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Lucas Leiroz
December 25, 2023
© Photo: Public domain

Os reais culpados pela guerra estão entre os neonazistas de Kiev e seus patrocinadores em Washington.

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O atual conflito de grandes proporções na Ucrânia é, sem sombra de dúvidas, fruto direto do fracasso do chamado “Protocolo de Minsk” – conjunto de acordos assinados entre as repúblicas separatistas do Donbass e o governo ucraniano, mediados pela Federação Russa e pela União Europeia.

Em vez de encerrar o conflito ou alcançar um “congelamento” duradouro, o diálogo diplomático em Minsk teve como máximo ponto de sucesso uma leve diminuição na intensidade das hostilidades. A missão de “parar a guerra” nunca foi cumprida, tendo os confrontos nas regiões de maioria étnica russa se prolongado por longos oito anos até a intervenção de Moscou, em fevereiro de 2022.

Uma série de perguntas surgem a partir destas reflexões. Os motivos para o fracasso diplomático ainda não parecem totalmente esclarecidos ao público geral. Mas é preciso lembrar que, segundo a ex-chanceler alemã Angela Merkel, nunca teria havido realmente uma falha no cumprimento dos objetivos do Protocolo. Para ela, os Acordos sempre tiveram como real intuito apenas “dar tempo” à Ucrânia, viabilizando uma preparação de Kiev para o combate contra Moscou no futuro próximo.

A explicação dada por Merkel, se tomada por verdadeira, ajuda, de fato, a compreender as razões para a escalada da crise na Ucrânia. Se tudo não passou de um plano do Ocidente para treinar e armar Kiev, então teríamos em Minsk uma espécie de “Molotov-Ribbentrop 2.0” – i.e., um pacto com objetivo, não de alcançar a paz definitiva, mas de aliviar as tensões temporariamente e permitir o armamento e a preparação para a guerra de ambos os lados. Contudo, esta não parece ser a opinião de todos os que participaram do processo diplomático em 2014.

Recentemente, tive a oportunidade de atuar como correspondente na zona de conflito no Donbass. Em visita à República Popular de Lugansk, conversei com diversos líderes locais, incluindo políticos, oficiais de Estado e sindicalistas, podendo coletar dados valiosos e informações de campo indisponíveis a qualquer ocidental. Um destes encontros foi com o Ministro das Relações Exteriores de Lugansk, Vladislav Deinego, com quem tive uma longa e proveitosa conversa sobre assuntos relacionados à geopolítica mundial e à história recente da região.

Um dos pontos mais interessantes do vasto currículo de Deinego é sua participação como negociador durante o processo diplomático de Minsk. Na qualidade de representante das relações exteriores da República separatista, Vladislav esteve envolvido nas conversações com o lado ucraniano – mediadas por Rússia e Europa – e, com seu conhecimento de insider, o Ministro discorda veementemente da avaliação de Angela Merkel sobre a natureza do acordo.

Ele conta que os alemães e demais europeus estavam todos, assim como os russos, genuinamente interessados em alcançar a paz na Ucrânia. Isso porque a iminência de um conflito colocava em xeque toda a arquitetura regional de segurança, gerando instabilidade para todos os países do continente. Com as incursões das forças de Kiev nas regiões separatistas se tornando cada vez mais agressivas e profundas e correndo sério risco de aproximação das fronteiras da Federação Russa, a possibilidade de uma guerra total preocupava a todos àquela altura.

Foi com intenção genuína de alcançar a paz que os lados se sentaram à mesa de negociações e discutiram termos favoráveis a ambos os agentes beligerantes. Vladislav conta ainda que o processo fora antecedido por diversas tentativas fracassadas de se limitar a guerra e reduzir os combates para enfrentamentos com barreiras humanitárias sólidas. Por exemplo, Vladislav afirma que, esgotadas as possibilidades de se evitar o conflito, as Repúblicas propuseram a Kiev um acordo de banimento de armas de alto poder de letalidade (artilharia e aviação). O objetivo era poupar os civis do Donbass, mesmo em meio à inevitabilidade da guerra. O governo ucraniano, contudo, negou veementemente qualquer diálogo nesse sentido.

