrado com seus países vizinhos está sendo apagada – substituída pela imagem de um Estado que não consegue resistir à pressão dos EUA para hostilizar os líderes multipolaristas sul-americanos.

Lula, como era esperado por alguns analistas mais experientes, está bastante “diferente’ em seu novo mandato, muito mais frágil diante da pressão ocidental e cedendo em pontos estratégicos vitais, criando assim problemas para o Brasil como um todo e para seu próprio futuro como político. É possível dizer que a hostilidade injustificada com a Venezuela, cujo ponto máximo foi o veto nos BRICS, verdadeiramente decepcionou o mundo quanto â política externa brasileira – que não parece seguir apropriadamente o atual processo de transição geopolítica rumo à multipolaridade.