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Raphael Machado
October 24, 2024
© Photo: Public domain

Para uma população bastante afetada pela engenharia social atlantista, a presença militar estadunidense no Equador aparece como a “solução” para o problema do colapso da segurança pública

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Já chamamos atenção, recentemente, para a conversão gradual do Equador na principal base de atuação militar dos EUA na América do Sul, apontando para uma série de acordos e visitas que indicam o estágio avançado de subalternidade no qual o país caiu após a saída de Rafael Correa e, principalmente, com a ascensão de Daniel Noboa.

Temos motivos para crer que essa tendência vai acelerar em Quito, com os novos projetos de Noboa para alavancar as suas relações com o hegemon unipolar.

Como com muitos países do nosso continente, essa “promiscuidade militar” com os EUA se inicia no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando Washington tentava atiçar uma América Ibérica majoritariamente indiferente a se lançar na sua “cruzada pela democracia” na Europa. Nesse contexto, as Ilhas Galápagos foram ocupadas pelos EUA como parte de uma “rede” de bases navais para simultaneamente assegurar as vias navais que atravessavam o Canal de Panamá e garantir a segurança do Pacífico.

A pegada dos EUA pode ser encontrada uma vez mais em plena Guerra Fria, quando a CIA parece atuar no fomento de uma agitação popular contra o presidente soberanista José Maria Velasco Ibarra em 1961, que é, então, derrubado pelo Congresso e substituído por seu vice-presidente Carlos Julio Arosemena, o qual apesar de não se aproximar de Cuba, foi derrubado em um golpe organizado por militares pró-EUA, que queriam a ruptura completa com o país governado por Fidel Castro.

Apesar de um período de governo militar, eventualmente José María Velasco retorna ao poder em 1968, mas é derrubado de  novo em um golpe orquestrado pela CIA em 1972, o qual teria sido conduzido pelo agente Philip Agee, como ele mesmo confessou em seus diários.

Com uma nova ditadura militar e mesmo com a redemocratização posterior o Equador foi se tornando cada vez mais alinhado e dependente dos EUA. É no governo de Jamil Mahuad, entre 1998 e 2000, por exemplo, que se empreende a dolarização da economia equatoriana e se desenvolve o Plano Colômbia, o projeto de suporte direto dos EUA aos militares e paramilitares colombianos para “combater o narcotráfico”, no contexto à mítica “Guerra às Drogas” travada pelos EUA.

Mas por trás desse discurso havia objetivos geopolíticos bastante explícitos, como o senador Paul Coverdale, dos EUA, sempre deixou claro: “A Venezuela tem animosidade contra os EUA, os EUA devem intervir na Colômbia para dominar a Venezuela. E como o Equador também é vital, e os índios de lá são perigosos, os Estados Unidos também precisam intervir lá. (…) Se meu país está travando uma guerra civilizatória no remoto Iraque, tenho certeza de que também pode fazê-lo na Colômbia e dominá-la e a seus vizinhos: Venezuela e Equador”.

Com isso, os EUA garantiriam o controle sobre as Bacias do Orinoco e do Amazonas, em uma estratégia geopolítica que recorda aspectos da “Teoria do Rimland” de Nicholas Spykman.

Para isso, o governo concedeu aos EUA, em 1999, a Base Aérea de Manta, no litoral equatoriano, com a presença de 500 soldados e agentes de inteligência. A partir dali, na narrativa oficial, os EUA poderiam monitorar a atividade narcotraficante nos Andes – mas a presença de uma motivação geopolítica mais profunda é confirmada pela reativação já em 2008 da Quarta Frota dos EUA, vinculada ao SOUTHCOM, na mesma época em que Hugo Chávez negociava com a Rússia a aquisição de submarinos russos.

Nesse sentido, o período de governo de Rafael Correa não foi senão um interlúdio. A concessão da Base Aérea de Manta não foi renovada em 2009 e os deputados equatorianos modificaram a Constituição, em seu artigo 5º, para impedir a cessão de território nacional para bases militares estrangeiras.