Posteriormente, uma nova proposta surgiu por parte dos separatistas: autorizar as armas pesadas apenas em um limite territorial específico, respeitando a distância em relação aos civis. Nesse modelo, quanto mais próximas às regiões civis, menor deveria ser o poder de letalidade das armas usadas pelos combatentes – o que limitaria o combate na “linha zero” ao atrito de infantaria. Por outro lado, quanto mais longe dos civis, mais pesadas poderiam ser as armas empregadas, havendo autorização para uso de artilharia em distâncias que não atingiriam os civis. Porém, Kiev rejeitou o acordo, optando pela guerra total e ilimitada.

Foi a própria insistência de Kiev pela guerra que aumentou o medo dos europeus por uma situação de beligerância descontrolada pelo continente – possivelmente envolvendo a Rússia. É importante lembrar que até o começo da operação militar especial em fevereiro de 2022, Rússia e Alemanha figuravam como importantíssimos parceiros estratégicos no cenário europeu, sendo Moscou a principal fornecedora de gás e petróleo para a Alemanha – e toda a Europa. Isso explica em grande parte as razões pelas quais Berlim engajou no processo de Minsk como a principal mediadora pelo lado ucraniano. Para os alemães, era fundamental evitar uma situação de guerra que prejudicasse suas relações com os russos, havendo, portanto, um grande esforço alemão em alcançar um acordo.

Por tudo isso, Vladislav é categórico: “Merkel mente”. O Protocolo de Minsk não foi, para o Ministro, uma grande conspiração ocidental para dar tempo à Ucrânia, mas o resultado dos esforços conjuntos de europeus e russos em evitar uma escalada militar. E isso nos traz uma série de reflexões sobre o real motivo do fracasso dos Acordos.

De fato, nunca houve respeito real ao Protocolo. Kiev continuou bombardeando o Donbass frequentemente e assassinando civis em seu projeto de “desrussificação” da Ucrânia. Certamente, houve uma diminuição significativa na intensidade dos combates, mas um cumprimento real dos Acordos nunca fora alcançado. Para Merkel, isso é prova de que a paz nunca foi um objetivo; mas, para Deinego, outro diplomata que, assim como Merkel, estava nos bastidores das negociações, isso é simplesmente a prova do fracasso europeu em perseguir seus próprios interesses.

A paz era um interesse europeu à época. Não havia sanções minando as relações russo-europeias e todos os lados tinham a ganhar com um diálogo estável e diplomático. Se Kiev foi encorajada a desrespeitar os Acordos de Minsk e tentar “retomar” o Donbass à força, então o agente fomentador do caos talvez estivesse fora do continente europeu.

É então que refletimos sobre o papel de Washington. Liderando a OTAN e mantendo uma relação abusiva e semicolonial com a União Europeia, os EUA são os culpados diretos pelo fracasso dos Acordos de Minsk e pelo agravamento da crise ucraniana. A guerra com a Rússia sempre esteve em interesse americano, não europeu. E uma Ucrânia fanatizada pelo ódio neonazista ao povo russo serviu perfeitamente a estes planos. Inaptos para engajar em um conflito direto, os EUA usaram a Ucrânia como proxy para declarar guerra a Moscou – sem sequer perguntar o que os europeus pensavam disso.

Por mais que os Acordos de Minsk pareçam de fato uma espécie de “pacto temporário” para “dar tempo” aos lados beligerantes, a opinião dos insiders é fundamental para esclarecer a real natureza do Protocolo. Na opinião de Deinego, o desejo de paz por parte de russos e europeus era real. Merkel talvez diga algo contrário para não transparecer a real dimensão da fraqueza diplomática alemã e europeia.

Os reais culpados pela guerra estão entre os neonazistas de Kiev e seus patrocinadores em Washington. Assim como a Rússia, a Europa é apenas uma vítima dos planos de guerra da OTAN – mas, diferentemente de Moscou, a União Europeia simplesmente aceitou de forma passiva e decidiu até mesmo apoiar as manobras americanas.

