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July 11, 2024
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Escreva para nós: info@strategic-culture.su

“Waiel vagueia vadio pelas ruas de Atenas. Não tem onde ficar e é enxotado por todos os senhorios que se recusam arrendar-lhe uma casa ou um quarto assim que percebem que é sírio. Tem dormido numa tenda no porto de Pireus, protegido por uma carrinha-reboque estacionada e provavelmente abandonada numa rua secundária (…). As autoridades gregas chegaram sem pré-aviso. Estão a arrancar todas as tendas. Uma a uma. Empilham-nas e mandam-nas para aterro. (…) Querem afastar estes refugiados do porto da cidade, local de partida e chegada de turistas dos mais luxuosos cruzeiros pelas ilhas gregas. Em pleno verão, um bando de indigentes pode estragar o retrato das férias. O turismo não está para sofrer com a dor alheia”.

O que se segue? Contentores ou algo pior num “campo de acolhimento”, prisão a céu aberto, à mercê dos elementos. Milhares e milhares de seres humanos buscam a travessia que os irá ‘salvar’. Ou talvez não. Talvez o pior ainda esteja para vir. E talvez aconteça nessa “luz ao fundo do túnel” a que chamam Europa. O lado mais negro do que não queremos ver.

“Pensei que seria a última coisa má, que depois disso tudo ficaria melhor…”. “Não sabia que o barco era a parte mais fácil. Pensamos sempre que o barco é a parte mais difícil, mas não. É a mais fácil. (…) Fechar a fronteira, viver como animais, não como humanos. No barco morres uma vez, mas aqui morres um pouco todos os dias”.

A dualidade de critérios subjacente à retórica europeia sobre os refugiados, os seus direitos e oportunidades é uma constante. Porém, as histórias que o jornalista André Carvalho Ramos humaniza e partilha no seu livro “A Última Fronteira”, não são uma opção enviesada para falar na sociedade que queremos no presente e no futuro. À beira de eleições europeias, a questão dos refugiados e os migrantes não é ‘apenas mais uma’, mas sim um tema de debate obrigatório. Por muitas razões. Entre elas aquilo que nos dizem os números: mais um milhão e 400 mil pessoas pediram asilo aos países da União Europeia, representando um aumento de mais de 18% face a 2022, naquele que é o valor mais alto dos últimos sete anos.

Publicado originalmente por jornaleconomico.pt

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Ainda serão os Direitos Humanos um pilar da Europa?

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“Waiel vagueia vadio pelas ruas de Atenas. Não tem onde ficar e é enxotado por todos os senhorios que se recusam arrendar-lhe uma casa ou um quarto assim que percebem que é sírio. Tem dormido numa tenda no porto de Pireus, protegido por uma carrinha-reboque estacionada e provavelmente abandonada numa rua secundária (…). As autoridades gregas chegaram sem pré-aviso. Estão a arrancar todas as tendas. Uma a uma. Empilham-nas e mandam-nas para aterro. (…) Querem afastar estes refugiados do porto da cidade, local de partida e chegada de turistas dos mais luxuosos cruzeiros pelas ilhas gregas. Em pleno verão, um bando de indigentes pode estragar o retrato das férias. O turismo não está para sofrer com a dor alheia”.

O que se segue? Contentores ou algo pior num “campo de acolhimento”, prisão a céu aberto, à mercê dos elementos. Milhares e milhares de seres humanos buscam a travessia que os irá ‘salvar’. Ou talvez não. Talvez o pior ainda esteja para vir. E talvez aconteça nessa “luz ao fundo do túnel” a que chamam Europa. O lado mais negro do que não queremos ver.

“Pensei que seria a última coisa má, que depois disso tudo ficaria melhor…”. “Não sabia que o barco era a parte mais fácil. Pensamos sempre que o barco é a parte mais difícil, mas não. É a mais fácil. (…) Fechar a fronteira, viver como animais, não como humanos. No barco morres uma vez, mas aqui morres um pouco todos os dias”.

A dualidade de critérios subjacente à retórica europeia sobre os refugiados, os seus direitos e oportunidades é uma constante. Porém, as histórias que o jornalista André Carvalho Ramos humaniza e partilha no seu livro “A Última Fronteira”, não são uma opção enviesada para falar na sociedade que queremos no presente e no futuro. À beira de eleições europeias, a questão dos refugiados e os migrantes não é ‘apenas mais uma’, mas sim um tema de debate obrigatório. Por muitas razões. Entre elas aquilo que nos dizem os números: mais um milhão e 400 mil pessoas pediram asilo aos países da União Europeia, representando um aumento de mais de 18% face a 2022, naquele que é o valor mais alto dos últimos sete anos.

Publicado originalmente por jornaleconomico.pt