É nesse contexto que o atual presidente equatoriano, Daniel Noboa (nascido em Miami), propôs uma reforma constitucional para modificar essa parte da Constituição, permitindo assim uma nova cessão da mesma Base “Eloy Alfaro” em Manta, com o destacamento de tropas estadunidenses no local. Essa concessão, aliás, não é necessariamente vital para os EUA, porque os EUA já têm acordos militares que lhe permitem o uso esporádico de bases, bem como acordos no âmbito da inteligência os quais, por causa da tecnologia contemporânea, tornam desnecessária uma grande presença militar no local.

Não obstante, os EUA, que penetraram o Peru sob Dina Boluarte e que seguem aumentando a sua projeção sobre a Argentina e outras partes do continente, possivelmente não negariam algum tipo de novo arranjo numa base aérea que eles já conhecem bem.

Para Noboa, porém, a narrativa da “base dos EUA para combater o narcotráfico” é uma ferramenta útil em seu esforço por buscar a reeleição em 2025. Para uma população bastante afetada pela engenharia social atlantista, a presença militar estadunidense no Equador aparece como a “solução” para o problema do colapso da segurança pública.

Não obstante, considerando que as décadas de intervenção dos EUA na América Ibérica para “combater o narcotráfico” não tiveram resultado (e, ao contrário, hoje as organizações narcocriminosas parecem mais fortes do que nunca), torna-se fácil perceber como as esperanças dos cidadãos do Equador podem acabar sendo traídas muito em breve.

Por que Daniel Noboa quer uma base militar dos EUA no Equador?

Para uma população bastante afetada pela engenharia social atlantista, a presença militar estadunidense no Equador aparece como a “solução” para o problema do colapso da segurança pública

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Já chamamos atenção, recentemente, para a conversão gradual do Equador na principal base de atuação militar dos EUA na América do Sul, apontando para uma série de acordos e visitas que indicam o estágio avançado de subalternidade no qual o país caiu após a saída de Rafael Correa e, principalmente, com a ascensão de Daniel Noboa.

Temos motivos para crer que essa tendência vai acelerar em Quito, com os novos projetos de Noboa para alavancar as suas relações com o hegemon unipolar.

Como com muitos países do nosso continente, essa “promiscuidade militar” com os EUA se inicia no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando Washington tentava atiçar uma América Ibérica majoritariamente indiferente a se lançar na sua “cruzada pela democracia” na Europa. Nesse contexto, as Ilhas Galápagos foram ocupadas pelos EUA como parte de uma “rede” de bases navais para simultaneamente assegurar as vias navais que atravessavam o Canal de Panamá e garantir a segurança do Pacífico.

A pegada dos EUA pode ser encontrada uma vez mais em plena Guerra Fria, quando a CIA parece atuar no fomento de uma agitação popular contra o presidente soberanista José Maria Velasco Ibarra em 1961, que é, então, derrubado pelo Congresso e substituído por seu vice-presidente Carlos Julio Arosemena, o qual apesar de não se aproximar de Cuba, foi derrubado em um golpe organizado por militares pró-EUA, que queriam a ruptura completa com o país governado por Fidel Castro.

Apesar de um período de governo militar, eventualmente José María Velasco retorna ao poder em 1968, mas é derrubado de  novo em um golpe orquestrado pela CIA em 1972, o qual teria sido conduzido pelo agente Philip Agee, como ele mesmo confessou em seus diários.

Com uma nova ditadura militar e mesmo com a redemocratização posterior o Equador foi se tornando cada vez mais alinhado e dependente dos EUA. É no governo de Jamil Mahuad, entre 1998 e 2000, por exemplo, que se empreende a dolarização da economia equatoriana e se desenvolve o Plano Colômbia, o projeto de suporte direto dos EUA aos militares e paramilitares colombianos para “combater o narcotráfico”, no contexto à mítica “Guerra às Drogas” travada pelos EUA.

Mas por trás desse discurso havia objetivos geopolíticos bastante explícitos, como o senador Paul Coverdale, dos EUA, sempre deixou claro: “A Venezuela tem animosidade contra os EUA, os EUA devem intervir na Colômbia para dominar a Venezuela. E como o Equador também é vital, e os índios de lá são perigosos, os Estados Unidos também precisam intervir lá. (…) Se meu país está travando uma guerra civilizatória no remoto Iraque, tenho certeza de que também pode fazê-lo na Colômbia e dominá-la e a seus vizinhos: Venezuela e Equador”.