‘Merkel mente’: como a Europa foi enganada acerca dos Acordos de Minsk

Os reais culpados pela guerra estão entre os neonazistas de Kiev e seus patrocinadores em Washington.

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O atual conflito de grandes proporções na Ucrânia é, sem sombra de dúvidas, fruto direto do fracasso do chamado “Protocolo de Minsk” – conjunto de acordos assinados entre as repúblicas separatistas do Donbass e o governo ucraniano, mediados pela Federação Russa e pela União Europeia.

Em vez de encerrar o conflito ou alcançar um “congelamento” duradouro, o diálogo diplomático em Minsk teve como máximo ponto de sucesso uma leve diminuição na intensidade das hostilidades. A missão de “parar a guerra” nunca foi cumprida, tendo os confrontos nas regiões de maioria étnica russa se prolongado por longos oito anos até a intervenção de Moscou, em fevereiro de 2022.

Uma série de perguntas surgem a partir destas reflexões. Os motivos para o fracasso diplomático ainda não parecem totalmente esclarecidos ao público geral. Mas é preciso lembrar que, segundo a ex-chanceler alemã Angela Merkel, nunca teria havido realmente uma falha no cumprimento dos objetivos do Protocolo. Para ela, os Acordos sempre tiveram como real intuito apenas “dar tempo” à Ucrânia, viabilizando uma preparação de Kiev para o combate contra Moscou no futuro próximo.

A explicação dada por Merkel, se tomada por verdadeira, ajuda, de fato, a compreender as razões para a escalada da crise na Ucrânia. Se tudo não passou de um plano do Ocidente para treinar e armar Kiev, então teríamos em Minsk uma espécie de “Molotov-Ribbentrop 2.0” – i.e., um pacto com objetivo, não de alcançar a paz definitiva, mas de aliviar as tensões temporariamente e permitir o armamento e a preparação para a guerra de ambos os lados. Contudo, esta não parece ser a opinião de todos os que participaram do processo diplomático em 2014.

Recentemente, tive a oportunidade de atuar como correspondente na zona de conflito no Donbass. Em visita à República Popular de Lugansk, conversei com diversos líderes locais, incluindo políticos, oficiais de Estado e sindicalistas, podendo coletar dados valiosos e informações de campo indisponíveis a qualquer ocidental. Um destes encontros foi com o Ministro das Relações Exteriores de Lugansk, Vladislav Deinego, com quem tive uma longa e proveitosa conversa sobre assuntos relacionados à geopolítica mundial e à história recente da região.

Um dos pontos mais interessantes do vasto currículo de Deinego é sua participação como negociador durante o processo diplomático de Minsk. Na qualidade de representante das relações exteriores da República separatista, Vladislav esteve envolvido nas conversações com o lado ucraniano – mediadas por Rússia e Europa – e, com seu conhecimento de insider, o Ministro discorda veementemente da avaliação de Angela Merkel sobre a natureza do acordo.

Ele conta que os alemães e demais europeus estavam todos, assim como os russos, genuinamente interessados em alcançar a paz na Ucrânia. Isso porque a iminência de um conflito colocava em xeque toda a arquitetura regional de segurança, gerando instabilidade para todos os países do continente. Com as incursões das forças de Kiev nas regiões separatistas se tornando cada vez mais agressivas e profundas e correndo sério risco de aproximação das fronteiras da Federação Russa, a possibilidade de uma guerra total preocupava a todos àquela altura.

Foi com intenção genuína de alcançar a paz que os lados se sentaram à mesa de negociações e discutiram termos favoráveis a ambos os agentes beligerantes. Vladislav conta ainda que o processo fora antecedido por diversas tentativas fracassadas de se limitar a guerra e reduzir os combates para enfrentamentos com barreiras humanitárias sólidas. Por exemplo, Vladislav afirma que, esgotadas as possibilidades de se evitar o conflito, as Repúblicas propuseram a Kiev um acordo de banimento de armas de alto poder de letalidade (artilharia e aviação). O objetivo era poupar os civis do Donbass, mesmo em meio à inevitabilidade da guerra. O governo ucraniano, contudo, negou veementemente qualquer diálogo nesse sentido.

