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As histórias de que os norte-coreanos passam fome, vivem na miséria, são obrigados a vestir as mesmas roupas e usar os mesmos cortes de cabelo e não podem se deslocar livremente são definitivamente refutadas por todas as pessoas honestas que visitam o país.
Pyongyang é uma cidade absolutamente limpa, que honra o estereótipo dos asiáticos, extremamente organizados. Todas as sextas-feiras os estudantes cortam e podem as árvores e plantas, deixando os numerosos jardins da capital perfeitamente modelados.
Não se vê nem um mísero cidadão deitado na calçada, dormindo ou pedindo esmola. Nem mesmo nas passagens subterrâneas, como as que existem em cidades da Rússia, por exemplo, para os pedestres atravessarem as ruas sem se preocupar com os carros.
Poder-se-ia dizer que a polícia não deixa os marginais abordarem os transeuntes, mas se vê poucos policiais nas ruas da capital. Em qualquer urbe brasileira é ostensivo o policiamento, com homens armados até os dentes, fardados como robocops e montando cavalos. Em Pyongyang não há nada disso. A pobreza não é reprimida pela polícia, porque não existe nem pobreza nem polícia – existem os guardas de trânsito e os agentes civis, que podem ser considerados policiais em uma analogia com as forças de segurança de outros países, mas que agem meramente como fiscalizadores que não interferem em nada na liberdade dos cidadãos, até porque não parece haver muitas desordens que mereçam intervenção.
Pessoas andando para lá e para cá, indo ou voltando do trabalho, da escola ou da faculdade. Falando ao celular, jogando videogame ou vendo vídeos. Ouvindo música com seu fone de ouvido sem fio. Calçando sapatos sociais ou tênis. De camisa social ou camiseta esportiva. Os que trabalham ou estudam costumam estar uniformizados, mas muitos estão à paisana. Carecas, calvos, recos, com franja, topete, geralmente cortes tradicionais mas modernizados, mais longos ou mais curtos do que de costume.
Um garoto vestindo uma camiseta da Nike. Homens e mulheres de óculos escuros entrando e saindo da estação Triunfo do metrô em um dia ensolarado de primavera. Os pontos de ônibus começam a encher, pois muita gente já está terminando o expediente. Os quiosques (muitos privados), que se espalham às centenas por toda a cidade, também se enchem de pessoas querendo comer doces, salgados, sorvetes, comprar flores ou outros produtos. Há também clientes visitando as lojas de roupas, de eletrônicos, de conveniência ou os supermercados, centros comerciais, shoppings, lanchonetes, bares e restaurantes que ficam embaixo dos prédios residenciais. Homens e mulheres passeando com seus cãezinhos, outros fumando – como fumam os homens na Coreia do Norte!
Assim como em Pequim, há banheiros públicos nas ruas. Mas, ao contrário dos “banheiros” públicos que existem no Brasil, não são químicos, não são feitos de plástico e não são móveis. São banheiros de verdade e decentes.
Um membro importante da prestigiada Associação de Cientistas Sociais, que acabara de fazer uma reunião com a minha delegação, termina o seu expediente na noite de domingo (ao contrário da maioria dos coreanos, este teve de trabalhar no domingo), sai do hotel e vai para o ponto de ônibus tomar o transporte público para voltar para casa. Um outro, chamado Kang, que trabalha no Departamento da América Latina da mesma Associação, vai pegar o metrô: ele mora a 15 minutos a pé da estação mais próxima.
De fato, o transporte público é o principal meio de deslocamento, e, tendo visto muitas filas nos pontos de ônibus nos horários de pico, será preciso aumentar a frota de ônibus. Mas o que surpreenderia qualquer pessoa que já ouviu falar das ruas vazias da capital é a sua quantidade de carros. Provavelmente nunca houve tantos carros em Pyongyang, e arrisco dizer que há o dobro do que havia antes da pandemia de Covid-19.