Com isso, os EUA garantiriam o controle sobre as Bacias do Orinoco e do Amazonas, em uma estratégia geopolítica que recorda aspectos da “Teoria do Rimland” de Nicholas Spykman.

Para isso, o governo concedeu aos EUA, em 1999, a Base Aérea de Manta, no litoral equatoriano, com a presença de 500 soldados e agentes de inteligência. A partir dali, na narrativa oficial, os EUA poderiam monitorar a atividade narcotraficante nos Andes – mas a presença de uma motivação geopolítica mais profunda é confirmada pela reativação já em 2008 da Quarta Frota dos EUA, vinculada ao SOUTHCOM, na mesma época em que Hugo Chávez negociava com a Rússia a aquisição de submarinos russos.

Nesse sentido, o período de governo de Rafael Correa não foi senão um interlúdio. A concessão da Base Aérea de Manta não foi renovada em 2009 e os deputados equatorianos modificaram a Constituição, em seu artigo 5º, para impedir a cessão de território nacional para bases militares estrangeiras.

É nesse contexto que o atual presidente equatoriano, Daniel Noboa (nascido em Miami), propôs uma reforma constitucional para modificar essa parte da Constituição, permitindo assim uma nova cessão da mesma Base “Eloy Alfaro” em Manta, com o destacamento de tropas estadunidenses no local. Essa concessão, aliás, não é necessariamente vital para os EUA, porque os EUA já têm acordos militares que lhe permitem o uso esporádico de bases, bem como acordos no âmbito da inteligência os quais, por causa da tecnologia contemporânea, tornam desnecessária uma grande presença militar no local.

Não obstante, os EUA, que penetraram o Peru sob Dina Boluarte e que seguem aumentando a sua projeção sobre a Argentina e outras partes do continente, possivelmente não negariam algum tipo de novo arranjo numa base aérea que eles já conhecem bem.

Para Noboa, porém, a narrativa da “base dos EUA para combater o narcotráfico” é uma ferramenta útil em seu esforço por buscar a reeleição em 2025. Para uma população bastante afetada pela engenharia social atlantista, a presença militar estadunidense no Equador aparece como a “solução” para o problema do colapso da segurança pública.

Não obstante, considerando que as décadas de intervenção dos EUA na América Ibérica para “combater o narcotráfico” não tiveram resultado (e, ao contrário, hoje as organizações narcocriminosas parecem mais fortes do que nunca), torna-se fácil perceber como as esperanças dos cidadãos do Equador podem acabar sendo traídas muito em breve.

Para uma população bastante afetada pela engenharia social atlantista, a presença militar estadunidense no Equador aparece como a “solução” para o problema do colapso da segurança pública

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Já chamamos atenção, recentemente, para a conversão gradual do Equador na principal base de atuação militar dos EUA na América do Sul, apontando para uma série de acordos e visitas que indicam o estágio avançado de subalternidade no qual o país caiu após a saída de Rafael Correa e, principalmente, com a ascensão de Daniel Noboa.

Temos motivos para crer que essa tendência vai acelerar em Quito, com os novos projetos de Noboa para alavancar as suas relações com o hegemon unipolar.

Como com muitos países do nosso continente, essa “promiscuidade militar” com os EUA se inicia no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando Washington tentava atiçar uma América Ibérica majoritariamente indiferente a se lançar na sua “cruzada pela democracia” na Europa. Nesse contexto, as Ilhas Galápagos foram ocupadas pelos EUA como parte de uma “rede” de bases navais para simultaneamente assegurar as vias navais que atravessavam o Canal de Panamá e garantir a segurança do Pacífico.