Posteriormente, uma nova proposta surgiu por parte dos separatistas: autorizar as armas pesadas apenas em um limite territorial específico, respeitando a distância em relação aos civis. Nesse modelo, quanto mais próximas às regiões civis, menor deveria ser o poder de letalidade das armas usadas pelos combatentes – o que limitaria o combate na “linha zero” ao atrito de infantaria. Por outro lado, quanto mais longe dos civis, mais pesadas poderiam ser as armas empregadas, havendo autorização para uso de artilharia em distâncias que não atingiriam os civis. Porém, Kiev rejeitou o acordo, optando pela guerra total e ilimitada.

Foi a própria insistência de Kiev pela guerra que aumentou o medo dos europeus por uma situação de beligerância descontrolada pelo continente – possivelmente envolvendo a Rússia. É importante lembrar que até o começo da operação militar especial em fevereiro de 2022, Rússia e Alemanha figuravam como importantíssimos parceiros estratégicos no cenário europeu, sendo Moscou a principal fornecedora de gás e petróleo para a Alemanha – e toda a Europa. Isso explica em grande parte as razões pelas quais Berlim engajou no processo de Minsk como a principal mediadora pelo lado ucraniano. Para os alemães, era fundamental evitar uma situação de guerra que prejudicasse suas relações com os russos, havendo, portanto, um grande esforço alemão em alcançar um acordo.

Por tudo isso, Vladislav é categórico: “Merkel mente”. O Protocolo de Minsk não foi, para o Ministro, uma grande conspiração ocidental para dar tempo à Ucrânia, mas o resultado dos esforços conjuntos de europeus e russos em evitar uma escalada militar. E isso nos traz uma série de reflexões sobre o real motivo do fracasso dos Acordos.

De fato, nunca houve respeito real ao Protocolo. Kiev continuou bombardeando o Donbass frequentemente e assassinando civis em seu projeto de “desrussificação” da Ucrânia. Certamente, houve uma diminuição significativa na intensidade dos combates, mas um cumprimento real dos Acordos nunca fora alcançado. Para Merkel, isso é prova de que a paz nunca foi um objetivo; mas, para Deinego, outro diplomata que, assim como Merkel, estava nos bastidores das negociações, isso é simplesmente a prova do fracasso europeu em perseguir seus próprios interesses.

A paz era um interesse europeu à época. Não havia sanções minando as relações russo-europeias e todos os lados tinham a ganhar com um diálogo estável e diplomático. Se Kiev foi encorajada a desrespeitar os Acordos de Minsk e tentar “retomar” o Donbass à força, então o agente fomentador do caos talvez estivesse fora do continente europeu.

É então que refletimos sobre o papel de Washington. Liderando a OTAN e mantendo uma relação abusiva e semicolonial com a União Europeia, os EUA são os culpados diretos pelo fracasso dos Acordos de Minsk e pelo agravamento da crise ucraniana. A guerra com a Rússia sempre esteve em interesse americano, não europeu. E uma Ucrânia fanatizada pelo ódio neonazista ao povo russo serviu perfeitamente a estes planos. Inaptos para engajar em um conflito direto, os EUA usaram a Ucrânia como proxy para declarar guerra a Moscou – sem sequer perguntar o que os europeus pensavam disso.

Por mais que os Acordos de Minsk pareçam de fato uma espécie de “pacto temporário” para “dar tempo” aos lados beligerantes, a opinião dos insiders é fundamental para esclarecer a real natureza do Protocolo. Na opinião de Deinego, o desejo de paz por parte de russos e europeus era real. Merkel talvez diga algo contrário para não transparecer a real dimensão da fraqueza diplomática alemã e europeia.

Os reais culpados pela guerra estão entre os neonazistas de Kiev e seus patrocinadores em Washington. Assim como a Rússia, a Europa é apenas uma vítima dos planos de guerra da OTAN – mas, diferentemente de Moscou, a União Europeia simplesmente aceitou de forma passiva e decidiu até mesmo apoiar as manobras americanas.

