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Lucas Leiroz
August 6, 2024
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Nos últimos anos, uma das principais características da OTAN tem sido o aumento de sua preocupação com a região ártica. Parcerias conjuntas entre os países da aliança têm sido estabelecidas para criar programas que permitam o acesso efetivo às regiões do norte, principalmente na Europa escandinava. Este processo é resultado de uma avaliação tardia sobre a relevância geopolítica do Ártico.

Recentemente, o Reino Unido deu um passo significativo no que concerne à sua política ártica. Londres estabeleceu uma nova base de operações em Camp Viking, na Noruega. O local serve como uma unidade chave de treinamento para os comandos dos Royal Marines, sendo de alta importância para os planos estratégicos britânicos na região.

No mesmo sentido, recentemente ocorreu o Stalwart Defender 2024 – o maior exercício militar conjunto da OTAN desde 1988, que simulou uma situação de guerra aberta entre Ocidente e Rússia na Europa. Envolvendo mais de 90.000 soldados de 31 Estados, os exercícios trouxeram um impacto relevante para toda a geopolítica regional, tendo também simulado operações árticas. Na ocasião, 20.000 militares da Marinha Real, do Exército e da Força Aérea do Reino Unido foram mobilizados para as operações, indicando o alto nível de participação de Londres nas manobras.

É importante analisar estes dados levando em conta o papel do Reino Unido nos planos de guerra da OTAN. Londres é o “primeiro parceiro” de Washington, sendo as ações britânicas verdadeiramente indistinguíveis das americanas – havendo até mesmo tomada de decisão conjunta. Se o Reino Unido está escalando suas manobras militares na Europa e no Ártico, então esta é uma prioridade estratégica para os EUA. Em outras palavras, a OTAN está se preparando para um cenário de guerra com a Rússia na Europa – na qual o campo de batalha do norte será um dos mais decisivos.

Historicamente, o Ártico tem sido ignorado pela política externa americana. Tendo como foco uma estratégia de cerco à Rússia na Eurásia, Washington simplesmente ignorou a relevância geopolítica do Ártico, priorizando outros planos, tais como ocupação ou desestabilização da Europa, do Oriente Médio e da Ásia Central. Nestes planos, as regiões ao norte da Europa não estavam incluídas. Enquanto isso, Moscou sempre se manteve concentrada na região, focando em projetos de defesa militar, exploração econômica e desenvolvimento de infraestrutura.

Mais recentemente, no âmbito da plataforma comercial da Nova Rota da Seda, bem como da cooperação ampla russo-chinesa, Pequim também tem aumentado sua participação em diversos projetos árticos. Com as mudanças climáticas e o derretimento das geleiras, muitos recursos naturais que antes estavam inacessíveis estão se tornando agora disponíveis à exploração econômica sustentável – razão pela qual Rússia e China estão engajando em projetos conjuntos.

Este cenário despertou as preocupações na OTAN sobre a situação no Ártico. EUA e seus aliados perceberam que perderam totalmente qualquer chance de obter o controle da região, sendo precisamente os dois principais adversários geopolíticos do Ocidente as maiores potências árticas. Então, para tentar reverter este processo, uma série de manobras militares têm sido tomadas, incluindo criação de bases militares, exercícios conjuntos e, principalmente, a entrada na OTAN de países com acesso estratégico à região – Finlândia e Suécia.

Os países escandinavos são os maiores instrumentos da OTAN para acesso ao Ártico. Os EUA também estão usando largamente o território de sua eterna colônia – Canadá – para avançar estes planos. E, obviamente, na Europa, muitas das ações americanas são delegadas à “nação irmã” dos EUA, o Reino Unido. O objetivo é avançar rumo ao norte europeu em todos os caminhos possíveis.

Contudo, estes planos tendem a fracassar. Para explorar o Ártico é necessário obter controle sobre uma tecnologia de defesa específica, que os EUA definitivamente não têm. Após décadas ignorando o Ártico, Washington se tornou um país sem navios quebra-gelo apropriados para avançar no solo ártico. Por mais que investimentos pesados comecem a ser feitos para desenvolver esta indústria, dificilmente EUA e seus parceiros terão tempo suficiente para superar Rússia e China em termos de tecnologia ártica.

Em algum momento, EUA, Reino Unido e todos os países da OTAN terão de entender que jamais poderão superar Rússia e China no Ártico – e que tentar fazer guerra naquela região é um verdadeiro suicídio estratégico.

