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March 30, 2024
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Albano NUNES

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O mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros e a mi­nistra da De­fesa têm es­tado muito ac­tivos no en­vol­vi­mento de Por­tugal na es­ca­lada mi­li­ta­rista do im­pe­ri­a­lismo. Fa­lando na vés­pera de mais uma reu­nião mi­nis­te­rial da União Eu­ro­peia vol­tada para a ins­ti­gação da guerra na Ucrânia, João Cra­vinho chegou mesmo a queixar-se de que na cam­panha para as elei­ções le­gis­la­tivas «nin­guém es­teja a falar da­quilo que é o mais im­por­tante, a de­gra­dação da ordem in­ter­na­ci­onal» (Lusa, 20.02.24).

É certo que as ques­tões de po­lí­tica ex­terna e de de­fesa na­ci­onal não têm tido na cam­panha o lugar que a sua im­por­tância jus­ti­fi­caria, tema que o PCP trata de­sen­vol­vi­da­mente no seu Pro­grama Elei­toral. Há porém fortes ra­zões para crer que aquilo de que Cra­vinho e ou­tros gos­ta­riam seria re­duzir ainda mais o de­bate sobre os reais pro­blemas dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País e apro­veitar a cam­panha elei­toral, não para pro­mover uma po­lí­tica ex­terna pa­trió­tica, de so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­onal, com­pro­me­tida com a luta pelo de­sar­ma­mento, a so­lução po­lí­tica dos con­flitos e a paz, mas de sub­missão na­ci­onal e de co­ni­vência com os fal­cões da guerra.

É muito pre­o­cu­pante que pe­rante a «de­gra­dação da ordem in­ter­na­ci­onal» pro­vo­cada pelo im­pe­ri­a­lismo e os enormes pe­rigos que com­porta, o Go­verno por­tu­guês faça letra morta de uma Cons­ti­tuição que obriga o Es­tado por­tu­guês à luta pela dis­so­lução dos blocos mi­li­tares, e por­tanto a pugnar não pelo de­men­cial re­forço e alar­ga­mento em curso, mas pela dis­so­lução da NATO.

NATO (não de­vemos nunca es­quecê-lo) que pro­tegeu o fas­cismo por­tu­guês quando o nazi-fas­cismo era der­ro­tado na II guerra mun­dial; de que Por­tugal foi membro fun­dador em 1949; que apoiou até ao úl­timo mo­mento as cri­mi­nosas guerras co­lo­niais; que chegou a ame­açar de in­ter­venção mi­litar a Re­vo­lução de Abril. NATO que, contra o for­mal­mente acor­dado aquando do de­sa­pa­re­ci­mento da URSS, se alargou cons­tan­te­mente até às fron­teiras da Rússia e está já a cons­truir um braço asiá­tico com o ex­plí­cito pro­pó­sito de «conter» a China. NATO de que a União Eu­ro­peia se afirma cada vez mais des­ca­ra­da­mente como o seu «pilar eu­ropeu» e que, com o pre­texto de ex­cên­tricas de­cla­ra­ções de Trump e da «pre­pa­ração para um con­fronto com a Rússia» (que a falcão Ur­sula von der Leyen anuncia como pra­ti­ca­mente ine­vi­tável) está em­pe­nhada numa mi­li­ta­ri­zação sem pre­ce­dentes.

É par­ti­cu­lar­mente in­qui­e­tante que no dia em que, rom­pendo com a sua tra­di­ci­onal neu­tra­li­dade, a Suécia entra para a NATO, haja quem se atreva – como de modo nada ino­cente fez Ma­cron numa pe­ri­gosa fuga para di­ante face às di­fi­cul­dades no ter­reno – a pre­co­nizar o envio de tropas dos países oci­den­tais para a Ucrânia. Como in­qui­e­tante é que, fa­lando em nome do povo por­tu­guês, a pri­meira fi­gura do Es­tado tenha emi­tido uma de­cla­ração em que, sem uma pa­lavra sobre paz, afirma que «o lugar da Ucrânia é na União Eu­ro­peia» e apoia «a as­pi­ração da Ucrânia em aderir à NATO, es­pe­rando que esse mo­mento possa chegar em breve».

Nunca como neste tempo de ce­le­bração dos 50 anos da nossa Re­vo­lução li­ber­ta­dora foi tão ne­ces­sário zelar pelo cum­pri­mento da Cons­ti­tuição de Abril. Em todas as suas di­men­sões e par­ti­cu­lar­mente em re­lação à po­lí­tica de so­be­rania, paz e co­o­pe­ração que ela con­sagra. Calar os tam­bores da guerra é ta­refa fun­da­mental da hora pre­sente.

Avante!