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O atual conflito de grandes proporções na Ucrânia é, sem sombra de dúvidas, fruto direto do fracasso do chamado “Protocolo de Minsk” – conjunto de acordos assinados entre as repúblicas separatistas do Donbass e o governo ucraniano, mediados pela Federação Russa e pela União Europeia.

Em vez de encerrar o conflito ou alcançar um “congelamento” duradouro, o diálogo diplomático em Minsk teve como máximo ponto de sucesso uma leve diminuição na intensidade das hostilidades. A missão de “parar a guerra” nunca foi cumprida, tendo os confrontos nas regiões de maioria étnica russa se prolongado por longos oito anos até a intervenção de Moscou, em fevereiro de 2022.

Uma série de perguntas surgem a partir destas reflexões. Os motivos para o fracasso diplomático ainda não parecem totalmente esclarecidos ao público geral. Mas é preciso lembrar que, segundo a ex-chanceler alemã Angela Merkel, nunca teria havido realmente uma falha no cumprimento dos objetivos do Protocolo. Para ela, os Acordos sempre tiveram como real intuito apenas “dar tempo” à Ucrânia, viabilizando uma preparação de Kiev para o combate contra Moscou no futuro próximo.

A explicação dada por Merkel, se tomada por verdadeira, ajuda, de fato, a compreender as razões para a escalada da crise na Ucrânia. Se tudo não passou de um plano do Ocidente para treinar e armar Kiev, então teríamos em Minsk uma espécie de “Molotov-Ribbentrop 2.0” – i.e., um pacto com objetivo, não de alcançar a paz definitiva, mas de aliviar as tensões temporariamente e permitir o armamento e a preparação para a guerra de ambos os lados. Contudo, esta não parece ser a opinião de todos os que participaram do processo diplomático em 2014.

Recentemente, tive a oportunidade de atuar como correspondente na zona de conflito no Donbass. Em visita à República Popular de Lugansk, conversei com diversos líderes locais, incluindo políticos, oficiais de Estado e sindicalistas, podendo coletar dados valiosos e informações de campo indisponíveis a qualquer ocidental. Um destes encontros foi com o Ministro das Relações Exteriores de Lugansk, Vladislav Deinego, com quem tive uma longa e proveitosa conversa sobre assuntos relacionados à geopolítica mundial e à história recente da região.

Um dos pontos mais interessantes do vasto currículo de Deinego é sua participação como negociador durante o processo diplomático de Minsk. Na qualidade de representante das relações exteriores da República separatista, Vladislav esteve envolvido nas conversações com o lado ucraniano – mediadas por Rússia e Europa – e, com seu conhecimento de insider, o Ministro discorda veementemente da avaliação de Angela Merkel sobre a natureza do acordo.

Ele conta que os alemães e demais europeus estavam todos, assim como os russos, genuinamente interessados em alcançar a paz na Ucrânia. Isso porque a iminência de um conflito colocava em xeque toda a arquitetura regional de segurança, gerando instabilidade para todos os países do continente. Com as incursões das forças de Kiev nas regiões separatistas se tornando cada vez mais agressivas e profundas e correndo sério risco de aproximação das fronteiras da Federação Russa, a possibilidade de uma guerra total preocupava a todos àquela altura.

Foi com intenção genuína de alcançar a paz que os lados se sentaram à mesa de negociações e discutiram termos favoráveis a ambos os agentes beligerantes. Vladislav conta ainda que o processo fora antecedido por diversas tentativas fracassadas de se limitar a guerra e reduzir os combates para enfrentamentos com barreiras humanitárias sólidas. Por exemplo, Vladislav afirma que, esgotadas as possibilidades de se evitar o conflito, as Repúblicas propuseram a Kiev um acordo de banimento de armas de alto poder de letalidade (artilharia e aviação). O objetivo era poupar os civis do Donbass, mesmo em meio à inevitabilidade da guerra. O governo ucraniano, contudo, negou veementemente qualquer diálogo nesse sentido.