A pegada dos EUA pode ser encontrada uma vez mais em plena Guerra Fria, quando a CIA parece atuar no fomento de uma agitação popular contra o presidente soberanista José Maria Velasco Ibarra em 1961, que é, então, derrubado pelo Congresso e substituído por seu vice-presidente Carlos Julio Arosemena, o qual apesar de não se aproximar de Cuba, foi derrubado em um golpe organizado por militares pró-EUA, que queriam a ruptura completa com o país governado por Fidel Castro.

Apesar de um período de governo militar, eventualmente José María Velasco retorna ao poder em 1968, mas é derrubado de  novo em um golpe orquestrado pela CIA em 1972, o qual teria sido conduzido pelo agente Philip Agee, como ele mesmo confessou em seus diários.

Com uma nova ditadura militar e mesmo com a redemocratização posterior o Equador foi se tornando cada vez mais alinhado e dependente dos EUA. É no governo de Jamil Mahuad, entre 1998 e 2000, por exemplo, que se empreende a dolarização da economia equatoriana e se desenvolve o Plano Colômbia, o projeto de suporte direto dos EUA aos militares e paramilitares colombianos para “combater o narcotráfico”, no contexto à mítica “Guerra às Drogas” travada pelos EUA.

Mas por trás desse discurso havia objetivos geopolíticos bastante explícitos, como o senador Paul Coverdale, dos EUA, sempre deixou claro: “A Venezuela tem animosidade contra os EUA, os EUA devem intervir na Colômbia para dominar a Venezuela. E como o Equador também é vital, e os índios de lá são perigosos, os Estados Unidos também precisam intervir lá. (…) Se meu país está travando uma guerra civilizatória no remoto Iraque, tenho certeza de que também pode fazê-lo na Colômbia e dominá-la e a seus vizinhos: Venezuela e Equador”.

Com isso, os EUA garantiriam o controle sobre as Bacias do Orinoco e do Amazonas, em uma estratégia geopolítica que recorda aspectos da “Teoria do Rimland” de Nicholas Spykman.

Para isso, o governo concedeu aos EUA, em 1999, a Base Aérea de Manta, no litoral equatoriano, com a presença de 500 soldados e agentes de inteligência. A partir dali, na narrativa oficial, os EUA poderiam monitorar a atividade narcotraficante nos Andes – mas a presença de uma motivação geopolítica mais profunda é confirmada pela reativação já em 2008 da Quarta Frota dos EUA, vinculada ao SOUTHCOM, na mesma época em que Hugo Chávez negociava com a Rússia a aquisição de submarinos russos.

Nesse sentido, o período de governo de Rafael Correa não foi senão um interlúdio. A concessão da Base Aérea de Manta não foi renovada em 2009 e os deputados equatorianos modificaram a Constituição, em seu artigo 5º, para impedir a cessão de território nacional para bases militares estrangeiras.

É nesse contexto que o atual presidente equatoriano, Daniel Noboa (nascido em Miami), propôs uma reforma constitucional para modificar essa parte da Constituição, permitindo assim uma nova cessão da mesma Base “Eloy Alfaro” em Manta, com o destacamento de tropas estadunidenses no local. Essa concessão, aliás, não é necessariamente vital para os EUA, porque os EUA já têm acordos militares que lhe permitem o uso esporádico de bases, bem como acordos no âmbito da inteligência os quais, por causa da tecnologia contemporânea, tornam desnecessária uma grande presença militar no local.

Não obstante, os EUA, que penetraram o Peru sob Dina Boluarte e que seguem aumentando a sua projeção sobre a Argentina e outras partes do continente, possivelmente não negariam algum tipo de novo arranjo numa base aérea que eles já conhecem bem.

Para Noboa, porém, a narrativa da “base dos EUA para combater o narcotráfico” é uma ferramenta útil em seu esforço por buscar a reeleição em 2025. Para uma população bastante afetada pela engenharia social atlantista, a presença militar estadunidense no Equador aparece como a “solução” para o problema do colapso da segurança pública.

Não obstante, considerando que as décadas de intervenção dos EUA na América Ibérica para “combater o narcotráfico” não tiveram resultado (e, ao contrário, hoje as organizações narcocriminosas parecem mais fortes do que nunca), torna-se fácil perceber como as esperanças dos cidadãos do Equador podem acabar sendo traídas muito em breve.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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