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Calar os tambores da guerra

Albano NUNES

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O mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros e a mi­nistra da De­fesa têm es­tado muito ac­tivos no en­vol­vi­mento de Por­tugal na es­ca­lada mi­li­ta­rista do im­pe­ri­a­lismo. Fa­lando na vés­pera de mais uma reu­nião mi­nis­te­rial da União Eu­ro­peia vol­tada para a ins­ti­gação da guerra na Ucrânia, João Cra­vinho chegou mesmo a queixar-se de que na cam­panha para as elei­ções le­gis­la­tivas «nin­guém es­teja a falar da­quilo que é o mais im­por­tante, a de­gra­dação da ordem in­ter­na­ci­onal» (Lusa, 20.02.24).

É certo que as ques­tões de po­lí­tica ex­terna e de de­fesa na­ci­onal não têm tido na cam­panha o lugar que a sua im­por­tância jus­ti­fi­caria, tema que o PCP trata de­sen­vol­vi­da­mente no seu Pro­grama Elei­toral. Há porém fortes ra­zões para crer que aquilo de que Cra­vinho e ou­tros gos­ta­riam seria re­duzir ainda mais o de­bate sobre os reais pro­blemas dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País e apro­veitar a cam­panha elei­toral, não para pro­mover uma po­lí­tica ex­terna pa­trió­tica, de so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­onal, com­pro­me­tida com a luta pelo de­sar­ma­mento, a so­lução po­lí­tica dos con­flitos e a paz, mas de sub­missão na­ci­onal e de co­ni­vência com os fal­cões da guerra.

É muito pre­o­cu­pante que pe­rante a «de­gra­dação da ordem in­ter­na­ci­onal» pro­vo­cada pelo im­pe­ri­a­lismo e os enormes pe­rigos que com­porta, o Go­verno por­tu­guês faça letra morta de uma Cons­ti­tuição que obriga o Es­tado por­tu­guês à luta pela dis­so­lução dos blocos mi­li­tares, e por­tanto a pugnar não pelo de­men­cial re­forço e alar­ga­mento em curso, mas pela dis­so­lução da NATO.

NATO (não de­vemos nunca es­quecê-lo) que pro­tegeu o fas­cismo por­tu­guês quando o nazi-fas­cismo era der­ro­tado na II guerra mun­dial; de que Por­tugal foi membro fun­dador em 1949; que apoiou até ao úl­timo mo­mento as cri­mi­nosas guerras co­lo­niais; que chegou a ame­açar de in­ter­venção mi­litar a Re­vo­lução de Abril. NATO que, contra o for­mal­mente acor­dado aquando do de­sa­pa­re­ci­mento da URSS, se alargou cons­tan­te­mente até às fron­teiras da Rússia e está já a cons­truir um braço asiá­tico com o ex­plí­cito pro­pó­sito de «conter» a China. NATO de que a União Eu­ro­peia se afirma cada vez mais des­ca­ra­da­mente como o seu «pilar eu­ropeu» e que, com o pre­texto de ex­cên­tricas de­cla­ra­ções de Trump e da «pre­pa­ração para um con­fronto com a Rússia» (que a falcão Ur­sula von der Leyen anuncia como pra­ti­ca­mente ine­vi­tável) está em­pe­nhada numa mi­li­ta­ri­zação sem pre­ce­dentes.

É par­ti­cu­lar­mente in­qui­e­tante que no dia em que, rom­pendo com a sua tra­di­ci­onal neu­tra­li­dade, a Suécia entra para a NATO, haja quem se atreva – como de modo nada ino­cente fez Ma­cron numa pe­ri­gosa fuga para di­ante face às di­fi­cul­dades no ter­reno – a pre­co­nizar o envio de tropas dos países oci­den­tais para a Ucrânia. Como in­qui­e­tante é que, fa­lando em nome do povo por­tu­guês, a pri­meira fi­gura do Es­tado tenha emi­tido uma de­cla­ração em que, sem uma pa­lavra sobre paz, afirma que «o lugar da Ucrânia é na União Eu­ro­peia» e apoia «a as­pi­ração da Ucrânia em aderir à NATO, es­pe­rando que esse mo­mento possa chegar em breve».

Nunca como neste tempo de ce­le­bração dos 50 anos da nossa Re­vo­lução li­ber­ta­dora foi tão ne­ces­sário zelar pelo cum­pri­mento da Cons­ti­tuição de Abril. Em todas as suas di­men­sões e par­ti­cu­lar­mente em re­lação à po­lí­tica de so­be­rania, paz e co­o­pe­ração que ela con­sagra. Calar os tam­bores da guerra é ta­refa fun­da­mental da hora pre­sente.

Avante!