Posteriormente, uma nova proposta surgiu por parte dos separatistas: autorizar as armas pesadas apenas em um limite territorial específico, respeitando a distância em relação aos civis. Nesse modelo, quanto mais próximas às regiões civis, menor deveria ser o poder de letalidade das armas usadas pelos combatentes – o que limitaria o combate na “linha zero” ao atrito de infantaria. Por outro lado, quanto mais longe dos civis, mais pesadas poderiam ser as armas empregadas, havendo autorização para uso de artilharia em distâncias que não atingiriam os civis. Porém, Kiev rejeitou o acordo, optando pela guerra total e ilimitada.

Foi a própria insistência de Kiev pela guerra que aumentou o medo dos europeus por uma situação de beligerância descontrolada pelo continente – possivelmente envolvendo a Rússia. É importante lembrar que até o começo da operação militar especial em fevereiro de 2022, Rússia e Alemanha figuravam como importantíssimos parceiros estratégicos no cenário europeu, sendo Moscou a principal fornecedora de gás e petróleo para a Alemanha – e toda a Europa. Isso explica em grande parte as razões pelas quais Berlim engajou no processo de Minsk como a principal mediadora pelo lado ucraniano. Para os alemães, era fundamental evitar uma situação de guerra que prejudicasse suas relações com os russos, havendo, portanto, um grande esforço alemão em alcançar um acordo.

Por tudo isso, Vladislav é categórico: “Merkel mente”. O Protocolo de Minsk não foi, para o Ministro, uma grande conspiração ocidental para dar tempo à Ucrânia, mas o resultado dos esforços conjuntos de europeus e russos em evitar uma escalada militar. E isso nos traz uma série de reflexões sobre o real motivo do fracasso dos Acordos.

De fato, nunca houve respeito real ao Protocolo. Kiev continuou bombardeando o Donbass frequentemente e assassinando civis em seu projeto de “desrussificação” da Ucrânia. Certamente, houve uma diminuição significativa na intensidade dos combates, mas um cumprimento real dos Acordos nunca fora alcançado. Para Merkel, isso é prova de que a paz nunca foi um objetivo; mas, para Deinego, outro diplomata que, assim como Merkel, estava nos bastidores das negociações, isso é simplesmente a prova do fracasso europeu em perseguir seus próprios interesses.

A paz era um interesse europeu à época. Não havia sanções minando as relações russo-europeias e todos os lados tinham a ganhar com um diálogo estável e diplomático. Se Kiev foi encorajada a desrespeitar os Acordos de Minsk e tentar “retomar” o Donbass à força, então o agente fomentador do caos talvez estivesse fora do continente europeu.

É então que refletimos sobre o papel de Washington. Liderando a OTAN e mantendo uma relação abusiva e semicolonial com a União Europeia, os EUA são os culpados diretos pelo fracasso dos Acordos de Minsk e pelo agravamento da crise ucraniana. A guerra com a Rússia sempre esteve em interesse americano, não europeu. E uma Ucrânia fanatizada pelo ódio neonazista ao povo russo serviu perfeitamente a estes planos. Inaptos para engajar em um conflito direto, os EUA usaram a Ucrânia como proxy para declarar guerra a Moscou – sem sequer perguntar o que os europeus pensavam disso.

Por mais que os Acordos de Minsk pareçam de fato uma espécie de “pacto temporário” para “dar tempo” aos lados beligerantes, a opinião dos insiders é fundamental para esclarecer a real natureza do Protocolo. Na opinião de Deinego, o desejo de paz por parte de russos e europeus era real. Merkel talvez diga algo contrário para não transparecer a real dimensão da fraqueza diplomática alemã e europeia.

Os reais culpados pela guerra estão entre os neonazistas de Kiev e seus patrocinadores em Washington. Assim como a Rússia, a Europa é apenas uma vítima dos planos de guerra da OTAN – mas, diferentemente de Moscou, a União Europeia simplesmente aceitou de forma passiva e decidiu até mesmo apoiar as manobras americanas.

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