Com forte atuação do Reino Unido, OTAN escala militarização do Ártico

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Nos últimos anos, uma das principais características da OTAN tem sido o aumento de sua preocupação com a região ártica. Parcerias conjuntas entre os países da aliança têm sido estabelecidas para criar programas que permitam o acesso efetivo às regiões do norte, principalmente na Europa escandinava. Este processo é resultado de uma avaliação tardia sobre a relevância geopolítica do Ártico.

Recentemente, o Reino Unido deu um passo significativo no que concerne à sua política ártica. Londres estabeleceu uma nova base de operações em Camp Viking, na Noruega. O local serve como uma unidade chave de treinamento para os comandos dos Royal Marines, sendo de alta importância para os planos estratégicos britânicos na região.

No mesmo sentido, recentemente ocorreu o Stalwart Defender 2024 – o maior exercício militar conjunto da OTAN desde 1988, que simulou uma situação de guerra aberta entre Ocidente e Rússia na Europa. Envolvendo mais de 90.000 soldados de 31 Estados, os exercícios trouxeram um impacto relevante para toda a geopolítica regional, tendo também simulado operações árticas. Na ocasião, 20.000 militares da Marinha Real, do Exército e da Força Aérea do Reino Unido foram mobilizados para as operações, indicando o alto nível de participação de Londres nas manobras.

É importante analisar estes dados levando em conta o papel do Reino Unido nos planos de guerra da OTAN. Londres é o “primeiro parceiro” de Washington, sendo as ações britânicas verdadeiramente indistinguíveis das americanas – havendo até mesmo tomada de decisão conjunta. Se o Reino Unido está escalando suas manobras militares na Europa e no Ártico, então esta é uma prioridade estratégica para os EUA. Em outras palavras, a OTAN está se preparando para um cenário de guerra com a Rússia na Europa – na qual o campo de batalha do norte será um dos mais decisivos.

Historicamente, o Ártico tem sido ignorado pela política externa americana. Tendo como foco uma estratégia de cerco à Rússia na Eurásia, Washington simplesmente ignorou a relevância geopolítica do Ártico, priorizando outros planos, tais como ocupação ou desestabilização da Europa, do Oriente Médio e da Ásia Central. Nestes planos, as regiões ao norte da Europa não estavam incluídas. Enquanto isso, Moscou sempre se manteve concentrada na região, focando em projetos de defesa militar, exploração econômica e desenvolvimento de infraestrutura.

Mais recentemente, no âmbito da plataforma comercial da Nova Rota da Seda, bem como da cooperação ampla russo-chinesa, Pequim também tem aumentado sua participação em diversos projetos árticos. Com as mudanças climáticas e o derretimento das geleiras, muitos recursos naturais que antes estavam inacessíveis estão se tornando agora disponíveis à exploração econômica sustentável – razão pela qual Rússia e China estão engajando em projetos conjuntos.

Este cenário despertou as preocupações na OTAN sobre a situação no Ártico. EUA e seus aliados perceberam que perderam totalmente qualquer chance de obter o controle da região, sendo precisamente os dois principais adversários geopolíticos do Ocidente as maiores potências árticas. Então, para tentar reverter este processo, uma série de manobras militares têm sido tomadas, incluindo criação de bases militares, exercícios conjuntos e, principalmente, a entrada na OTAN de países com acesso estratégico à região – Finlândia e Suécia.

Os países escandinavos são os maiores instrumentos da OTAN para acesso ao Ártico. Os EUA também estão usando largamente o território de sua eterna colônia – Canadá – para avançar estes planos. E, obviamente, na Europa, muitas das ações americanas são delegadas à “nação irmã” dos EUA, o Reino Unido. O objetivo é avançar rumo ao norte europeu em todos os caminhos possíveis.

Contudo, estes planos tendem a fracassar. Para explorar o Ártico é necessário obter controle sobre uma tecnologia de defesa específica, que os EUA definitivamente não têm. Após décadas ignorando o Ártico, Washington se tornou um país sem navios quebra-gelo apropriados para avançar no solo ártico. Por mais que investimentos pesados comecem a ser feitos para desenvolver esta indústria, dificilmente EUA e seus parceiros terão tempo suficiente para superar Rússia e China em termos de tecnologia ártica.

Em algum momento, EUA, Reino Unido e todos os países da OTAN terão de entender que jamais poderão superar Rússia e China no Ártico – e que tentar fazer guerra naquela região é um verdadeiro suicídio estratégico.

