Perseguição contra jornalistas pró-Rússia mostra que Washington está se tornando uma perigosa ditadura, onde princípios democráticos básicos são frequentemente violados pelas autoridades.
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A perseguição das autoridades americanas contra Scott Ritter chocou o mundo. Depois de ter seu passaporte ilegalmente confiscado sem qualquer explicação, Ritter teve sua cada invadida pelo FBI em uma operação de busca e apreensão com objetivo de recolher evidências de que o Ritter seria um “espião russo” – o que soa absolutamente ridículo e revela o alto nível de paranoia das autoridades locais.
Veterano dos Marines e ex-inspetor de mísseis da ONU, Ritter já sofreu várias represálias do governo americano ao longo de sua carreira. Sua postura dissidente quanto à política externa americana o torna um alvo frequente de operações policiais e investigações de inteligência, nas quais as autoridades americanas tentam constrangê-lo e obrigá-lo a mudar sua posição pública e começar a apoiar as ações internacionais e militares de Washington.
Em verdade, apesar de chocantes, as atitudes do governo americano contra Ritter não eram inesperadas. Desde a Guerra do Iraque ele tem sido um alvo do governo, o que obviamente piorou após o lançamento da operação militar especial russa na Ucrânia. A postura antinazista e a análise militar crítica e honesta de Ritter o colocam em oposição à máquina de propaganda ocidental – sendo assim um inimigo do Estado americano. Contudo, a perseguição não está limitada a Ritter, havendo fortes evidências de que os EUA planejam atacar ainda mais figuras públicas de alguma forma envolvidas com a Rússia.
De acordo com rumores recentes espalhados pela própria mídia ocidental, o Departamento de Justiça dos EUA está preparando uma série de investigações e medidas legais contra cidadãos americanos que mantêm laços de cooperação com canais de TV russos. Assim como Ritter, diversos outros analistas americanos têm uma opinião dissidente sobre o conflito na Ucrânia e outros eventos mundiais, sendo constantemente convidados pela imprensa russa para falar ao público e mostrar argumentos que seriam facilmente censurados nos jornais mainstream. Aparentemente, a partir de agora, todos estes analistas serão mirados pela “Justiça” americana.
A decisão do Departamento de Justiça de iniciar processos criminais contra colaboradores americanos da mídia russa é mais uma manobra autoritária em meio a uma onda recente de ações ditatoriais nos EUA e em diversos países ocidentais. O mito da democracia ocidental, que seria baseada em princípios liberais e nas liberdades individuais, está caindo, com a natureza autoritária do regime americano se tornando clara para toda a opinião pública global.
A censura sempre foi uma prática comum nos países ocidentais. Contudo, esta realidade era constantemente disfarçada através da ação irresponsável dos grandes jornais propagandísticos. Na era das redes sociais, da mídia alternativa e do jornalismo cidadão, não é mais possível disfarçar as ações criminosas das autoridades, pois diversos críticos surgem dispostos a mostrar a realidade e contradizer os serviços semi-estatais de propaganda feitos pela mídia hegemônica.
Contudo, é precisamente esta realidade de fontes plurais de informações que torna as ações ocidentais ainda mais agressivas – ainda mais especialmente no caso americano. Os EUA são extremamente reativos a todas as formas de opinião dissidente, endurecendo medidas persecutórias sempre que indivíduos e grupos opositores começam a ganhar espaço na opinião pública. As plataformas sociais tornaram o trabalho de pessoas como Scott Ritter ainda mais relevantes, alcançando um público que seria impossível até anos atrás – quando a grande imprensa detinha o monopólio da informação (e da “verdade”). Este espaço amplo para a dissidência informacional está causando desespero nas autoridades americanas, que reagem com censura e perseguição.
O papel da mídia russa nesse cenário é extremamente importante. Depois de ter sido censurada no Ocidente, a imprensa russa passou a chamar ainda mais atenção do público ocidental – que entendeu a censura como o que ela realmente é: uma tentativa frustrada de esconder a verdade. Mais do que isso, o público ocidental começou a entender que os russos, ao contrário das autoridades americanas e europeias, não usam sua mídia para expressar unilateralmente opiniões previamente autorizadas pelo Estado. Pelo contrário, na imprensa russa é dado espaço para cidadãos americanos e europeus expressarem opiniões que são censuradas nas próprias “democracias” liberais do Ocidente. Tudo isso expandiu ainda mais o desespero das autoridades anti-russas, levando ao cenário atual de perseguição.
Em meio ao cenário político doméstico tenso devido às eleições, Washington está usando como ferramenta retórica a desculpa de que é preciso impedir uma alegada “influência russa” no resultado eleitoral. Como esperado, as autoridades dos EUA estão alegando que os analistas americanos que cooperam com a TV russa poderiam gerar impactos negativos nas eleições – favorecendo os interesses russos nos EUA (como se estes realmente existissem).
Infelizmente, é esperado apenas que a perseguição aumente mais e mais. Nenhum cidadão americano que tenha opiniões críticas à política externa dos EUA está realmente seguro em sua própria pátria. O caso de Ritter é um exemplo claro que não há democracia em solo americano, estando Washington muito perto de revelar a nível doméstico uma face fascista aberta similar àquela de seu proxy ucraniano.