Vi Mercedes, BMW’s, Volkswagen’s, mas também carros de marcas nacionais, principalmente da Pyeonghwa. E são carros que não ficam atrás das marcas americanas, europeias, japonesas ou sul-coreanas. Sobretudo, são muitos os carros de última geração. Obviamente, ainda existem os modelos da década de 70 ou 80, mas a impressão é que a frota atual é composta por mais carros das décadas de 2010 e 2020 do que do século passado.
Como o acesso ao mercado internacional é bloqueado, são poucos os carros de marcas chinesas ou ocidentais. Contudo, devido ao enorme desenvolvimento industrial da segunda metade do século XX, a República Popular Democrática da Coreia tem capacidade de produzir seus próprios veículos. Mas a produção ainda não é massiva, por todas as dificuldades provenientes do bloqueio total imposto pelos EUA e seus satélites.
Assim, o principal meio de aquisição de um veículo não é pela sua compra, mas sim pela conquista, como um prêmio aos cidadãos que se destacam pelos seus serviços prestados à nação e ao povo coreano. Atletas de renome, por exemplo, frequentemente recebem um carro como prêmio pelos seus méritos. Ou cientistas que desenvolveram a capacidade nuclear do país. Algo semelhante ao que ocorre com a distribuição dos melhores apartamentos recém-construídos – embora essa distribuição seja muito mais ampla do que aquela.
Quando o farol está fechado para os carros, formam-se filas que, embora não se comparem às das cidades ocidentais, surpreendem os espectadores dos meios de propaganda do imperialismo. São muitos os táxis que circulam por Pyongyang. Em toda a fileira de carros há pelo menos um táxi. Em toda rua com movimento há táxis.
Os apartamentos novos já estão sendo ocupados pelos moradores. Geralmente os apartamentos e casas construídos pelo governo são destinados a pessoas que tiveram sua moradia destruída ou danificada por desastres naturais (o que é comum no interior do país) ou a pessoas que vivem em habitações compartilhadas por mais de uma família.
Há bairros inteiros destinados aos cientistas, aos professores, aos acadêmicos, aos técnicos. Mas também há aqueles, tão modernos quanto, destinados a um público misto, onde convivem todos os tipos de trabalhadores. Um dos mais recentemente inaugurados é o bairro Hwasong, com apartamentos e casas de dar inveja à classe média mais enriquecida dos países capitalistas – e eles foram construídos para abrigar operários de fábricas!
A propaganda imperialista diz que Pyongyang na verdade é uma cidade fantasma. Que os seus prédios são vazios, servem apenas para enganar os turistas. Só os mais ignorantes podem cair numa mentira dessas. Os prédios estão cheios. Os que acabam de ser inaugurados, obviamente, ainda não foram ocupados totalmente, mas já é possível ver pela janela as plantas que todos os coreanos colocam para receberem sol, bem como os retratos de Kim Il Sung e Kim Jong Il nas paredes dos apartamentos. Assim como donas de casa nas varandas. Seriam atrizes?
É claro que Pyongyang é a cidade mais desenvolvida do país. Em todos os países do mundo a capital é a vitrine para os estrangeiros. Mas as outras cidades também são equipadas com condomínios de casas ou prédios, com parquinhos e praças, com escolas, hospitais, teatros e cinemas. O governo já começou a aplicar um novo programa, que promete ser um dos mais revolucionários da história do país: o plano de desenvolvimento econômico 20×10, que pretende modernizar 20 cidades a cada ano nos próximos dez anos, a fim de reduzir a distância entre as cidades do interior e a capital.
As novas relações que a RPDC está estabelecendo com a Rússia e com a China, que já levam ao intenso intercâmbio governamental e mesmo de cidadãos (mais de 800 coreanos entraram na Rússia em 2024, para trabalho ou estudo), tendem a possibilitar um crescimento econômico que, mesmo que o bloqueio imperialista permaneça, permitirá o pleno cumprimento da meta governamental, bem como o avanço tecnológico e a popularização do consumo.