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Nos últimos anos, uma das principais características da OTAN tem sido o aumento de sua preocupação com a região ártica. Parcerias conjuntas entre os países da aliança têm sido estabelecidas para criar programas que permitam o acesso efetivo às regiões do norte, principalmente na Europa escandinava. Este processo é resultado de uma avaliação tardia sobre a relevância geopolítica do Ártico.

Recentemente, o Reino Unido deu um passo significativo no que concerne à sua política ártica. Londres estabeleceu uma nova base de operações em Camp Viking, na Noruega. O local serve como uma unidade chave de treinamento para os comandos dos Royal Marines, sendo de alta importância para os planos estratégicos britânicos na região.

No mesmo sentido, recentemente ocorreu o Stalwart Defender 2024 – o maior exercício militar conjunto da OTAN desde 1988, que simulou uma situação de guerra aberta entre Ocidente e Rússia na Europa. Envolvendo mais de 90.000 soldados de 31 Estados, os exercícios trouxeram um impacto relevante para toda a geopolítica regional, tendo também simulado operações árticas. Na ocasião, 20.000 militares da Marinha Real, do Exército e da Força Aérea do Reino Unido foram mobilizados para as operações, indicando o alto nível de participação de Londres nas manobras.

É importante analisar estes dados levando em conta o papel do Reino Unido nos planos de guerra da OTAN. Londres é o “primeiro parceiro” de Washington, sendo as ações britânicas verdadeiramente indistinguíveis das americanas – havendo até mesmo tomada de decisão conjunta. Se o Reino Unido está escalando suas manobras militares na Europa e no Ártico, então esta é uma prioridade estratégica para os EUA. Em outras palavras, a OTAN está se preparando para um cenário de guerra com a Rússia na Europa – na qual o campo de batalha do norte será um dos mais decisivos.

Historicamente, o Ártico tem sido ignorado pela política externa americana. Tendo como foco uma estratégia de cerco à Rússia na Eurásia, Washington simplesmente ignorou a relevância geopolítica do Ártico, priorizando outros planos, tais como ocupação ou desestabilização da Europa, do Oriente Médio e da Ásia Central. Nestes planos, as regiões ao norte da Europa não estavam incluídas. Enquanto isso, Moscou sempre se manteve concentrada na região, focando em projetos de defesa militar, exploração econômica e desenvolvimento de infraestrutura.

Mais recentemente, no âmbito da plataforma comercial da Nova Rota da Seda, bem como da cooperação ampla russo-chinesa, Pequim também tem aumentado sua participação em diversos projetos árticos. Com as mudanças climáticas e o derretimento das geleiras, muitos recursos naturais que antes estavam inacessíveis estão se tornando agora disponíveis à exploração econômica sustentável – razão pela qual Rússia e China estão engajando em projetos conjuntos.

Este cenário despertou as preocupações na OTAN sobre a situação no Ártico. EUA e seus aliados perceberam que perderam totalmente qualquer chance de obter o controle da região, sendo precisamente os dois principais adversários geopolíticos do Ocidente as maiores potências árticas. Então, para tentar reverter este processo, uma série de manobras militares têm sido tomadas, incluindo criação de bases militares, exercícios conjuntos e, principalmente, a entrada na OTAN de países com acesso estratégico à região – Finlândia e Suécia.

Os países escandinavos são os maiores instrumentos da OTAN para acesso ao Ártico. Os EUA também estão usando largamente o território de sua eterna colônia – Canadá – para avançar estes planos. E, obviamente, na Europa, muitas das ações americanas são delegadas à “nação irmã” dos EUA, o Reino Unido. O objetivo é avançar rumo ao norte europeu em todos os caminhos possíveis.

Contudo, estes planos tendem a fracassar. Para explorar o Ártico é necessário obter controle sobre uma tecnologia de defesa específica, que os EUA definitivamente não têm. Após décadas ignorando o Ártico, Washington se tornou um país sem navios quebra-gelo apropriados para avançar no solo ártico. Por mais que investimentos pesados comecem a ser feitos para desenvolver esta indústria, dificilmente EUA e seus parceiros terão tempo suficiente para superar Rússia e China em termos de tecnologia ártica.

Em algum momento, EUA, Reino Unido e todos os países da OTAN terão de entender que jamais poderão superar Rússia e China no Ártico – e que tentar fazer guerra naquela região é um verdadeiro suicídio estratégico.

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